Filhos de francesa sedada pelo marido para estupro de desconhecidos pedem ao pai para 'dizer a verdade'

Os três filhos de Gisèle Pelicot, David, Florian e Caroline, depuseram nesta segunda-feira (18) no julgamento do pai, Dominique Pelicot, acusado de sedar sua esposa para que outros homens a estuprassem. Os últimos dois homens dos 51 réus acusados de participar dos estupros também foram ouvidos pelo tribunal.

Os filhos de Gisèle e Dominique falaram diretamente com o pai e imploraram para que dissesse a verdade sobre questões ainda não elucidadas do caso.

"Para mim, (este julgamento dos estupros) é o julgamento de uma família inteira, que foi totalmente destruída", afirmou, em tom firme, o mais velho dos irmãos, David, 50 anos, diante do Tribunal Criminal de Vaucluse, em Avignon, no sul da França. "É muito complicado explicar aos seus filhos que eles não voltarão a ver o avô", disse.

Mas "a minha família quer e continuará a lutar e, acima de tudo, espera que no futuro possamos apagar, fazer desaparecer das nossas mentes o homem que está à minha esquerda", disse David, referindo-se ao pai como "este senhor".

"O que espero deste julgamento (...) é que estes homens que estão atrás de mim (os réus), este homem neste lugar cercado, sejam punidos pelos horrores e atrocidades que cometeram contra a minha mãe", insistiu David, antes de se dirigir ao pai diretamente.

"Se você ainda tem um pouco de humanidade, ouviu? (Gostaria) que você contasse a verdade sobre o que fez com minha irmã, que sofre todos os dias e que sofrerá a vida toda, porque acho que você nunca vai dizer a verdade", disse.

"E sobre meu filho também", acrescentou, se referindo a uma ocasião em que Dominique Pelicot pediu a um de seus netos para "brincar de médico".

"Você disse (de Gisèle) que ela era uma santa, mas você era o próprio diabo", disse Florian ao pai. Para o mais novo dos irmãos, de 38 anos, "este julgamento envolve a responsabilidade de todos. É assumir responsabilidades. Mas para isso é preciso falar a verdade".

Além das possíveis agressões sexuais à irmã Caroline pelo pai, Florian também questionou sua própria filiação e disse que pretendia fazer um teste de paternidade, "para saber se meu pai é realmente meu pai". "Hoje não sei quem é esse homem", concluiu.

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A grande esquecida do julgamento

A filha mais velha, que já havia deposto anteriormente, se apresentou como "a grande esquecida" do julgamento. "Gisèle foi estuprada sob submissão química, mas a única diferença entre mim e ela é a falta de provas a meu respeito. É uma tragédia absoluta", explicou Caroline Darian.

Em outubro de 2020, os três filhos do casal descobriram que a mãe vinha sofrendo estupros havia uma década, organizados pelo pai, que a sedava com ansiolíticos para oferecê-la a dezenas de homens que conhecia na internet.

Nos arquivos cuidadosamente armazenados no computador de Dominique Pelicot, os investigadores também descobriram imagens de Caroline nua, registradas sem seu conhecimento. Em algumas fotos, ela aparece dormindo, vestindo roupas íntimas da mãe. Ela acredita que também foi drogada e estuprada pelo pai. Fatos que ele insistiu em negar na segunda-feira.

"Esse será um dos meus objetivos, fazê-lo falar sobre isso e dizer a verdade", disse à AFP Béatrice Zavarro, advogada de Dominique Pelicot, nesta segunda-feira. Ele e Gisèle serão interrogados pela última vez na terça-feira (19).

Na quarta-feira (20) terá início a fase de argumentações finais dos advogados, que começará, como determina a lei, pelos defensores dos denunciantes, ou seja, Gisèle Pelicot, seus três filhos, as duas noras e alguns netos. Depois será a vez dos dois promotores do caso se pronunciarem, o que deve durar dois dias, em princípio na quinta (21) e sexta-feira (22).

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A partir de 25 de novembro, será a vez dos advogados dos 51 acusados, que têm idades de 26 a 74 anos, tentarem reduzir a pena de seus clientes. A intervenção final será de Béatrice Zavarro, advogada de Dominique Pelicot. Esta fase do julgamento deve durar três semanas.

O veredicto é esperado para 20 de dezembro.