Joildo Santos

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Opinião

A importância dos dados do Censo para políticas públicas e favelas

O Censo 2022 do IBGE estimou que Paraisópolis tem 58.527 habitantes, o que representaria um crescimento de apenas 2.828 pessoas em 12 anos. Para quem vive ou trabalha na comunidade, esses números estão longe da realidade: estimativas locais apontam que a população já ultrapassou 100 mil habitantes há anos. Esse dado, no entanto, não é apenas impreciso - ele tem impactos graves sobre políticas públicas, campanhas sociais, pesquisas de mercado e investimentos privados.

Contar cada morador é muito mais do que uma obrigação técnica; é uma responsabilidade social. Em comunidades como Paraisópolis, as necessidades de saúde, educação, transporte e habitação dependem de dados confiáveis. Com subcontagens crônicas, milhares de moradores ficam invisíveis para o planejamento público, resultando em escolas insuficientes, postos de saúde lotados e serviços básicos ineficazes.

A questão não se restringe ao setor público. Dados populacionais também influenciam decisões políticas e eleitorais. Campanhas que desejam dialogar com as favelas precisam entender suas demandas e identificar prioridades locais. A falta de um retrato fiel distorce debates e compromete a representatividade. Sem dados reais, as lideranças das favelas têm menos poder para exigir mudanças, e os eleitores dessas comunidades continuam sendo tratados como números secundários.

No setor privado, a subcontagem representa uma oportunidade desperdiçada. Paraisópolis, por exemplo, movimenta milhões de reais por ano com seu empreendedorismo vibrante. Contudo, a ausência de dados confiáveis leva empresas a subestimar seu potencial econômico. Sem informações precisas sobre o perfil de consumo, produtos e serviços deixam de ser desenhados para atender às necessidades reais dessas comunidades, o que limita o impacto de campanhas de marketing e inibe investimentos.

A mesma lógica se aplica a campanhas sociais e de conscientização. Sem conhecer a real dimensão e perfil das favelas, ações educativas ou de saúde pública perdem alcance e precisão. Campanhas bem-sucedidas dependem de dados para identificar o público certo, planejar mensagens eficazes e avaliar resultados concretos. Sem isso, o impacto torna-se difícil de mensurar, e os recursos acabam sendo utilizados de forma menos estratégica.

Felizmente, institutos especializados vêm preenchendo essa lacuna. Organizações como o Instituto Crias - do qual sou fundador, têm se dedicado a mapear as favelas com metodologias adaptadas à sua realidade. Coletamos informações diretamente nos territórios, ouvindo moradores e trazendo à tona dados que ajudam a revelar o verdadeiro potencial econômico, social e cultural das favelas brasileiras.

Essas iniciativas também abrem caminhos para o setor privado criar estratégias mais eficazes e alinhadas aos interesses locais. Empresas que utilizam esses dados conseguem lançar produtos que atendem às demandas reais, enquanto campanhas publicitárias tornam-se mais conectadas às comunidades. Quando uma marca compreende o comportamento e as preferências de consumo das favelas, ela não apenas ganha em vendas, mas também constrói relações duradouras com esse público.

Para o IBGE, o desafio é adotar metodologias mais robustas e inclusivas. A parceria com institutos que já atuam nas favelas pode ser um caminho para superar as limitações atuais. Apenas com dados completos e representativos é possível garantir que as favelas deixem de ser vistas como territórios à margem e sejam tratadas como parte integral do Brasil.

A precisão nos dados é a base para a construção de políticas mais justas, campanhas mais impactantes e investimentos que realmente façam a diferença. Paraisópolis, assim como outras favelas, não é uma exceção: é um território rico, pulsante e com enorme potencial. Mas para que isso seja reconhecido, é fundamental contar cada morador, entender suas necessidades e dar voz à sua realidade. Somente assim será possível construir um país mais inclusivo, onde cada cidadão seja de fato visível e valorizado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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