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Caminho de Santiago: mulheres denunciam abusos sexuais 'endêmicos' e temor pela vida

RFI

18/11/2024 14h46

Esta peregrinação cristã demanda a seus participantes um grande esforço físico e mental. Para as mulheres que decidem fazer "o Caminho" sozinhas, o desafio é ainda maior porque devem se preocupar com sua própria segurança. Segundo representantes de um grupo de peregrinas entrevistadas pelo The Guardian, a violência no trajeto é "endêmica". O jornal britânico publicou, em 11 de novembro, o testemunho de nove mulheres denunciando agressões sexuais sofridas na peregrinação.

Esta peregrinação cristã demanda a seus participantes um grande esforço físico e mental. Para as mulheres que decidem fazer "o Caminho" sozinhas, o desafio é ainda maior porque devem se preocupar com sua própria segurança.

Segundo representantes de um grupo de peregrinas entrevistadas pelo The Guardian, a violência no trajeto é "endêmica". O jornal britânico publicou, em 11 de novembro, o testemunho de nove mulheres denunciando agressões sexuais sofridas na peregrinação.

De acordo com a crença cristã, "o Caminho" seria a rota feita pelo apóstolo Tiago, após a crucificação de Jesus, para pregar o evangelho na Península Ibérica. Os peregrinos partem de diferentes pontos, na França, Portugal e Espanha, para chegar à sepultura de São Tiago Maior, na cidade de Santiago de Compostela, na Galícia.

Os testemunhos recolhidos pelo The Guardian são de mulheres que fizeram a peregrinação nos últimos cinco anos e foram agredidas quando atravessavam partes quase desertas em zonas rurais. Algumas contam que "temeram por suas vidas".

Sete das entrevistadas disseram ter encontrado homens na Espanha e em Portugal que se masturbaram diante delas. Um deles perseguiu uma das peregrinas, que conseguir escapar.

Outra mulher disse que sofreu apalpações indesejadas e comentários obscenos de vários homens, enquanto outra entrevistada afirmou que um homem insistiu para que ela entrasse em seu veículo.

Lorena Gaibor, fundadora do grupo Facebook para peregrinas Camigas, declarou ao The Guardian que as agressões sexuais são "muito comuns". "Todo ano, recebemos testemunhos de mulheres que sofreram as mesmas coisas", afirmou.

Ela lamenta que a falta de segurança seja um elemento suplementar enfrentado pelas mulheres, que afeta a capacidade de superar outros desafios ou de aproveitar a paisagem e a atmosfera de espiritualidade durante o caminho.

Casos de violência

Os perigos enfrentados pelas mulheres que fazem o Caminho de Santiago não são uma novidade. Em 2015, um espanhol assassinou uma americana de 40 anos, após atraí-la para sua casa, usando falsas placas de sinalização. Em 2019, a polícia de Portugal prendeu um homem de 78 anos acusado de rapto e tentativa de estupro de uma alemã em 2023. Um homem de 48 anos, acusado de sequestrar e agredir sexualmente outra peregrina alemã de 24 anos, também foi detido.

Entretanto, os riscos não desestimulam as peregrinas. Nos últimos anos, a popularidade das várias rotas, que percorrem não somente Espanha, mas França e Portugal, aumentou, especialmente entre as mulheres. Em 2023, 446 mil pessoas percorreram o caminho, um recorde, 53% delas mulheres, segundo Pedro Blanco, representante do governo espanhol na região da Galícia.

Anualmente, milhares de brasileiros desembarcam na Europa para fazer o Caminho de Santiago, popularizado pelo escritor Paulo Coelho. Em 2023, 6.250 peregrinos vindos do Brasil percorreram algum de seus diferentes trechos.

O governo regional da Galícia afirmou ao jornal espanhol La Vanguardia que o Caminho de Santiago é "um lugar seguro" e que estes casos são "absolutamente marginais", tendo em conta que "mais de 200 mil mulheres" fizeram a rota apenas no ano passado.

Em 2021, a Galícia lançou uma campanha de segurança para informar as mulheres sobre como entrar em contato com os serviços de emergência. O patrulhamento no caminho também teria sido reforçado para combater esses incidentes.

Porém, a campanha "No camines sola" (Não caminhe sozinha), do governo da região de Galícia, foi criticada por muitas mulheres. Nas redes sociais, muitas usuárias condenaram o slogan, que responsabiliza as mulheres ao dizer a elas para não fazerem o Caminho sozinhas, e não faz referência a penas para os agressores.

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