Ex-chanceler alemã Angela Merkel defende legado político em livro de memórias
Quase três anos após deixar o governo, depois de 16 anos no comando da Alemanha, a ex-chanceler Angela Merkel está em destaque em vários jornais nesta terça-feira (26). O motivo é o lançamento de seu livro de memórias intitulado "Liberdade" ("Freiheit: Erinnerungen 1954-2021") em seu país e em mais de 30 outros, que é considerado o evento editorial do ano na Alemanha.
A ex-chanceler é hoje criticada por ter deixado a Alemanha perigosamente dependente do gás russo barato e por ter supostamente contribuído para o crescimento da extrema direita, parte do espectro político global que costuma instrumentalizar de maneira feroz com o debate com relação aos migrantes, cuja presença ela não impediu sobre o solo alemão em 2015, mantendo as fronteiras abertas.
Ausente da cena mundial desde que deixou o poder no final de 2021, Angela Merkel volta a se manifestar em um momento marcado pelas guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, pelo possível retorno de Donald Trump à Casa Branca, e pela campanha eleitoral na Alemanha com vistas às eleições legislativas antecipadas em fevereiro.
Curiosidades sobre seus anos no poder
Angela Merkel narra em pouco mais de 700 páginas suas duas vidas: a primeira, na República Democrática Alemã comunista até a queda do Muro de Berlim - ela tinha 35 anos em 1989 - e a segunda, como política na Alemanha reunificada, até deixar o poder em dezembro de 2021.
Merkel, que completou 70 anos, não traz grandes revelações em suas memórias. A primeira parte, sobre a antiga RDA, oferece uma visão sobre um sistema que já não existe, mas explica o processo de socialização da ex-chanceler.
Com um estilo pouco exuberante, a autora oferece muitos detalhes, frequentemente já conhecidos, e defende seu legado em relação às decisões mais criticadas. Um exemplo é sua política migratória de 2015, quando decidiu não fechar as fronteiras alemãs, uma decisão que marcou tanto sua trajetória quanto a do país até hoje.
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Quanto ao crescimento do partido de extrema-direita alemão AfD, Merkel alerta os partidos democráticos: se eles "acreditarem que podem conter o avanço do AfD adotando incessantemente seus temas ou até exagerando na retórica, sem oferecer soluções concretas para os problemas existentes, será um fracasso".
Putin e a Ucrânia
Em suas memórias, nenhum outro líder é tão criticado quanto o presidente russo, Vladimir Putin, que Merkel descreve como "um homem perpetuamente em alerta, temendo ser maltratado e sempre pronto a atacar, inclusive exercendo poder com gestos simbólicos, como usar um cão para intimidar ou fazer os outros esperarem".
Apesar disso, ela afirma que "continua a acreditar" que, "apesar de todas as dificuldades, fez bem em insistir para não romper os contatos com a Rússia e preservar também os laços por meio das relações comerciais, além dos benefícios econômicos mútuos".
Merkel ressalta que "a Rússia é, ao lado dos Estados Unidos, uma das duas principais potências nucleares do mundo", e que é vizinha da Europa.
Turnê internacional com presença de Obama
Ela também defende sua oposição à adesão da Ucrânia à Otan durante a cúpula de Bucareste em 2008, argumentando que seria ilusório pensar que o status de candidata teria protegido o país contra a agressão de Putin.
Angela Merkel apresentará seu livro, mantido em total sigilo até agora, na noite desta terça-feira em um teatro em Berlim. Depois disso, fará uma turnê internacional, incluindo uma apresentação em Washington ao lado de Barack Obama.
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Quero receber(Com informações de Pascal Thibaut, correspondente da RFI em Berlim)