Depois de pedido de desculpas ao governo brasileiro, Carrefour reafirma apoio à agricultura orgânica na França

Após a polêmica envolvendo o grupo Carrefour no Brasil, depois que a rede de supermercados francesa decidiu não vender mais carne do Mercosul em suas lojas na França, a empresa manifestou, nesta quarta-feira (27), o seu apoio à agricultura orgânica francesa. Em um comunicado enviado à imprensa, o grupo anuncia um acordo com a Cooperação Agrícola, uma federação nacional de empresas do setor, em favor da produção sustentável. 

O acordo firmado com 2.100 cooperativas agrícolas, incluindo 800 orgânicas certificadas - visa fortalecer os laços entre o Carrefour e os produtores para "apoiar os setores orgânicos franceses, através de ações estruturantes e contratos plurianuais", afirma o comunicado.

Assim, o Carrefour espera atender às expectativas dos consumidores, oferecendo produtos orgânicos locais e de qualidade; promover práticas agrícolas sustentáveis e novas instalações ou conversões para a agricultura biológica.

O objetivo do acordo é acompanhar a evolução do setor orgânico, discutir tendências de mercado e estratégias comuns, assim como "fortalecer as relações entre o Carrefour e as cooperativas associadas" e "desenvolver novas oportunidades, especialmente através da inovação de produtos e do apoio a setores emergentes".

Um modelo alimentar sustentável

Uma revisão anual permitirá monitorar os progressos alcançados e ajustar as ações para maximizar o impacto das novas medidas. "O Carrefour é o principal parceiro da agricultura orgânica na França, com cerca de 4.700 produtores parceiros. Estou muito feliz em reafirmar o nosso compromisso com os produtos orgânicos ao assinar esta parceria com a La Coopération Agricole", afirmou Benoît Soury, Diretor de Mercado Orgânico do Carrefour França.

Com atuação no setor orgânico desde 1992, 80% dos produtos "Carrefour Bio", o setor de orgânicos do supermercado, são fabricados na França e todas as frutas e verduras (excluindo frutas exóticas e cítricas), carnes, leite e ovos são de origem francesa, garante a empresa aos seus clientes.

Atualmente, 5 milhões de euros são investidos pelo grupo no fundo Miimosa, uma plataforma de financiamento dedicada à transição agrícola e alimentar.

Carrefour no Brasil

A atuação no Brasil representa um quinto do faturamento total do grupo francês, conforme balanço do terceiro trimestre.

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Para Marcos Gouvêa, um dos maiores especialistas da área no Brasil, ouvido pela RFI, faltou visão para o executivo francês Alexandre Bompard , CEO do Carrefour, ao se posicionar a favor dos produtores de carne francesa, decisão que provocou no Brasil um boicote à marca. "Nesse processo que nós temos vivido, de desglobalização do varejo físico, com o crescimento do varejo digital e a metaglobalização do varejo digital, a representatividade do mercado brasileiro mereceria, no mínimo, muito mais reflexão antes de uma manifestação como foi feita", comenta Gouvêa.

Na segunda-feira, Bompard assumiu a responsabilidade pela polêmica, em uma carta enviada ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Favaro. "Se a comunicação do Carrefour na França causou confusão e foi interpretada como um questionamento da nossa parceria com a agricultura brasileira, pedimos desculpas", escreveu o CEO do grupo francês, elogiando a "alta qualidade" dos produtos agrícolas brasileiros.

O Brasil é o maior produtor mundial de carne e abastece também as unidades da rede francesa em outros países do mundo. 

Assinatura do acordo UE-Mercosul até fim de 2024

Ao participar de um evento organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Brasília, nesta quarta-feira, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse esperar que o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os países do Mercosul seja assinado até o final do ano, apesar da oposição da França ou de países europeus. "Vamos conseguir isso", afirmou, enfatizando a negociação direta com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A França não tem o poder de impedir o tratado entre a UE e o Mercosul porque é a Comissão Europeia quem "decide" em nome dos 27 Estados-membros, disse o presidente Lula. "Se os franceses não querem esse acordo... eles não decidem mais nada, quem decide é a Comissão Europeia", declarou o presidente brasileiro, durante conferência do setor em Brasília.

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Hostis a um tal acordo, os agricultores europeus, especialmente os franceses, consideram que o texto negociado como está representaria uma concorrência desleal, pois os dois lados não respeitam as mesmas normas ambientais e de produção.

Na terça-feira (26), os deputados franceses apoiaram, por 484 votos a 70, numa votação simbólica, a posição do governo francês, que se opõe à assinatura do acordo tal como está. O assunto tem tido especial interesse na França, em um contexto de manifestações de agricultores temendo a concorrência dos produtos sul-americanos, especialmente os brasileiros.

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