França: ex-marido de Gisèle Pelicot elogia "coragem de ex-mulher", em julgamento sobre estupros coletivos

Dominique Pélicot, de 72 anos, principal réu nos estupros em série cometidos contra sua mulher, Gisèle Pélicot, pediu desculpas à sua família nesta segunda-feira (16), antes do veredicto que deve ser anunciado no final desta semana. O julgamento, que começou dia 2 de setembro, ocorre no Tribunal de Avignon, no sul da França. 

Dominique Pélicot pode pegar 20 anos de prisão por ter estuprado e oferecido sua ex-mulher, que ele sedava com ansiolíticos, para homens desconhecidos recrutados na internet. "Gostaria de elogiar a coragem da minha ex-mulher", disse.

"Imploro a ela, e ao resto da minha família, que aceitem minhas desculpas", disse Dominique Pelicot. "Lamento o que fiz, fazendo as pessoas sofrerem por quatro anos (os fatos foram revelados em 2020). Peço perdão", repetiu.  

Sentado ao lado de outros 17 réus detidos, ele reafirmou que havia dito "toda a verdade" durante as 14 semanas de julgamento. "Posso dizer a toda a minha família que os amo. É isso, vocês têm o resto da minha vida em suas mãos", concluiu, se dirigindo aos cinco magistrados do tribunal.  

O veredicto é esperado na quinta-feira (19) às 9h30 (horário local, 5h30 em Brasília). Mas a data e o horário são previsões e a decisão pode ser conhecida somente na quinta-feira à tarde ou sexta-feira (20) de manhã, dependendo "da duração de nossas deliberações", disse o presidente do tribunal, Roger Arata.

O juiz explicou aos 32 réus livres que "eles são obrigados a permanecer disponíveis e se apresentar na quinta-feira às 9h da manhã" ao tribunal.

Gisèle Pelicot, 72, aceitou que o julgamento fosse público para que "a vergonha mudasse de lado". Sozinha no banco das partes civis na segunda-feira, ela foi aplaudida pelo público que veio assistir às audiências em uma sala de transmissão.

Pena máxima

Em 25 de novembro, o Ministério Público solicitou a pena máxima contra Dominique Pélicot, ou seja, 20 anos de prisão.

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A sentença era esperada por ele, que sempre reconheceu sua responsabilidade, além de ser suspeito em outros dois casos na região parisiense: um assassinato com estupro em 1991, que ele nega, e uma tentativa de estupro em 1999, que admitiu após um teste de DNA.

Os outros 50 réus estão sendo processados por estupro com agravante. A promotoria pediu de 10 a 18 anos de prisão para 49 deles e quatro anos de prisão para o último, processado por "tocar" Gisèle Pelicot.

Os homens, com idades entre 26 e 74 anos, têm diferentes profissões, incluindo um bombeiro, um enfermeiro, um jornalista, um carcereiro e um caminhoneiro, alguns deles são casados. Muitos viviam em cidades próximas a Mazan, onde morava o casal Pélicot.

Alguns alegaram que achavam que estavam participando de um jogo sexual do casal e que Gisèle Pélicot havia dado seu consentimento.  

Depois de Pelicot, todos os outros réus deram declarações. Alguns lamentaram ou tentaram se explicar. "Vou me arrepender de minhas ações por toda a minha vida", declarou Mathieu D., 62 anos. "Sou acusado de não ser empático, de ser um monstro", falou Redouan F., 55 anos.

"Peço desculpas à Sra. Pelicot, me arrependo e peço perdão a ela", disse Romain V., 63, um dos quatro réus que responderam seis vezes ao convite de Dominique Pelicot para ir a sua casa, através do site coco.fr, fechado pela Justiça.

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Outro réu que foi seis vezes à casa dos Pelicots, Jérôme V., 46, disse que "independentemente da sentença", ele não vai apelar, "por respeito à vítima, para que ela não tenha que passar" por um novo julgamento.

"É realmente o seu corpo que submeti a esse estupro", admitiu na manhã de segunda-feira Cédric G., outro réu que pediu desculpas à vítima, assim como fizeram outros cerca de 15 outros acusados.

Acusados não acrescentaram informações

Quase metade dos 50 homens presentes - um está foragido e julgado em sua ausência - optou por não acrescentar nada em sua defesa, ou limitou-se a agradecer ao tribunal ou a seus advogados.

O técnico de informática Cédric G., 51, pode pegar 16 anos de prisão por estupro agravado e posse de imagens de pornografia infantil. Ele foi uma vez, em outubro de 201, à casa dos Pelicot em Mazan.  

"É a minha vez de ser exposto, não vejo nenhuma injustiça nisso, tenho que pagar por isso", acrescentou, dizendo que a descoberta de imagens de pornografia infantil em seu computador, que ele minimizou por muito tempo, abriu "a caixa de Pandora de sua abjeta miséria humana".  

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Didier S., 68 anos, aposentado, que pegou 10 anos de prisão, também pediu desculpas a Gisèle Pelicot, reafirmando, no entanto, que "não queria estuprar ninguém".  

"Eu me considero vítima da manipulação" de Dominique Pelicot, declarou Ahmed T., 54, encanador, reiterando suas "sinceras desculpas" à vítima.

Outros réus, como Patrice N., 55, um eletricista acusado de estupro por ter ido uma vez em fevereiro de 2020 à casa dos Pelicot, se contentaram em agradecer aos advogados de defesa e ao tribunal.

A defesa de cerca de 30 réus havia pedido a absolvição de seus clientes, alegando que foram "enganados, manipulados" por Dominique Pelicot. Outros, como Husamettin D., continuou negando os fatos. "Este caso me deixou doente, não sou um estuprador", afirmou.

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