Após bate-boca com Trump em Washington, Zelensky se reúne com americanos na Arábia Saudita

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve chegar à Arábia Saudita nesta segunda-feira (10), para participar de uma reunião nesta terça-feira (11) entre uma delegação de Kiev e dos EUA. O objetivo é discutir futuras negociações de paz para pôr um fim à invasão russa ao país, que completou três anos em fevereiro.
 

O encontro, que acontece em Jeddah, é cercado de expectativa, já que a primeira reunião entre as autoridades americanas e ucranianas, na semana passada, terminou em um bate-boca entre Zelensky, Trump e o vice-presidente americano, J.D. Vance.

Na ocasião, o presidente ucraniano deveria assinar um acordo sobre a exploração dos minerais de seu país pelos Estados Unidos.

Desde então, Washington suspendeu a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência. Zelensky enviou uma carta para Trump pedindo a retomada do diálogo, mas a situação diplomática permanece frágil.

A delegação dos EUA será liderada pelo secretário de Estado Marco Rubio e a ucraniana por Volodymyr Zelensky, que deve se encontrar com o príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman nesta segunda-feira, mas não participará diretamente das negociações.

A delegação do presidente ucraniano é formada pelo conselheiro presidencial Andriy Yermak, o chefe da diplomacia, o ministro da Defesa e o vice-diretor do gabinete presidencial, além de vários oficiais seniores do exército. 

A viagem do presidente ucraniano à Arábia Saudita estava originalmente programada para ocorrer em fevereiro, mas foi adiada após ele denunciar a organização de negociações russo-americanas.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, embarcou no avião militar que o levará à Arábia Saudita para conversas com a Ucrânia no domingo (9). Rubio deve chegar a Jeddah na segunda-feira e também deve se encontrar com Mohammed bin Salman durante sua visita, de acordo com o Departamento de Estado.

A Arábia Saudita, um aliado histórico dos Estados Unidos, está consolidando sua influência internacional ao mediar reuniões entre nações em conflito. O país rico em petróleo também esteve envolvido em negociações sobre a troca de prisioneiros históricos entre a Rússia e o Ocidente em agosto de 2024.

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Riade foi condenada ao ostracismo do cenário internacional após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi na Turquia em 2018, que provocou indignação. Mas, de acordo com o enviado dos EUA para o Médio Oriente, Steve Witkoff, o governo Trump tem "relações muito boas com os sauditas".

Bases de um acordo de paz

As discussões de terça-feira devem servir para "estabelecer as bases de um acordo de paz e um cessar-fogo inicial" entre a Rússia e a Ucrânia, disse Steve Witkoff, que estará presente. 

"Esperamos discutir e concordar com as decisões e medidas necessárias", disse Zelensky, sem especificar o assunto. A posição de Kiev continua a ser a mesma da União Europeia: um tratado de paz deve ser justo e duradouro. 

O chefe de Estado ucraniano espera obter garantias de segurança dos Estados Unidos antes de um possível cessar-fogo com a Rússia.

Apesar de ter sido humilhado em público no episódio da reunião na Casa Branca com Donald Trump e o vice-presidente J. D. Vance, o presidente ucraniano tem trabalhado para apaziguar as tensões com Washington. 

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Ele chegou a se desculpar por não ter aparecido "de terno" em uma cerimônia em Kiev no domingo (9), em alusão à crítica que recebeu do vice-presidente americano, que o acusou de "desrespeito" ao participar de uma reunião na Casa Branca vestido de uniforme militar.

 Kiev é a favor de um "diálogo construtivo", mas quer que seus interesses sejam "levados em consideração", insistiu o presidente ucraniano, dizendo estar convencido de que a reunião será "produtiva". Zelensky disse na noite de domingo que esperava "resultados para se aproximar da paz e manter o apoio".

Donald Trump multiplicou suas críticas Volodymyr Zelensky, acusado de ser um "ditador", de não ser grato o suficiente e de não estar pronto para a "paz".

No front, os combates continuam. No fim de semana, a Rússia reivindicou avanços significativos na região de Kursk e até mesmo um impulso na região de Sumy, na Ucrânia, pela primeira vez desde 2022.

Reconciliação

As relações entre Washington e Kiev mudaram drasticamente no decorrer de algumas semanas, com o retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro.

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Desde então, o tom mudou. Volodymyr Zelensky chamou o incidente de "lamentável" e Donald Trump disse que seu colega ucraniano estava pronto para negociar, até mesmo ameaçando Moscou com novas sanções.

"Vamos fazer progressos. Já nesta semana, eu acho", disse Donald Trump a repórteres a bordo do avião presidencial Air Force One na noite de domingo. Mas as divergências permanecem.

O acordo de mineração, que Donald Trump pretende obter para reembolsar a ajuda dos EUA a Kiev, ainda não foi concluído. Questionado sobre a possibilidade de ser assinado na Arábia Saudita, Witkoff disse que Zelensky "se ofereceu para assiná-lo, e veremos se ele o fará".

Outro ponto de divergência é a recente reaproximação entre Washington e Moscou, rompendo com a política ocidental de isolamento do presidente russo, Vladimir Putin.

O presidente ucraniano se manifestou a favor de uma trégua no ar e nos mares e se pronunciou a favor de uma troca de prisioneiros com a Rússia, pedindo a Moscou que "demonstre comprometimento com o fim do conflito".

O Kremlin rejeitou a ideia de uma trégua temporária. A solução também foi apoiada por Londres e Paris, alegando que era uma tentativa de Kiev de ganhar tempo e evitar um colapso militar.

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(RFI e AFP)

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