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Ao fazer uma brincadeira sobre o futuro do setor da sua empresa, cuidado com a concorrência

06/04/2012 00h02

Na semana passada a Virgin anunciou o lançamento de um novo negócio inovador – inovador porque se dedicará a promover viagens para o núcleo de um vulcão ativo. Em nosso comunicado de imprensa, descrevemos os planos para usar materiais de fibra de carbono usados na exploração do espaço para desenvolver um novo veículo revolucionário, o VVS1, capaz de colocar três pessoas no núcleo de lava derretida de um vulcão ativo. Nos primeiros três anos de operação, explicamos, o VVS1 exploraria os cinco vulcões mais ativos no mundo.

O novo negócio se chamaria Virgin Volcanic, e estaria ao lado do Virgin Galactic e Oceanic em nosso portfólio de aventuras e explorações. Como o Galactic, o projeto ajudaria a realizar importantes experimentos científicos, com o objetivo de aprender a monitorar e controlar os vulcões ativos. O Virgin Volcanic planejava usar o calor da lava derretida para propulsionar a sonda VVS1, desenvolvendo assim uma fonte de energia totalmente renovável.

Eu disse que planejava ir na primeira expedição, que aconteceria em 2015, e meus colegas “vulcanautas” seriam o rapper Will.i.am do Black Eyed Peas e o ator Tom Hanks. Nós fornecemos desenhos detalhados do aspecto do futuro VVS1. Vários astros de cinema e celebridades endossaram o projeto.

Havia algumas pistas no comunicado de imprensa sobre a inautenticidade dessa corajosa nova aventura: a data do comunicado era 31 de março, mas escrevemos o cabeçalho da República de Vanuatu, uma ilha com dois dos vulcões mais ativos do mundo. Vanuatu fica a 10 horas da Inglaterra, então nosso comunicado teria sido enviado a Londres em 1º de abril.

Na Virgin nós levamos a diversão muito a sério – nossos designers, equipes de mídia social e relações públicas trabalharam duro para elaborar o material vulcânico num tempo curto. Para muitos, nossa elaborada piada vulcânica pode ter parecido uma perda de tempo e esforço, uma vez que não há nenhum benefício comercial imediato, mas eu sempre pensei que o senso de humor e a capacidade de não se levar muito a sério são atributos importantes para qualquer companhia.

Essa piada coloca um sorriso no rosto das pessoas e as lembra da sensação de aventura da Virgin – e, sob vários aspectos, foi bem mais eficiente do que qualquer série de anúncios em revistas. Nosso senso de humor é o que faz com que nossas companhias se destaquem em termos de serviço ao consumidor, e o que atrai pessoas ótimas para trabalhar conosco. Sempre tentamos cultivar essas qualidades em toda a companhia em parte através de nosso estilo de gerenciamento pragmático, em que trabalhamos para empoderar todo mundo, inclusive nossos funcionários da linha de frente, para tomar boas decisões em vez de apenas seguir a linha da companhia.

Desde o começo da Virgin eu fazia piadas em todo 1º de abril para fazer as pessoas rirem, para atrair atenção para nossa marca, e também para lembrar os funcionários do espírito de nossa companhia. Três piadas com temática espacial foram particularmente bem sucedidas, capturando a imaginação das pessoas: em 1989, nós pousamos um OVNI perto do aeroporto de Gatwick (tínhamos a intenção de pousá-lo no centro de Londres, mas o vento soprou nosso balão para o lado errado); em 2008 fizemos uma parceria com o Google para lançar o Virgle, com o objetivo de colonizar Marte; e no ano passado dissemos que havíamos comprado Plutão depois de ele ter sido considerado um planeta anão, para que pudéssemos restaurar sua classificação como planeta. (Ainda estamos recebendo comentários de pessoas sobre a aquisição de Plutão).

Essas piadas enfatizaram sutilmente o espírito pioneiro da Virgin – e, na verdade, algumas pessoas na mídia especularam que o Virgin Galactic e o Oceanic eram piadas quando os anunciamos.

Essa tradição da Virgin pode ter sido indiretamente responsável pela criação do iTunes e do iPod, que, ironicamente, acabaram matando nossa rede de lojas de música Virgin Megastore. Em 1986 eu enganei a indústria da música dizendo à Music Week, uma publicação britânica de música, que a Virgin havia montado um computador gigante na Inglaterra, no qual havíamos guardado todas as faixas de músicas possíveis. Estávamos prestes a lançar o “Music Box”, um aparelho que os amantes de música usariam para baixar qualquer faixa, onde quer que estivessem. A manchete foi “A Bomba de Branson: O Fim da Indústria”.

Muitos magnatas da música, incluindo Chris Balckwell da Island Records, telefonaram naquela manhã para implorar que eu não o fizesse. Na hora do almoço, eu anunciei que a história toda era uma piada de 1º de abril.

Steve Jobs me disse que também havia lido a matéria. Alguns anos mais tarde, quando ele havia novamente se tornado presidente e CEO da Apple, pensou consigo mesmo: “por que não tentar?” A moral dessa história é, se você vai contar para os outros – mesmo numa piada de 1º de abril – o que você pensa sobre o futuro do seu setor, é melhor garantir que sua companhia já tenha um plano, ou então a piada será sobre você.