Castro cumpre sina dos governadores do RJ ao ser investigado por corrupção
Cláudio Castro (PL) provou, nesta quarta (20), que o Rio de Janeiro cumpre à risca a sina de ter seus governadores, mais cedo ou mais tarde, investigados por corrupção e com sigilos quebrados pela Justiça. Todos os governadores eleitos pelas urnas desde a redemocratização, em 1985, e que estão vivos, já foram presos ou afastados do cargo.
A Polícia Federal está investigando desvios em contratos da assistência social do governo fluminense e pagamento de propinas a agentes públicos entre 2017 e 2020. Nesta manhã, um mandado de busca e apreensão atingiu pessoas próximas de Castro, como seu irmão de criação, Vinícius Rocha, e membros de seu governo.
O governador teve seu sigilo fiscal, bancário, telefônico e de mensagens quebrado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Eleito em 2022, Castro chegou ao poder após o afastamento de Wilson Witzel (2019-2021), de quem era vice, em agosto de 2020, pelo mesmo STJ - coincidentemente pelo ministro Benedito Gonçalves, que anos mais tarde seria o relator da inelegibilidade de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral. Witzel, que foi definitivamente cassado no ano seguinte, foi acusado de encabeçar um esquema de desvios de verbas da saúde durante a pandemia de covid-19.
Antes de Witzel, Luiz Fernando Pezão (2014-2018) foi preso durante o seu mandato, em novembro de 2018, em meio aos desdobramentos da Lava Jato. Condenado a quase 99 anos de cadeia por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa pelo. Em abril deste ano, acabou sendo absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Pezão foi eleito governador, mas tinha sido vice de Sérgio Cabral (2007-2014), preso em 2016 e condenado em ações na Lava Jato que ultrapassavam 400 anos de cadeia por corrupção e cobrança de propinas. Deixou a prisão em dezembro do ano passado em decisão do Supremo Tribunal Federal, mas ainda tem duas condenações que permanecem válidas. Disse que pensa em se candidatar a deputado federal em 2026, apesar de estar inelegível.
Antes de Cabral, os governadores Rosinha Matheus (2003-2007) e seu marido Anthony Garotinho (1999-2002) protagonizaram uma série de prisões por corrupção.
Ele foi preso em novembro de 2016 em uma investigação de compra de votos durante as eleições em Campos (RJ). Em setembro de 2017, foi novamente preso também por compra de votos - uma condenação de quase 10 anos de cadeia. Em novembro daquele ano, Anthony e Rosinha ainda iria em cana acusados de integrarem uma organização criminosa que arrecadava dinheiro ilegalmente para campanhas, realizando inclusive extorsão. Em setembro de 2019, ambos foram presos sob a acusação de superfaturar contratos entre a Prefeitura de Campos e a Odebrecht durante os mandatos dela como prefeita. Soltos, foram presos de novo em outubro daquele ano após derrubada de um habeas corpus.
Enfim, para citar algo mais recente: em junho deste ano, o STF anulou provas usadas na ação contra o casal por irregularidades em contratos na Prefeitura de Campos. Mas Rosinha Matheus foi alvo de uma nova operação da Polícia Federal, no dia 28 de novembro, por suspeitas de fraude na previdência do município - um rombo de R$ 383 milhões.
Já Moreira Franco (1987-1991) foi preso em 21 de março de 2019, em meio aos desdobramentos da Lava Jato no Rio de Janeiro, acusado de negociar propina em obras relacionadas à usina nuclear de Angra 3. Ele, que também tinha sido ministro-chefe da Casa Civil, ficou preso quatro noites na mesma unidade prisional que abrigava Pezão. Na mesma operação, também foi para a cadeia o ex-presidente Michel Temer.
Dos ex-governadores vivos, apenas Nilo Batista (1994-1995), que assumiu o cargo quando Leonel Brizola renunciou para se candidatar à Presidência da República, e Benedita da Silva (2002-2003), assumiu após Garotinho renunciar para disputar a Presidência, não foram presos, nem afastados. Mas ambos não foram eleitos como governadores, mas sim, vices, ao contrário dos demais.
Benedita da Silva teve seu sigilo quebrado pela Justiça em ação movida pelo Ministério Público do Rio, que acusou a parlamentar de improbidade administrativa por irregularidades enquanto ele esteve à frente da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio.
A pergunta que se coloca agora é se Castro terá o mesmo destino de Witzel, Pezão, Cabral, Garotinho, Rosinha e Moreira Franco ou vai terminar o mandato e não passará pela cadeia. Para o bolsonarismo, de quem o governador é tributário, seria uma péssima notícia, uma vez que a proximidade de Lula com Cabral no passado foi explorada ad nauseam nas eleições.