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Reinaldo Azevedo

Agora vai! Bolsonaro ameaça "uzamericânu" de Biden com pólvora e porrada

Colunista do UOL

11/11/2020 07h32

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Aquele lá que nos governa nunca foi muito bom da veneta. A derrota de Donald Trump, seu ídolo e suposto amigo — ambos falam o idioma da infâmia —, parece tê-lo perturbado ainda mais.

Vocês se lembram: logo nos primeiros meses de governo, Jair Bolsonaro tentou cavar uma guerra com a Venezuela. Homens chegaram a ser deslocados para a fronteira. Quem sabe uma escaramuça desse ao nosso líder a chance de ver correr sangue de venezuelanos e brasileiros... Felizmente, não aconteceu.

Pois é... Fiel à diplomacia psicopata de Ernesto Araújo, o presidente brasileiro não reconheceu a irreversível eleição do democrata Joe Biden. Trump é um histrião de verbo belicoso. Já o "capitão" se orgulha de sua origem militar, embora tenha sido espirrado do Exército.

Não podendo abrir fogo contra a Venezuela, o bufão decidiu, bem..., ameaçar os Estados Unidos com um conflito armado. Sim, vocês ouviram direito.

Bolsonaro é um Borat de extrema direita que pretende ser visto como pessoa séria. Ou melhor: o humor de Sacha Baron Cohen trata de assuntos graves, sim, embora escolha o caminho da galhofa. O presidente brasileiro é um "clown" involuntário que, no entanto, aspira à seriedade. Alguém que ignora a morte de mais de 160 mil pessoas e tripudia sobre cadáveres não tem graça. Desperta, na verdade, melancolia. Cohen, em seu novo filme, inclui Trump e Bolsonaro no Clube dos Tiranos.

Na solenidade em que chamou os brasileiros de "maricas", o presidente do Brasil ameaçou Joe Biden, futuro presidente dos EUA:
"Todo mundo que tem riqueza não pode dizer que é feliz, não, tem que tomar cuidado com a riqueza, porque está cheio de malandro de olho nela. E o Brasil é um país riquíssimo. Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, chanceler]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona".

Observem que ele nem mesmo disse que haveria reação se americanos decidissem invadir a Amazônia. Não! Ele ameaçou usar "pólvora" contra os EUA caso estes imponham sanções ao Brasil em razão das agressões ao meio ambiente.

Digam-me: que tipo de governante ameaça os EUA "com pólvora", com guerra? O último que garganteou por aí um "pode vir quente que eu estou fervendo" foi Saddam Hussein...

Até o bufão pode ter achado que exagerou um pouco. E tentou se corrigir:
"Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos."

Oh, que grande realista. O Pentágono certamente tremeu ao pensar no poderio bélico brasileiro.

PROBLEMAS
Biden é o presidente eleito dos EUA e assumirá o cargo no dia 20 de janeiro. Bolsonaro deve achar que esse comportamento deseducado e cretino o coloca numa posição de força. É constrangedor.

E aí emendou o que poderia ser um credo liberal. Disse ser preciso fortalecer o Brasil, "liberando a economia, o livre mercado, dando liberdade para quem quer trabalhar, não enchendo o saco de quem quer trabalhar, de quem quer produzir".

Falava a empresários de turismo. Uma parcela do setor ambiciona empreendimentos em área de preservação permanente.

Ocorre que não era de liberalismo que falava Bolsonaro. "Encher o saco", no seu vocabulário, é precisamente sinônimo de restrições ambientais.

O Brasil deve ter uma produção recorde na safra de grãos de 2020/21, com produção estimada em 268,7 milhões de toneladas. O dado, fornecido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prevê um volume 4,2% maior que o recorde anterior, de 2019/20: 257,7 milhões de toneladas.

Qual é o papel do desmatamento nesse recorde? Se houver, é marginal. As leis ambientais, especialmente depois do Código Florestal, fizeram com que o país ganhasse mercado. Mas isso é o que sabem os produtores de ponta. O discurso do "ninguém para encher o saco" não busca sensibilizar o agronegócio profissional.

Bolsonaro ameaça entrar em guerra com os EUA pelo direito de desmatar e queimar, como querem madeireiros e garimpeiros ilegais. Esse é o público que se deixa fascinar pelo seu discurso.

É evidente que Biden não dá a menor pelota para Bolsonaro. O país só entrará no radar do governo americano quando a questão ambiental exigir o protagonismo no novo presidente. E então ele dará atenção ao Brasil: como alvo.

Ainda bem que Bolsonaro pode responder com pólvora, né? A experiência adquirida na repressão a pretos de tão pobres e pobres de tão pretos do Haiti há de derrotar a maior máquina de guerra jamais criada na história da humanidade.

Só nos restará como arma secreta o inglês dos Eduardos: o Bolsonaro e o Pazuello.