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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

A vacina salvadora é a "U". Incompetência, não só negacionismo, também mata

Marcelo Queiroga: ele não sabe explicar por que o Ministério da Saúde ficou seis dias com vacinas estocadas, sem distribuição. Não sabe também isso - Evandro Leal/Agência Free Lancer/Estadão Conteúdo
Marcelo Queiroga: ele não sabe explicar por que o Ministério da Saúde ficou seis dias com vacinas estocadas, sem distribuição. Não sabe também isso Imagem: Evandro Leal/Agência Free Lancer/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

27/07/2021 03h18

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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro segue, por intermédio do discurso ao menos, sabotando a CoronaVac — a vacina que, no Brasil, tem o Instituto Butantan como parceiro —, o número de contaminados e mortos despenca no Chile e no Uruguai. Nesse país, que aplicou a "vacina chinesa", a mortalidade caiu 97%. A verdade inequívoca é uma só: a vacina mais eficaz — desde que tenha a devida certificação científica — não é a A, B ou C, mas a "U". A vacina que realmente cura, então, é a vacinação universal.

E o que se vê no Brasil? A aplicação da primeira dose teve de ser suspensa em pelo menos nove capitais nesta segunda em razão da falta de imunizante: Belém, Rio, Salvador, João Pessoa, Campo Grande, Florianópolis, Maceió, Natal e Vitória. Será que estava faltando vacina em estoque? Não!

É que o Ministério da Saúde, comandando por Marcelo Queiroga — lançado por Bolsonaro como candidato a governador da Paraíba —, ficou seis dias sem entregar os imunizantes. E olhem que a pasta recebeu 16 milhões de doses entre a segunda-feira retrasada e ontem.

E por que a demora? Informa reportagem do Estadão:
O órgão ressaltou que, após a entrega dos imunizantes pelos laboratórios, "as doses passam por um controle de qualidade rigoroso, contagem e rotulagem no Centro de Distribuição Logístico, em Guarulhos (SP)". Só depois dessa etapa, diz o órgão, "os imunizantes são liberados para distribuição, os planos de voos são definidos e os lotes chegam aos estados em até 48 horas, em uma operação logística complexa e realizada em tempo recorde". O ministério não explicou o motivo da demora atípica na entrega e por que ficou seis dias sem enviar nenhuma remessa de vacinas.

Ninguém consegue explicar.

Os índices de contaminação e morte estão em queda no Brasil, mas ainda se encontram entre os mais altos do mundo. E isso se deve, é evidente, à vacinação tardia e a um ritmo incompatível com a urgência. Não é o só o negacionismo que mata. A incompetência também.

Atenção: os vacinados com a primeira dose, nesta segunda, estão abaixo de 50%: 45,49% (96.332.312). Mas os que receberam a imunização plena, com duas doses (ou uma, no caso da Janssen), estão muito longe disso: apenas 17,96% da população (38.026.271). É pouco para que tenhamos a queda drástica que se espera. Atingimos nesta segunda a marca escandalosa de 550.586 óbitos.

Assim, a vacina que já salvou milhares de vida no Chile e no Uruguai e que exibe, no caso deste segundo país, uma eficácia de 100% contra mortes, é desdenhada aqui pelo presidente da República. Seguindo a rotina de incompetência que tem sido a marca do Ministério da Saúde na gestão Bolsonaro, a vacinação é interrompida em nove capitais porque a pasta não consegue fazer o imunizante chegar a seu destino.

O presidente da República está ocupado demais com outros assuntos. Dedica seu tempo a fazer proselitismo contra as urnas eletrônicas e a anunciar uma fraude que só existe em seus delírios.