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Morro do Bumba, em Niterói, tinha 200 moradores, dizem bombeiros e prefeitura

Retroescavadeiras são utilizadas para remover escombros no morro do Bumba, em Niterói (RJ) - Felipe Dana/AP
Retroescavadeiras são utilizadas para remover escombros no morro do Bumba, em Niterói (RJ) Imagem: Felipe Dana/AP

Do UOL Notícias*<br>Em São Paulo

08/04/2010 10h22

O Corpo de Bombeiros e a prefeitura estimam que cerca de 200 pessoas moravam e possam estar soterradas no morro do Bumba, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, devido às chuvas dos últimos dias. Existiam cerca de 50 casas no local. A Defesa Civil informou que 56 pessoas foram retiradas com vida, sendo que 21 permanecem internadas. Cerca de 300 homens, entre integrantes da Força Nacional de Segurança (FNS), policiais civis, bombeiros e policiais militares, trabalham nas operações de resgate no local.

Apenas seis corpos foram resgatados - uma criança e cinco mulheres. Com esse deslizamento, o número de mortes provocadas pelas chuvas no Estado já passa de 150, segundo o último balanço do Corpo de Bombeiros.

A estimativa é de que foram deslocados 600 metros quadrados de terra no morro do Bumba. As equipes de resgate usam dez retroescavadeiras para retirar a terra e o lixo do local, que já foi um aterro sanitário. “Essa é uma área de alta suscetibilidade. Isso aqui é um lixão que se encharca muito mais rapidamente em comparação com outros morros. O solo vai ficando ensopado e ocorre a formação de gás metano. Com tudo isso, o ângulo estável fica muito menor. A prefeitura deveria ter um cadastro desta área, que é de altíssimo risco", afirmou Adalberto da Silva, professor de geologia do Instituto de Geociências da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Os mortos na cidade já somam 85 desde segunda-feira (5), e esse número tende a aumentar com o passar do tempo e as remotas chances de se encontrar sobreviventes. Além de residências, foram soterrados estabelecimentos comerciais, creches e igrejas.

"Foi uma tragédia grave, e os trabalhos são intensos. Infelizmente há relatos de mais corpos", disse o sargento Eduardo, do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

"Gostaria de ser solidário ao povo de Niterói, que vive uma grande tragédia, e isso serve para reforçar o meu apelo para que as pessoas deixem áreas de encosta e de risco, porque ali era uma área com essas características", disse o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

O temporal que provocou a tragédia no Estado do Rio teve início no final da tarde de segunda-feira (5) e levou o caos à capital e à região metropolitana, que praticamente pararam na terça-feira. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), somente na terça-feira choveu mais do que o esperado para todo o mês de abril na região.

Das 153 mortes contabilizadas até o momento no Estado, 85 foram em Niterói, 48 no Rio, 16 em São Gonçalo, uma em Nilópolis, uma em Engenheiro Paulo de Frontin (região de Paracambi), uma em Petrópolis e uma em Magé. A maioria das mortes aconteceu em regiões de encostas e áreas de risco. Segundo o Corpo de Bobeiros, ao todo, 161 pessoas foram resgatadas com vida nos locais onde ocorreram os deslizamentos em todo o Estado.

Depoimentos
Centenas de pessoas estão no local à espera de notícias sobre parentes desaparecidos e amigos.

Entre os que aguardam novidades está o motorista de ônibus Marcos Antonio Caternol Júnior, 31, morador da comunidade e que passou em frente ao morro dirigindo o coletivo poucos minutos antes da tragédia. "Minha mulher ouviu um estouro e saiu com o bebê no colo, pensando que se tratava de um acidente. Ao olhar para trás, ela viu a casa sendo soterrada. Dentro da residência estavam os pais dela, o bisavô e o nosso filho Caíque de seis anos. Até agora não entendo o que aconteceu", contou.

Felipe de Souza, 21, pizzaiolo, disse que o cenário no local é de terror. “Ouvi um barulho muito forte. Um estrondo. E vi todo mundo gritando 'sai, sai, sai'. Logo depois veio tudo abaixo. A situação é caótica. Tem muita gente soterrada ali.”

A aposentada Sueli Campos, também relatou o que viu. “Tava tudo escuro, as pessoas mal conseguiam andar. Meu marido se quebrou todo. Estou só com a roupa do corpo”, disse, aos prantos.

O vendedor Carlos Eduardo Moreira, 24, permanece, desolado, no local, à espera de um milagre. “Estão falando em 40, 60 casas, mas e as pessoas? Tem com certeza mais de 60 pessoas soterradas lá. A família inteira do meu vizinho foi embora junto com a lama. Só na casa dele tinha sete pessoas”.

Alerta da prefeitura
Na capital fluminense, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) voltou a recomendar hoje que as famílias deixem as áreas de risco e busquem abrigo em outros locais. Segundo a prefeitura, ainda há muitos riscos de deslizamento nas encostas da cidade.

Paes também alertou que os problemas no trânsito da capital do Estado devem continuar em razão de várias vias ainda estarem bloqueadas. "Por isso, pedimos de novo que as pessoas que não tiverem obrigação de sair que não o façam, e que busquem fazer carona solidária, auxiliando os vizinhos e desafogando o tráfego."

* Com Agência Estado e Folha Online

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