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Mortes de 81 animais no zoológico de Goiânia tiveram causas distintas, conclui polícia

Luiz Felipe Fernandes<BR>Especial para o UOL Notícias

Em Goiânia

02/09/2010 17h43

A Polícia Civil de Goiás concluiu que as mortes de 81 animais, ocorridas entre 2009 e 2010 no zoológico de Goiânia, não têm relação entre si. “Não existiu conexão entre as mortes”, diz o relatório final da investigação, assinado pelo delegado Luziano Severino de Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente.

Há um ano, diretor e outras quatro pessoas foram responsabilizadas por mortes de animais em zoo de Goiânia

Sem identificar uma possível intenção de matar os animais –hipótese levantada desde a divulgação dos óbitos de mamíferos de grande porte–, o delegado decidiu encaminhar o inquérito com mais de 600 páginas ao Poder Judiciário sem nenhum indiciamento. “Está provado por meio de laudos, relatórios e depoimentos que não houve dolo, ou seja, morte intencional”, afirma Carvalho.

A polícia individualizou as causas de cada óbito: presença de predadores, animais velhos ou estressados, filhotes rejeitados pelos pais e doenças diversas.

Ao todo foram registradas 148 mortes entre 2009 e 2010 no zoológico de Goiânia (81 das quais investigadas pela polícia). Desde 2000, o número de animais mortos chega a 888.

Mortes em série
As investigações tiveram início no ano passado, quando foram registradas diversas mortes em sequência. Em seis meses, o zoológico perdeu dois hipopótamos, um leão, uma onça, um tamanduá-bandeira e duas girafas. O local chegou a ser interditado depois da morte do sétimo animal de grande porte –um jacaré-açu de quase 4 metros.

O inquérito já tinha sido concluído, mas o resultado de um exame feito na girafa Kim, que morreu em 25 de agosto de 2009, fez com que a polícia voltasse às investigações. A análise feita num laboratório de Belo Horizonte (MG), e divulgada no último dia 17 de agosto, revelou a presença de carbamato do tipo Aldicarb, popularmente conhecido como chumbinho, nas vísceras do animal. A substância tem venda proibida no Brasil.

Com novos laudos periciais, o delegado concluiu que a quantidade de veneno encontrada no organismo da girafa –0,155 ppm (partes por milhão)– era insuficiente para matá-la. “Existe a possibilidade do chumbinho ter vindo da alimentação da girafa, já que o capim era colhido em lotes baldios, próximos a córregos e rodovias, locais que poderiam estar contaminados com o veneno”, explica.

Transferência
Mesmo que ninguém tenha sido responsabilizado pelas mortes, a Polícia Civil sugeriu a criação de uma equipe multidisciplinar para avaliar a necessidade de transferir o zoológico de Goiânia para outro lugar. O parque, criado em 1946, está na região central da cidade, cercada por movimentadas avenidas e uma grande quantidade de prédios.

A localização inadequada foi um dos pontos levantados por um laudo da UFG (Universidade Federal de Goiás), que também verificou problemas no controle sanitário do parque, na estrutura deficiente –que pode até facilitar fugas de animais–, e má conservação das instalações.

A situação do zoológico chegou a ser criticada pela cantora Rita Lee durante show realizado há duas semanas na cidade. “Me disseram que o zoológico virou um campo de concentração de animais, é isso? E ninguém faz nada?”, questionou a roqueira no meio da apresentação.

Segundo o diretor do zoológico, Raphael Cupertino Teixeira, já estão sendo feitas alterações na estrutura física do local, conforme determinação de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado com o Ministério Público de Goiás. Teixeira chegou a ser denunciado por improbidade administrativa e foi afastado da direção do zoológico por decisão judicial, em julho deste ano.

Já restituído ao cargo, o diretor estima para o fim de 2010 a reabertura do parque. “O prazo (dado pelo Ministério Público) é até fevereiro de 2011, mas estamos fazendo todos os esforços para revitalizar o zoológico ainda esse ano.”

Denúncias
Para a Associação dos Defensores do Meio Ambiente (Biodefesa), houve falha na condução das investigações. A presidente da entidade, Maria de Lourdes França Rabelo, afirmou que todas as irregularidades cometidas no zoológico de Goiânia estão registradas em fotos e relatórios apresentados na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Biopirataria, realizada na Câmara dos Deputados entre 2005 e 2006.

“Não morrem quase mil bichos num mesmo lugar. Isso não é coincidência”, contesta Rabelo. As principais denúncias em relação às mortes vieram da associação. Entre as suspeitas estavam maus-tratos e tráfico de animais. A Biodefesa anunciou que vai reunir mais provas contra a direção do zoológico.