Saudade machuca mais do que medo de acidente, diz mãe de tripulante de navio no litoral paulista
Chovia torrencialmente em Santos, no litoral paulista, no momento em que o navio Costa Victoria zarpou para uma temporada de veraneio, na tarde desta terça-feira (17). No salão de embarque, uma mãe se esforçava para não chorar. Seu único filho, Renan Rafael Ramos, 20, tinha acabado de entrar na embarcação, onde trabalha como barman há quatro meses.
A memória do acidente com o Costa Concordia, navio da mesma companhia que o Costa Victoria, ainda estava bem presente na cabeça de todos os que embarcavam. No entanto, a aflição da professora Clarice Ramos tinha outro motivo: saudade. "A falta que ele me faz machuca muito mais do que o medo de que ocorra um acidente com meu filho."
Ela afirmou que o filho estava tranquilo antes de embarcar, e justificou: "Ele faz um treinamento muito completo, né?".
A Costa Cruzeiros, empresa que opera tanto o Victoria quanto o Concordia distribuiu um comunicado em que afirma ter sido erro humano a causa do acidente que ocorreu na última sexta-feira (13), na Itália. No texto, a companhia também elogia o trabalho de seus tripulantes.
A gravação de uma conversa entre a capitania dos portos e o comandante do navio que naufragou na Itália indica que ele teria se negado a voltar à embarcação para liderar o trabalho de retirada dos ocupantes. O capitão nega as acusações de que teria deixado o navio sem prestar auxílio aos passageiros.
"Pena que todo mundo só fala desse comandante. Tenho certeza que a maioria dos funcionários trabalhou direitinho. Meu filho, com certeza, saberia o que fazer em uma situação assim", disse Clarice.
O Costa Victoria é uma espécie de primo mais velho do Costa Concordia. Construído em 1996, o navio que saiu de Santos tem 250,9 m de comprimento e comporta 1.928 passageiros e 766 tripulantes. A embarcação que se acidentou na Itália foi feita em 2006, tinha 290 m de comprimento e comportava 3.780 passageiros e 1100 tripulantes.
A relações públicas Celia Radzvilaviez acompanhou o noticiário sobre o acidente com o Costa Concordia. Mesmo assim, não cogitou em momento algum cancelar a passagem comprada para o cruzeiro de dez dias que passará por Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu, Porto Belo e Ilhabela, antes de voltar para Santos.
Leia mais sobre o naufrágio na Itália
Segundo Celia, que falou com a reportagem por celular quando estava no convés do navio, o clima entre os passageiros era de diversão e alegria. A tripulação é que parecia mais comedida no entusiasmo do que da primeira vez em que ela viajou de navio: “Nessa viagem, por exemplo, não teve apito na saída", estranhou.
O Costa Victoria planejava fazer um minuto de silêncio na noite de terça para lembrar as vítimas do naufrágio na Itália.
Perguntada se estaria com medo da viagem, Celia tinha a resposta na ponta da língua. "Quantos acidentes de navio de passageiros já ocorreram? O do Titanic há cem anos e mais uns três? É mais perigoso andar a pé", brincou.
Seu marido, Marco Rossi, não quis viajar. Não por medo, mas por preferir terra firme. Assim, decidiu ir com o resto da família até um píer na Ponta da Praia observar a passagem do navio da mulher.
"Um pouco antes do embarque passou, na TV do porto, uma reportagem sobre o acidente. Cheguei a brincar com um passageiro que estava sentado do meu lado, mas, no fim, ninguém deu bola", disse Rossi, que tirou umas fotos do navio e subiu a serra de carro de volta para São Paulo.
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