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Cruzeiro em navio gêmeo do Costa Concordia teve diversão, atenção e tristeza, dizem passageiros

Fernando Mendonça

Do UOL, em Santos

21/01/2012 17h00

Passageiros do navio Costa Pacifica que desembarcaram em Santos (70 km de São Paulo) na manhã deste sábado (21) afirmaram que o cruzeiro dos últimos sete dias pelo litoral brasileiro foi marcado por muita diversão, alguma atenção e certa tristeza.

O Costa Pacifica, que os levou até Ilhéus, no sul da Bahia, é “navio gêmeo” do Costa Concordia, que no último dia 13 bateu contra rochas subaquáticas e está adernando aos poucos no litoral oeste da Itália. O acidente ocorreu na véspera do embarque do grupo.

Os dois navios têm capacidade para 3.780 passageiros e 1.110 tripulantes. As dimensões são as mesmas: 293 metros de comprimento por 35,5 metros de largura. A única diferença entre eles é o ano de construção. O Costa Concordia saiu do estaleiro em 2006, e o Pacifica, em 2009. Oferecer lazer 24 horas por dia é a proposta de ambos.

“É tanta coisa pra fazer dentro do navio que não dá tempo de parar pra ficar pensando no acidente”, afirmou o engenheiro paulista Eduardo Tumonis, que estava na sala de embarque do terminal marítimo de Santos, esperando a hora de entrar no Costa Pacífica, quando viu pela televisão uma reportagem sobre o acidente na Itália. “Näo me assustei”, disse Tumonis.

A enfermeira Lilian Atki, de Brasília, viajou com o marido, Fernando, e os dois filhos, Gustavo e Lucas. Para ela, a semana a bordo não foi tão tranquila como a do engenheiro paulista. “Fiquei meio tensa, atenta, sempre observando a segurança ao redor”, disse.

De acordo com Lilian, um brasileiro da tripulação do Costa Pacifica disse a ela que, mesmo com os treinamentos que recebem, muitos tripulantes não estariam preparados para orientar e socorrer os passageiros no caso de um acidente grave, como o do gêmeo Costa Concordia. “Acho que são inexperientes”, afirmou a enfermeira.

Despreparados ou não para emergências, alguns tripulantes não conseguiram esconder a tristeza que o acidente com o Costa Concordia causou a muitos deles. Segundo o paulista Bruno Chiarelli, um tripulante comentava estar triste porque não sabia nada sobre seis colegas do navio acidentado. “Deu pra perceber um climão, sim”, disse Chiarelli.  

Comunicado

Durante todo o cruzeiro, segundo relato dos passageiros entrevistados pelo UOL, não houve nenhuma forma de restrição a informações sobre o acidente com o Costa Concordia na Itália. Mas foi apenas cinco dias depois de ele ter ocorrido que, em 18 de janeiro, os passageiros encontraram sobre a cama de suas cabines, junto com a programação do dia, um comunicado do presidente e administrador delegado da Costa Cruzeiros no Brasil, Pier Luigi Foschi.

Entre explicações, escusas e informações sobre a capacidade e os “atos de heroísmo de membros da tripulação (do Costa Concordia)”, há um trecho no comunicado segundo o qual é garantido que acidentes como esse jamais voltarão a acontecer. Diz o trecho: “Este dramático evento extraordinário, causado aparentemente por um único erro humano, que não deverá mais se repetir, não devia (sic) ter ocorrido”, escreve Foschi.

O gerente Alessandro Caldeira, de São Paulo, leu o comunicado, participou do minuto de silêncio realizado a bordo às 17h do dia em que a folha foi entregue aos passageiros e disse que, por ele, está tudo bem. “Avião é muito mais perigoso, quando cai morre todo mundo”, afirmou Caldeira. “No ano que vem estarei por aqui outra vez.”