Topo

Após saques e 18 mortes, Bahia pede reforço de Força Nacional e Forças Armadas

Bahia chama Força Nacional de Segurança para conter confusões causadas por greve da PM - Arestides Baptista/Ag A Tarde/Futura Press
Bahia chama Força Nacional de Segurança para conter confusões causadas por greve da PM Imagem: Arestides Baptista/Ag A Tarde/Futura Press

Heliana Frazão

Do UOL, em Salvador

03/02/2012 13h42Atualizada em 03/02/2012 17h11

O governo da Bahia informou que espera o desembarque de mais 500 homens da Força Nacional e 2.000 do Exército, Marinha e Aeronáutica até a manhã deste sábado (4). Desde a manhã de hoje, 150 homens da Força de Segurança Nacional fazem o patrulhamento na capital baiana por conta da greve de parte dos policiais militares, que acontece desde o começo desta semana. Em nota divulgada mais tarde, o Ministério da Defesa anunciou que enviará um contingente de 2.600 militares para ajudar a fazer a segurança do Estado.

Desde o início da madrugada (00h12) até o começo da manhã (06h41), 18 pessoas foram assassinadas na cidade, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Como base de comparação, na última sexta-feira (27), foram registradas 13 mortes entre 06h04 e 23h20. Lojas e supermercados também foram alvo de criminosos durante a madrugada, sendo arrombados e saqueados.

Segundo o Ministério da Defesa, também estão atuando no Estado 1.250 militares. Há ainda a possibilidade de que mais 4.000 militares de tropas da 10ª Região Militar, em Fortaleza (CE), sejam acionados para reforçar a segurança no Estado.

A Marinha acionou 250 fuzileiros navais para a segurança de portos e terminais de embarque, e a Força Aérea Brasileira (FAB) designou cerca de 400 militares para cuidar do funcionamento regular dos aeroportos públicos na Bahia.

A população tenta retomar a rotina nesta sexta-feira após a madrugada violenta, mas, no centro da cidade, vendedores e ambulantes reclamam que as vendas caíram em média 70% devido à falta de público, apesar de já ser possível verificar a presença dos policiais da Força Nacional, que circulam em grupos de cerca de cinco ou seis homens. As calçadas da avenida Sete de Setembro, que em dias normais são quase intransitáveis por causa dos camelôs, hoje estão praticamente livres.

Manifestantes invadem ônibus para bloquear avenida na Bahia

“Vamos continuar dialogando com quem quer dialogar, mas a via da força e da afronta é um caminho muito perigoso”, disse, na manhã de hoje, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Telles. Nesta manhã ele se reuniu com representantes de associações representativas da corporação, à exceção da Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra), que lidera o movimento.

A onda de violência se verifica em diferentes regiões da cidade. Na avenida Jorge Amado, no bairro da Boca do Rio, orla da capital, quatro corpos, supostamente de moradores de rua, foram encontrados com marcas de tiro. A polícia ainda não os identificou. São três homens e uma mulher.

Outra vítima foi o percussionista da banda Olodum, Denilton Souza Cerqueira, de 34 anos, morto a tiros na porta de casa, durante a madrugada, no bairro periférico da Mata Escura. Dois homens armados, em uma motocicleta, teriam abordado o músico e feito os disparos.

Um policial militar também foi baleado na manhã desta sexta-feira no bairro do Cabula, em Salvador, no conjunto Recanto Verde, onde mora. Rogério Fernando de Aquino, 47, saía de casa para o trabalho quando foi abordado por cinco homens armados. Os demais crimes ocorreram em bairros periféricos.

No bairro da Liberdade, um dos mais populosos da cidade, pelo menos cinco grandes lojas de eletrodomésticos tiveram as portas arrombadas e os produtos saqueados por grupos armados. O mesmo aconteceu na região das Sete Portas, centro velho da capital. Em vários bairros lojas foram saqueadas.

Câmeras de uma joalheria, no bairro da Calçada, mostram a ação ousada de um grupo de criminosos, que invadiu a loja com um veículo. Eles roubaram tudo e fugiram, abandonando o carro no local. A ação durou cerca de 40 minutos.

Assustado, o sindicato dos motoristas de ônibus quer suspender os trabalhos às 18 horas, caso o clima de insegurança permaneça, mas o sindicato patronal não concorda. “Estamos sem nenhuma segurança. Só Deus nos protege”, disse o motorista Jair Silveira de Lima.  Os bancários, principalmente do interior, também reivindicam o fechamento das agências. A Febraban ainda não se manifestou a respeito do pleito.

A greve

Na manhã de ontem, a Justiça decretou a ilegalidade da greve e o retorno imediato ao trabalho, mas os grevistas não acataram a determinação judicial. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, caso seja necessário, os agentes federais permanecerão até o Carnaval de Salvador, que começa no próximo dia 16 de fevereiro, ou seja, em 12 dias. A Bahia tem 31 mil policiais. A estimativa de Telles é a de que um terço deles esteja em greve.

Boa parte dos grevistas, estimados pelo sindicato como 500 pessoas, está acampada no prédio da Assembleia Legislativa. “Nós só sairemos de lá quando o governo voltar a sentar à mesa de negociação. O movimento está forte”, disse na última quarta-feira o soldado Marcos Prisco, presidente da Aspra.

Para justificar a greve, a Aspra reivindica o pagamento da GAPV (gratificação por atividade policial), a regulamentação do pagamento de auxílio acidente e adicionais de periculosidade e insalubridade, entre outros itens.

O comandante-geral da PM, Alfredo Castro, reconhece a existência de defasagens salariais, mas alega que o governo vem paulatinamente recuperando as perdas.

(Com Agência Brasil)