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Grevistas continuam ocupando Assembleia na Bahia e homenageiam cantor Wando

Janaina Garcia

Do UOL, em Salvador

08/02/2012 10h49Atualizada em 08/02/2012 12h40

A greve dos policiais militares na Bahia continua sem acordo e entra hoje em seu nono dia. Os cerca de 300 grevistas seguem amotinados dentro da Assembleia Legislativa, em Salvador, e uma nova reunião com o objetivo de se chegar a uma negociação deve ser retomada nesta quarta-feira (8). Não houve registro de confrontos durante a madrugada, e a energia chegou a ser cortada algumas vezes.

Por volta das 10h30 de hoje, cerca de 30 grevistas foram até uma das sacadas da Assembleia e homenagearam o cantor Wando, morto nesta quarta aos 66 anos. De mãos dadas, os amotinados cantaram "Fogo e Paixão". Ontem, os manifestantes já tinham cantado "Ôôô, o Carnaval acabou". Já os manifestantes que apoiam o movimento do lado de fora entregaram um bolo ao general Gonçalves Dias, que está à frente da operação do Exército e que fazia aniversário.

Negociação

Após cerca de sete horas de negociação, um encontro realizado ontem entre representantes de associações de policiais, da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) --mediado pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Kriger-- terminou sem sucesso. Uma contraproposta dos manifestantes foi levada ao governador Jaques Wagner (PT).

Além de exigir o pagamento de gratificações e a anistia de todos os grevistas, o UOL apurou que duas novas condições foram apresentadas: uma é que o pagamento de um dos benefícios seja dado integralmente neste ano, sem escalonamento, e a outra é que o líder do movimento, Marco Prisco, ex-soldado da PM e atual presidente da Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra), seja reintegrado à corporação. Ele foi expulso após envolvimento em uma greve ilegal em 2001, mas uma decisão de 2010 anistiou os manifestantes, e, em 26 de janeiro de 2011, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou sua reintegração --o que o governo estadual ainda não cumpriu.

Segundo o governo, a principal reivindicação dos policiais, que era a implantação de duas gratificações (a Gratificação de Atividade Policial-GAP 4 e 5), foi concedida em forma escalonada até 2015. "Colocamos uma proposta que é o sonho dos soldados e oficiais da Polícia Militar da Bahia, que são as chamadas da GAP 4 e GAP 5. Com muito esforço orçamentário, ofereci entre 2012 e 2015 o atingimento no contracheque dessas duas gratificações", disse o governador Jaques Wagner (PT) a GloboNews após o fim da reunião.

O impasse sobre a anistia aos grevistas continua. Enquanto os grevistas não abrem mão desse ponto, o governador reiterou que os policiais envolvidos em "casos de vandalismo" serão punidos. "Os policiais que participaram legalmente, dentro das regras, pacificamente do processo reivindicatório, não têm com o que se preocupar. Mas todos aqueles condenados pela sociedade baiana que depredaram, quebraram e intimidaram a população devem ser investigados. Não há como falar em perdão quando se fala em atos de vandalismo”.

O governador reiterou que a programação de Carnaval está mantida e começa na próxima terça-feira (14).

Entenda a greve

A greve na Bahia foi deflagrada na terça-feira, dia 31 de janeiro, por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, considerado ilegal pela Justiça. As prisões foram decretadas pela juíza Janete Fadul. Todos são acusados de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (carros da corporação). Além dos crimes, os policiais vão passar por um processo administrativo. Dois já foram presos.

Cerca de 300 policiais militares estão amotinados dentro da Assembleia Legislativa em Salvador, cercados pelas forças federais, que negociam o fim da greve. Na segunda-feira, soldados lançaram bombas de efeito moral e dispararam balas de borracha contra policias grevistas que estavam do lado de fora e que tentavam entrar no local.

De acordo com Prisco, os grevistas não vão deixar a Assembleia até que sejam revogados os pedidos de prisão de 12 grevistas, além da concessão da anistia irrestrita para os grevistas e o pagamento de gratificações.

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: aulas foram canceladas, assim como shows, a Justiça teve seu trabalho suspenso e os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. O número de homicídios e assaltos também aumentou --até o fim de semana, as mortes já eram superiores ao dobro do registrado no mesmo período na semana anterior à greve.