Topo

Prisão de líder não enfraquece possibilidade de greve no Rio, diz associação

Julio Reis*

Do UOL, no Rio

09/02/2012 11h45Atualizada em 09/02/2012 12h32

A prisão na noite de ontem do cabo Benevenuto Daciolo, um dos líderes do movimento grevista dos bombeiros do Rio, não irá enfraquecer o ânimo dos servidores para uma eventual greve, disse o cabo Harrua Leal, vice-presidente da Associação SOS Bombeiros, principal entidade que lidera a pauta de reivindicações da categoria e que tem como presidente justamente Daciolo.

“Temos uma assembleia geral marcada para hoje à noite. Ela está mantida e pode decidir pela greve sim. Os bombeiros do Rio já não suportam mais as condições salariais que aqui operam. O governo do Rio acha que vai enfraquecer o movimento com esta prisão, mas vai fortalecer. Estamos indignados com a prisão (de Daciolo)”, disse Leal.

O cabo Benevenuto Daciolo foi preso ao desembarcar no Aeroporto Internacional do Galeão quando voltava de Salvador, na Bahia. Gravações telefônicas autorizadas pela Justiça e exibidas pelo “Jornal Nacional” revelam conversas do cabo discutindo estratégias para fortalecer o movimento grevista no Rio e pressionar pela aprovação no Congresso da PEC 300 –emenda constitucional que prevê o estabelecimento de um piso nacional para os salários de policias civis, militares e bombeiros.

Em entrevista a rádio BandNews FM, Daciolo disse, após ter recebido voz de prisão, que estava na Bahia “tentando trazer a normalidade”.

O bombeiro se defendeu das acusações e afirmou que, caso não haja acordo em relação ao reajuste dos salários da categoria nesta quinta-feira (9), não só a corporação, mas policiais civis e militares vão parar em todo o Estado.

“Caso o governador não fale conosco, dia 10 haverá uma greve. No entanto será de forma mansa, pacífica, ordeira, sem colocar em risco a população, porque nós não seremos omissos com a população. Eu não sou bandido, não sou criminoso. Muito pelo contrário, sou um cidadão de bem que está em busca de dignidade, de uma categoria que se pede para ser tratada como tal”, afirmou.

De acordo com o secretário da Defesa Civil do Rio e comandante do Corpo de Bombeiros, Sérgio Simões, o cabo está preso administrativamente por ter infringido o Código Penal Militar pelo crime de incitamento. Ainda segundo Simões, Daciolo foi transferido do quartel do Comando Geral dos bombeiros para o presídio de Bangu 1 a fim de manter a ordem pública. O cabo deve continuar preso por 72 horas.

No ano passado, durante protestos, o quartel da corporação foi invadido e ocupado pelos bombeiros, sendo retomado pela Polícia Militar num confronto que acabou deixando muitos feridos e prendendo aproximadamente 400 bombeiros.

Assembleia na Cinelândia

Policiais militares, civis e bombeiros pretendem se reunir hoje à noite em assembleia geral na Cinelândia, centro do Rio, para deliberar sobre eventual possibilidade de greve da segurança a ser iniciada a partir de amanhã. As principais lideranças se queixam principalmente dos baixos salários praticados no Estado.

A Casa Civil do Rio enviou no início da semana um projeto de lei que deve ser votado hoje à tarde na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) prevendo um reajuste parcelado de 38,8% dos salários dos servidores até fevereiro de 2013. Pelo projeto, ao final deste período o salário base alcançaria o valor de R$ 1.669,00. Mais há mais de 7o emendas apresentadas pelos deputados estaduais que devem ser avaliadas.

Para Wanderlei Ribeiro, presidente da Associação de Praças e Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (Aspra-RJ), o valor é baixo, não satisfaz e deveria alcançar algo em torno de R$ 3.500 reais. “O Estado do Rio tem a segunda maior receita da federação, ano passado elas superaram as expectativas, o Estado não está em crise. Se fala muito em política de segurança pública, mas não se tem investido no trabalhador da segurança”, disse Ribeiro.

Em entrevista hoje pela manhã à rádio CBN, o secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse reconhecer que os salários vinham baixos há muito tempo, mas que eles têm sido melhorados constantemente. Beltrame disse ainda que não acredita em uma eventual greve, mas afirmou que o Estado estaria prevenido caso ela ocorresse.

*Com colaboração do UOL, em São Paulo