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Testemunhas dizem que ciclista morta na Paulista se desequilibrou após ser fechada no trânsito

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

02/03/2012 17h51Atualizada em 02/03/2012 17h57

Duas testemunhas que presenciaram o atropelamento da ciclista Juliana Dias, 33, na manhã desta sexta-feira (2) na avenida Paulista --perto da rua Pamplona--, região central de São Paulo, prestaram depoimento hoje no 78º Distrito Policial (Jardins). Juliana morreu no local após ser atingida na cabeça e na perna por um ônibus.

As testemunhas afirmaram que a ciclista se desequilibrou e caiu da bicicleta ao receber uma fechada de outro ônibus. O estudante Mateo Augusto, 17, que disse ter visto o acidente da calçada, relatou o momento em que a bióloga e pesquisadora gritou para o motorista que a fechou: "Eu tô aqui".

Segundo Mateo, Juliana teria dito ainda “Cuidado comigo” para outro carro que quase a atingiu momentos antes. Ela seguia pela segunda faixa, uma vez que a faixa da direita é exclusiva para ônibus de transporte coletivo e táxis.

Outra testemunha, a depiladora Maria Célia Reis Fagundes, 44, disse que o ônibus que atropelou Juliana trafegava em velocidade normal no momento do acidente. Maria Célia confirmou que a vítima teria se desequilibrado e caído da bicicleta depois de discutir com o motorista de um outro ônibus. Após a queda, ela foi atropelada pelo segundo coletivo, que passava na faixa da direita.

Conforme Maria Célia, o primeiro ônibus vinha pela terceira faixa (da direita para a esquerda), destinada aos demais veículos, e teria ido para o lado de Juliana pouco depois de ela gritar para o carro, que seguiu e foi embora. Ao desviar desse suposto avanço, ela teria se desequilibrado e caído –e em seguida, atropelada pela linha Sacomã-Pompeia, que vinha pelo corredor.

A Polícia Civil de São Paulo toma na tarde desta sexta-feira (2) o depoimento do motorista e do cobrador do ônibus que atropelou a ciclista. O cobrador já deixou o local e não quis falar com a imprensa.

Um amigo da ciclista esteve na delegacia e disse que a mulher é bióloga, nasceu em São José dos Campos (SP) e fazia diariamente o percurso entre o trabalho, perto da avenida Paulista, e a residência atual, na Vila Mariana (zona sul). Juliana trabalhava no hospital Sírio-Libanês.

No início da tarde, um grupo de ciclistas realizou um ato de protesto na avenida Paulista. Por volta do meio-dia, o grupo ficou por cinco minutos deitado na via até a Polícia Militar chegar. Alguns ciclistas resistiram à solicitação da PM para sair e tiveram que ser carregados para fora da avenida.

Polícia e CET buscam imagens de câmeras

Imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais na avenida Paulista deverão auxiliar a Polícia Civil de São Paulo nas investigações do acidente.

Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública), agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e policiais do 78º DP estão nesta tarde nas proximidades do acidente em busca de imagens de circuitos de segurança de estabelecimentos locais.

"Alegre e engajada"

Luiza Calandra, 26, gerente de comunicações e uma amigas da ciclista, afirmou hoje que ela era uma pessoa engajada por condições de acessibilidade aos ciclistas, alegre e que acreditava “em mundo melhor”.

Também ciclista, Luiza confirmou que hoje, às 19h, a ONG Massa Crítica vai fazer um protesto pedindo mais segurança a quem pedala pelas ruas de São Paulo. O ponto de partida será a praça dos Ciclistas, na Paulista, próximo à Consolação.

“O mais triste é que quem anda de bike corre risco todos os dias, mas a gente não vê ninguém mudando essas atitudes. Só no meu trabalho, metade dos colegas vai de bicicleta –todo mundo ficou arrasado hoje com a morte da Ju”, afirmou.

Ainda segundo Luiza, Juliana participava ativamente de movimentos que discutiam a acessibilidade urbana dos ciclistas e tinha um temperamento amigável. Sobre o fato da ciclista ter discutido com um motorista momentos antes do acidente, a amiga afirmou: “Todo mundo que eu conheço e que é ciclista tenta não ser agressivo com o desrespeito dos outros, mas chega um ponto em que não tem mais o que fazer”, definiu Luiza. “É indescritivelmente horrível isso que aconteceu, mas mais ainda por, aparentemente, ficar a sensação de que nada vai mudar.”

Outros casos

Em janeiro de 2009, uma ciclista também morreu na avenida após ser atropelada por um ônibus. Márcia Regina de Andrade Prado, 40, era uma ativista do ciclismo e sua morte gerou uma série de manifestações na região.

Em junho do ano passado, o ciclista Antonio Bertolucci, 68, que era acionista e presidente do Conselho de Administração da Lorenzetti, também morreu após ser atropelado por um ônibus fretado na avenida Paulo VI, na zona oeste da capital.