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Hopi Hari reabre com ingressos grátis e parentes de funcionários entre os frequentadores

Fabrício Calado

Do UOL, em Vinhedo (SP)

25/03/2012 12h10Atualizada em 25/03/2012 13h58

Após ficar fechado por cerca de 20 dias para inspeção, o parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP), reabriu na manhã deste domingo (25). Entre os frequentadores há parentes de funcionários e outros frequentadores que dizem ter ganhado os ingressos. Uma estimativa sobre o público presente não foi divulgado.

Segundo a assessoria de imprensa do Hopi Hari, hoje muitos parentes de funcionários entraram sem pagar por uma “política tradicional” da empresa e isso não teria relação com o acidente que matou a adolescente Gabriela Nichimura, 14, que caiu do brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador, há um mês e motivou a perícia e o fechamento do local. 

Na fila, os entrevistados pelo UOL se dividiam entre o medo e a animação. Havia dois grupos básicos: aqueles para quem o acidente não abalou a visita, e outros com receio de ir às atrações mais radicais.

"Minha filha mais velha não quis vir hoje, com medo do acidente", afirmou a funcionária pública Rosimar Silama dos Santos, 40, cujo ânimo não mudou após a morte da adolescente Gabriela Nichimura: "Vou brincar normalmente nos brinquedos. Se tivessem aberto o elevador, ia nele também."

O marido de Silmara, o operador de empilhadeira Wilson José dos Santos, 43, também se disse despreocupado de ir aos brinquedos. "Os que eu não ia é por medo mesmo, mas nada a ver com a morte da menina. Pode ter havido falha humana [no acidente], mas não podemos condenar o parque todo por isso.”

Já uma prima do casal, também presente ao Hopi Hari hoje, se disse assustada após o acidente. "Não vou nesses brinquedos de jeito nenhum, vim só pra olhar", disse ela, que não quis ser identificada.

Entrevistas com frequentadores e funcionários do lado de dentro do Hopi Hari foram proibidas pela assessoria –equipes da imprensa foram divididos em grupos e fizeram um tour guiado pelo parque.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Entenda o caso

A adolescente Gabriela Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos, mas sem sinalização. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu e morreu por traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abria quando o brinquedo era colocado em atividade.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.

Na nota, a assessoria do parque afirmou que avaliações preliminares apontam que sucessivas falhas humanas podem ter sido a causa da tragédia. O parque disse ainda que "cumprirá com suas responsabilidades perante a família, a Justiça e as autoridades técnicas".
 


Reabertura

O parque foi autorizado a reabrir após assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da administração do Hopi Hari com o Ministério Público. O acordo determina que os brinquedos West River Hotel e Simulakron, que ainda dependem de adequações, segundo o MP, ficarão interditados. Já o La Tour Eiffel está interditado por tempo indeterminado enquanto corre o inquérito policial sobre o caso.

“Nos últimos 20 dias, foram realizadas vistorias técnicas em todos os brinquedos do parque que, pelo novo TAC, se compromete a adotar uma série de providências recomendadas pelos órgãos técnicos para garantir total segurança aos usuários”, diz nota do órgão.

O West River Hotel precisará ser adequado às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o Simulakron precisará ter instalado um sistema de monitoramento por meio de câmera infravermelha, com operador exclusivo, diz o MP. “Em 30 dias, o parque deverá buscar junto ao fabricante do Simulakron a possibilidade de implementação de dispositivo que não permita o início ou a continuação da operação caso o cinto de segurança não esteja devidamente posicionado”, alega o órgão.

Já as atrações Montezum e Vurang deverão receber, de imediato, procedimento de duplo controle do fechamento das travas de segurança na operação. O parque também terá de aprimorar a orientação ao usuário, de forma a chamar a sua atenção para o efetivo fechamento das travas. A implantação dessas melhorias deverá ser comprovada em sete dias. 

Os fabricantes desses dois últimos brinquedos serão consultados sobre a possibilidade de implementação de dispositivo que impeça o início da operação, caso as travas de segurança não estejam corretamente posicionadas. 

O parque ainda deve consultar o fabricante da atração Vula Viking sobre a possibilidade de colocar uma "espuma injetada" na proteção de colo do usuário.

Pelo acordo, o Hopi Hari deverá comprovar ainda, no prazo de 30 dias, a contratação de serviço de consultoria, a ser realizada por "empresa de notória especialização", para realização de diagnóstico do sistema de qualidade, segurança, riscos e saúde do parque. Concluídos esses trabalhos, o parque deverá implementar todas as recomendações constantes do plano de implementação e, ao final do processo, apresentar o Certificado de Qualidade do Sistema de Gestão.

Ainda segundo o MP, o termo acordado também estabelece a obrigação do Hopi Hari executar, em até 60 dias, uma série de adequações e melhorias apontadas pelos pareceres técnicos emitidos pelo Centro de Apoio Operacional à Execução do Ministério Público após as vistorias realizadas em 13 atrações do parque.

O MP afirma ainda que o parque se comprometeu a não colocar em funcionamento qualquer brinquedo que apresente defeito conhecido que possa colocar em risco a segurança do usuário. Além disso, deverá implantar sinalização clara e objetiva acerca da impossibilidade de uso de determinado assento integrante de atração em operação.

O Hopi Hari também deverá substituir todo aviso ou comunicação visual dirigida aos técnicos de manutenção e operação, que esteja em língua estrangeira, por outro sinal ou aviso em português. E, no prazo de 12 meses, providenciará a tradução para a língua portuguesa de todos os manuais das atrações do parque. Também deve garantir o contínuo treinamento dos funcionários, afirma o MP. 

O TAC, assinado pela promotora de Justiça Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, prevê multa diária de R$ 95 mil para o caso de descumprimento de quaisquer das cláusulas.