Tarifa do metrô do Rio sobe a R$ 3,20, e problemas de lotação permanecem
Começa a vigorar nesta segunda-feira (2) o novo valor da passagem do metrô no Rio de Janeiro. A tarifa, que já era a mais cara do Brasil, passa de R$ 3,10 para R$ 3,20. Os problemas, entretanto, continuam os mesmos enfrentados pela população fluminense há muitos anos: superlotação e longos e irregulares intervalos entre as composições, que circulam constantemente com o ar-condicionado com defeito.
Nos horários de pico, os passageiros quase são obrigados a desafiar a lei da física que atesta que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Na linha-2, o aperto já começa na Pavuna, a primeira estação na zona norte, e vai piorando até a chegada ao centro da capital carioca.
Muitos usuários do metrô tentam driblar a superlotação viajando de volta da estação mais próxima até a primeira estação na expectativa de, pelo menos, conseguir um espaço mais confortável dentro do vagão. É o caso do publicitário Victor Gouveia, 29, que volta quatro estações para recomeçar a viagem da estação terminal Pavuna. “Sempre peguei o metrô às 8h para ir ao trabalho, mas há mais ou menos um ano tenho chegado às 7h40 para poder ir da estação do Colégio para a Pavuna e depois seguir para o centro. Ir direto para o centro, não existe essa possibilidade. Os trens já vêm tão lotados que você é obrigado a se espremer feito laranja, ou então fazer o que faço. Mas nem chegando cedo você consegue um espaço decente”, reclamou.
Outro grande problema enfrentado pela população é o constante defeito da refrigeração dos vagões. A aposentada Antônia Ferreira da Silva, 68, que vinha da estação de Coelho Neto, na zona norte do Rio, para uma consulta médica em Botafogo, zona sul, não aguentou o calor e precisou descer no meio da viagem, na estação Central do Brasil. “Minha pressão subiu. O metrô é sempre esse sofrimento. Hoje estava quente demais. Esses governantes não olham para o pobre. Tratam a gente como gado”, desabafou.
“Já assisti inúmeras vezes a pessoas de idade caírem na saída da composição na plataforma da Central e o povo passando por cima. Os seguranças veem o acidente e não reagem. Ficam assistindo de camarote”, declarou Victor Gouveia.
Enquanto os novos trens não chegam, o “serviço” oferecido aos passageiros é prestado pelos agentes da concessionária, que empurram as portas quando estas não fecham devido à superlotação.
A falta de acessibilidade também é outro grave obstáculo para portadores de necessidades especiais. A maioria dos elevadores da linha-2 ainda não está em operação. A concessionária prometeu colocá-los em funcionamento até o final do ano passado, mas não cumpriu.
As tarifas de metrô mais caras do país
Estado | Preço da passagem | Linhas | Estações | Extensão |
Rio de Janeiro | R$ 3,20 | 2 | 35 | 46,2 km |
São Paulo | R$ 3 | 5 | 64 | 74,3 km |
Distrito Federal | R$ 3 / R$ 2 (fins de semana e feriados) | 1 | 24 | 42,4 km |
Minas Gerais | R$ 1,80 | 1 | 19 | 28,1 km |
Rio Grande do Sul | R$ 1,70 | 1 | 17 | 33,6 km |
Trens chineses atrasados há quase dois anos
Prometidos para amenizar o sofrimento do usuário do metrô do Rio, 19 trens fabricados na China deveriam ter desembarcado na cidade em agosto de 2010, mas não foi o que aconteceu. A agência reguladora, Agetransp, aplicou multa de R$ 374 mil. A concessionária anunciou novo prazo, marcado para dezembro de 2011, novamente não cumprido. A Metrô Rio garante que, finalmente, o primeiro dos 19 novos trens chega ainda este mês e começa a operar em agosto.
Enquanto em São Paulo o tempo médio de espera por uma composição gira em média em torno de um minuto e meio, no Rio um trem pode levar mais de cinco minutos, mais rotineiramente nas plataformas da linha-2, que atendem a zona norte do Rio. Os intervalos irregulares são um drama para o trabalhador que precisa estar pontualmente no local de trabalho.
Para o coordenador de Análises e Prevenção de Acidentes do Crea-RJ (Conselho Regional de Engenheria e Agronomia do Rio de Janeiro), Luiz Antônio Cosenza, os intervalos do metrô no Rio nunca chegarão aos 90 segundos. O motivo é o traçado escolhido pela administração pública. Durante o governo atual, as linhas 1 e 2 foram “unidas” com as composições dividindo o mesmo trajeto a partir da estação Central.
“O raciocínio é simples. Às 8h sai um trem da linha-1. Às 8h02 sai um da linha-2. Às 8h04 sai um da linha-1 de novo. Quando chega na Central, os dois trens ocupam a mesma linha. Se o projeto original do Metrô fosse mantido, o usuário da linha-2 chegaria em uma linha exclusiva diretamente até a estação Carioca. Da maneira que está agora, o metrô nunca vai chegar aos 90 segundos. O modelo atual vai chegar a um limite”, sentenciou.
Diariamente cerca de 700 mil pessoas viajam nas composições do metrô do Rio. O modelo adotado pelo governo do Estado é o de concessão. O Grupo Invepar assumiu o controle operacional da concessionária Metrô Rio em 2008 ao pagar R$ 995,7 milhões ao Citigroup Venture Capital (CVC), Investidores Institucionais Fundo de Investimento em Participações (IIFIP) e à Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social (Valia).
Em nota, a Metrô Rio alega que não houve atraso na entrega das novas composições, já que a revisão e extensão do prazo estariam dentro do cronograma contratual. A empresa informa ainda que até março de 2013 todos os novos 19 trens deverão estar circulando.
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