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Em uma semana, temperaturas variam 37ºC no Rio Grande do Sul

Caxias do Sul (RS) amanheceu com sol; há uma semana, Estado tinha temperaturas negativas - Roni Rigon/Agência RBS
Caxias do Sul (RS) amanheceu com sol; há uma semana, Estado tinha temperaturas negativas Imagem: Roni Rigon/Agência RBS

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

14/06/2012 18h26

Há exatamente uma semana, corajoso era quem se aventurava a sair de casa para encarar as temperaturas próximas a 0°C em todas as regiões do Rio Grande do Sul. Já nesta quinta-feira (14), o cenário foi completamente diferente. Temperaturas beirando os 30°C fizeram com que os gaúchos se esforçassem para escolher a roupa no armário, substituindo as blusas e cachecóis por camisetas.

Depois de um feriadão de Corpus Christi com mínimas recordes, o Rio Grande do Sul entrou em uma semana com elevada acentuação das temperaturas. Desde segunda-feira (11), os termômetros estão subindo.

Uma das maiores variações registradas no Estado foi sentida em Santa Rosa (a 495 km de Porto Alegre), no noroeste gaúcho. Há exatos sete dias, os termômetros registraram -7°C, a menor do Rio Grande do Sul, durante a ação de uma intensa massa de ar polar que fez despencar as temperaturas em todo o Estado. Entretanto, hoje, os moradores do município enfrentaram um calor de 30°C, diferença que representa uma variação de 37°C em apenas uma semana.

“Na semana passada, tivemos geada que há muito tempo não víamos. E essa semana começou esse calor muito forte. As pessoas se queixam muito, porque estão sofrendo com a forte umidade, que faz com que a água escorra pelas paredes dentro de casa”, conta Valquíria Maria Dias, 54. Técnica de enfermagem em um posto de saúde no interior de Santa Rosa, ele afirma que as maiores prejudicadas com esses revés do tempo são as crianças. “Quando a gente veste elas demais, sentem calor, de menos, passam frio. É bem difícil.”

Animais

As variações da temperatura atingem especialmente quem depende do clima para sobreviver, como Fernando Schacht, 49. Criador de frango caipira na zona rural da cidade, o despertar hoje foi bem diferente do que na semana passada. “Quando está muito frio, a gente se veste com touca, luva, mas isso acaba atrapalhando o serviço. Os animais também sofrem. Temos que aquecer o aviário com fornos e fechar as janelas, porque, com o frio, o frango come menos e não se desenvolve”, comenta o avicultor.

Porém, fenômeno semelhante ocorre no calor. “Mas quando está quente, a ave acaba não comendo também. Então a gente tem que abrir o aviário para deixar o ar circular, limpar bem os bebedouros e dar bastante água”, revela Schacht.

Assim como Santa Rosa, São José dos Ausentes (a 233 km da capital), nos Campos de Cima da Serra, registrou uma grande variação térmica. Na última quinta-feira (7), os termômetros registraram -4,6°C. Já hoje, chegou a 23°C. O mesmo acontece em Canela (a 122 km de Porto Alegre), na serra. No sábado (9), fez -6°C, nesta quinta, 20°C.

Mudança da paisagem

Em Porto Alegre, a quinta-feira amanheceu abafada e ensolarada, chegando a 30°C à tarde, modificando a paisagem da cidade. Na última sexta-feira (8) fez -0,3°C , temperatura há muito não registrada na capital, o que afastou as pessoas das áreas ao ar livre. Bem diferente do registrado durante esta semana, quando os parques voltaram a ser amplamente frequentados, especialmente por quem faz exercício físico no início da manhã ou final da tarde.

O calor e o frio também estão interferindo no cardápio. “Na semana passada, servimos chocolate quente, sopa. Agora é salada, chá frio, suco”, revela Beatriz Ramos, 56. Auxiliar de nutrição em um hospital em Porto Alegre, ela comenta que a rotina em seu trabalho baseia-se na programação dos pratos para a semana. Com a elevação brusca das temperaturas, ingredientes comprados para a produção do cardápio de inverno estão sendo readaptados para pratos de verão. “Este tempo está uma loucura. Hoje teríamos sopa, mas com esse calor, tivemos que reinventar.”

Porém, é quem trabalha a céu aberto que sofre na pele esse sobe e desce. “Na semana passada estava muito frio pela parte da manhã. Moro na zona sul, perto do rio Guaíba, onde, geralmente a temperatura é menor. Como trabalho de moto, tenho que me vestir com uma roupa que bloqueie totalmente a passagem do vento, se não, não dá”, explica o motoboy Maurício Chaves, 42.

Por outro lado, dias quentes, como esta quinta-feira, fazem com que a labuta seja tão sofrida quanto. “A gente transpira bem mais, o que torna o trabalho muito desagradável. Ainda mais em dias de chuva, quando a gente tem que colocar roupa especial. Chega a passar mal.”

Autônomo, o dia que para, não recebe. “Essa mudança do frio para o calor foi muito brusca. Ataca a garganta e a sinusite. Mas não dá pra parar”, completa Chaves.

Previsão

Conforme a empresa de meteorologia MetSul, entre amanhã (15) e sábado (16) a instabilidade que está sobre o Rio Grande do Sul avança para o norte do Estado, com risco de pancadas fortes.

A região metropolitana de Porto Alegre apresenta risco de chuva intensa. “Segundo a maioria das simulações, [essa chuva] seria maior entre a tarde e a noite de sexta e o começo do sábado. Associados às nuvens de maior desenvolvimento vertical previstas para a segunda metade da semana, além da chuva podem se formar temporais isolados de vento forte e granizo”, afirma o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall.