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Greve de metroviários e ferroviários completa 30 dias e afeta 500 mil pessoas em cinco capitais

Mineiros aguardam a abertura do Metrô, no dia 15 de maio - João Miranda / O Tempo / Agência O Globo
Mineiros aguardam a abertura do Metrô, no dia 15 de maio Imagem: João Miranda / O Tempo / Agência O Globo

Aliny Gama e Rayder Bragon

Do UOL, em Maceió e em Belo Horizonte

14/06/2012 06h00

A paralisação dos trabalhadores que operam trens e metrôs da CBTU (Companhia Brasileira de Transporte Urbano) completa 30 dias nesta quarta-feira (13) e causa transtornos a cerca de 500 mil usuários do transporte coletivo em cinco capitais brasileiras.

Segundo dados da CBTU, a paralisação parcial do metrô em Belo Horizonte afetou 215 mil pessoas. Já a redução das viagens do Metrorec, em Recife, deixou 270 mil usuários prejudicados. Operando em horários de pico, a paralisação de trens em Maceió e João Pessoa afetou 11 mil pessoas. Já em Natal são 5 mil pessoas prejudicadas com a não circulação das duas únicas locomotivas em funcionamento.

Nesta terça-feira (12) havia uma expectativa dos sindicatos de metroviários e ferroviários pelo fim da greve, mas não houve acordo em uma reunião ocorrida na CBTU em Belo Horizonte. Representantes da empresa não aumentaram a proposta inicial, de 2% de reajuste, e os trabalhadores ameaçam realizar uma paralisação total de trens e metrôs nas cinco capitais. Nacionalmente, metroviários e ferroviários reivindicam o aumento salarial de e 5,13%, além de melhores condições de trabalho e colocação de outros trens em funcionamento.

Os trabalhadores iniciaram o movimento grevista em maio passado e reivindicam, no caso de Belo Horizonte, aumento salarial de 5,74%, participação nos lucros e aumento na abrangência do plano de saúde. Em Recife, os trabalhadores do Metrorec pedem o reajuste de 5,13%. Em João Pessoa e Natal, além das reinvindicações nacionais, os trabalhadores pedem melhores condições de trabalho. Em Natal, os ferroviários querem a reativação de mais uma das três locomotivas operadas pela CBTU entre a capital e duas cidades da região metropolitana.

A tentativa de negociação desta terça decorreu de um pedido do TST (Tribunal Superior do Trabalho) que versou sobre a possibilidade de os envolvidos chegarem a um acordo antes do julgamento do dissídio coletivo, pelo órgão, que está previsto para agosto.

A direção de empresa reafirmou a determinação de manter 2% de reajuste salarial – proposta que já havia sido apresentada durante audiência no TST, em Brasília (DF), na semana passada – e a promessa de não cortar os dias parados dos grevistas.

De acordo com o diretor administrativo-financeiro da CBTU, Lourival Júnior, a reunião ocorreu com o intuito de a empresa ratificar as propostas apresentadas no TST.

“Queríamos mostrar para a categoria um novo posicionamento da nova gestão da empresa, que assumiu na semana passada, no tocante ao compromisso de reaproximação com a categoria (...) mas eles estão direcionados a continuar com a greve e esperar o julgamento (do dissídio)”, afirmou.

Questionado se haveria a possibilidade de melhoria na proposta de reajuste salarial, o diretor salientou que não há margem para isso. “A empresa colocou na mesa o que ela tinha para colocar. O que foi colocado é uma nova realidade que a nova direção implementou, um novo perfil de negociação que não existiu nas dez reuniões passadas com os trabalhadores”, disse.

Radicalização

Os representantes dos trabalhadores mostraram-se contrariados com a manutenção do índice já ofertado no TST e prometeram radicalizar, paralisando totalmente o funcionamento das composições, apesar de liminares concedidas pela Justiça que determinam o funcionamento, sob pena de multa diárias aos sindicatos, dos trens e metrôs nos horários de pico.

“Nem a reposição da inflação no período a empresa quer pagar. Acreditamos que a CBTU tem condição de propor um índice melhor e diferenciado”, disse Alda Lúcia Fernandes, presidente do sindicato dos metroviários de Belo Horizonte (MG). Segundo ela, uma assembleia da categoria na capital mineira será realizada nesta quarta-feira (13).

“É um cenário plausível não só em Belo Horizonte, mas também nas outras cidades. Pode ser que de quinta-feira em diante, haja surpresa”, acrescentou a dirigente.

Já o presidente do Sindicato dos Ferroviários da Paraíba, José Batista de Brito, afirmou que saiu “frustrado” do encontro. Os trabalhadores estão em greve desde o dia 15 e vêm cumprindo escala mínima em João Pessoa no horário de pico.

“A gente veio com a esperança de que a empresa melhorasse o índice. Viemos de tão longe e a saímos frustrados”, afirmou o dirigente. A categoria vai se reunir nesta quarta-feira (13) em João Pessoa para definir os rumos do movimento.

O presidente dos Metroviários de Pernambuco, Lenival Oliveira, cuja categoria entrou em greve no Recife, no dia 14 do mês passado, afirmou que a empresa desrespeitou os trabalhadores ao convocar uma reunião considerada por ele como “palhaçada”. A categoria também cumpre escala mínima, no horário de pico, na cidade.

“Os governadores já deveriam estar fazendo uma intervenção política nessa questão (...). Se não tinha nenhum avanço a ser apresentando, por que nos chamaram aqui? Foi uma palhaçada e provavelmente vamos radicalizar e paralisar 100% o serviço”, afirmou Oliveira. Os trabalhadores do Metrorec vão se reunir nesta quarta-feira, às 18h.

A presidente do Sindicato dos Ferroviários de Alagoas, Ana Souza Araújo, também destacou que, na assembleia marcada para esta quarta-feira, em Maceió, a categoria poderá culminar na paralisação total do serviço prestado à população.

“A gente esperava um passo a mais na negociação. Infelizmente, nós temos uma possibilidade concreta de 100% de paralisação”, salientou a presidente. Segundo ela, a categoria cumpre escala mínima em Maceió.

Diretor do Sindicato dos Ferroviários do Estado do Rio Grande do Norte, Marcos Viana afirmou que ficou “indignado” com o resultado da reunião.
Em greve desde o dia 15 do mês passado e obedecendo a uma ordem judicial de escala mínima, em Natal, os trabalhadores também vão se reunir nesta quarta-feira para avaliar o movimento.“

Nós vamos avaliar, mas temos grande possibilidade de entrar na totalidade da paralisação. Nós temos que provocar algo, a greve já vai fazer 30 dias e não temos solução”, avaliou.

Viagens reduzidas

Em Belo Horizonte o metrô funciona apenas nos horários determinados pela Justiça. Estão mantidas 160 viagens, mas o metrô deixou de fazer 122 viagens diárias de segunda a sexta, na capital mineira.

Com 270 mil pessoas prejudicadas, Recife é a capital que tem o maior número de passageiros afetados diariamente desde o dia 15, quando foi deflagrada a greve. Devido a liminar judicial, o Metrorec mantém viagens apenas nos horários de pico, das 5h às 8h30 e das 16h30 às 20h. Aos sábados, o metrô opera das 5h às 13h. Já no domingo não ocorre nenhuma viagem.

Segundo a Associação Metrorec, filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), a paralisação dos trabalhadores é a que mais "teve metrôs parados". "Ainda não é a mais longa, mas é a greve que teve mais trens parados", afirmou o assessor André Justino.

Em greve desde o dia 14, os ferroviários de Maceió, João Pessoa e Natal também reduziram o número de viagens e só operam com 30%.

Em Maceió seis mil pessoas foram afetadas com a redução das viagens de trem entre a capital e a cidade de Rio Largo – que são realizadas no início da manhã com destino a Rio Largo-Maceió e, à tarde, no trajeto inverso.

Na capital da Paraíba a redução de 28 para 14 viagens prejudica dez mil passageiros, que se deslocam entre os municípios de Cabedelo e Santa Rita, localizados na região metropolitana.

No Rio Grande do Norte, a greve é geral. As duas únicas locomotivas que operam as linhas Parnamirim-Natal e Ceará Mirim-Parnamirim-Natal estão paradas e deixam cinco mil pessoas estão prejudicadas diariamente.