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Chefe do tráfico no Rio se entrega porque estava "cansado de se esconder da polícia"

Cartaz de procurado do traficante Puma - Divulgação/PMERJ
Cartaz de procurado do traficante Puma Imagem: Divulgação/PMERJ

Fabio Leite

Do UOL, no Rio

27/06/2012 16h00Atualizada em 27/06/2012 18h30

Chefe do tráfico de drogas do morro da Quitanda, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, Cristiano Santos Guedes, 39, o "Puma", se entregou nesta quarta-feira (27) na Secretaria de Estado da Segurança após cinco anos foragido e dizendo estar cansado de se esconder da polícia.

Puma era um dos principais traficantes da ADA (Amigos dos Amigos), uma das facções de narcotráfico do Rio, e tem quatro mandados de prisão em aberto por tráfico de drogas e tentativa de homicídio. Ele foi levado por integrantes da ONG AfroReggae após nove meses de negociação.

Segundo a Subsecretaria de Inteligência do Rio, a rendição de um líder do tráfico em uma área ainda não-pacificada é inédita no Estado. Além de comandar a venda de drogas na região do Complexo da Pedreira (zona norte), Puma tinha influência entre integrantes da mesma facção na favela da Rocinha (zona sul), como o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso em novembro de 2011.

"Desde quando fui solto estou escondido e não é legal ficar escondido. Queria há muito tempo, junto com AfroReggae para me dar essa força e sair da escuridão. Agora o espelho está voltando a brilhar", disse Puma, sem algemas, em coletiva de imprensa na sede da secretaria, no centro do Rio.

Puma contou que já havia abandonado o tráfico de drogas no fim de 2011, mas que não sentia confiança na polícia para se entregar. "Estar lá é a mesma coisa que estar preso. Queria levar minha filha no colégio, ficar com minha mulher, minha mãe e não tinha essa oportunidade", contou o traficante, que tem sete filhos.

O disque-denúncia oferecia R$ 2.000 pela captura de Puma. Ele já havia sido preso em 2005 e em 2007, por envolvimento no tráfico de entorpecentes no morro da Quitanda, um dos principais pontos de venda de drogas da zona norte. Deixou a cadeia pouco tempo depois graças a um habeas corpus e nunca mais voltou.

"Era pra mim (sic) estar triste, mas não estou triste. Com certeza as pessoas estão acreditando em mim e eu não vou decpecionar também. Vou sair daqui direto para o presídio e esperar julgamento para ver o que vai acontecer na minha vida. Aquilo lá não é vida pra ninguém", disse Puma, que foi levado para o presídio de Bangu (zona oeste).

Efeito UPP

O subsecretário de Inteligência do Rio, Fábio Galvão, disse que a entrega de Puma só foi possível graças ao programa de instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que começou em 2008 e hoje conta com 25 unidades, e espera que a repercussão do fato motive outros traficantes a seguirem o mesmo caminho.

  • Fabio Leite/UOL

    José Júnior (esq.), do AfroReggae, e o traficante Puma (camiseta branca) durante coletiva de imprensa na sede da Secretaria de Estado da Segurança, no centro do Rio

"Essa entrega do Puma é bastante marcante porque é pioneira. Não se trata de qualquer foragido. Ele tinha representatividade junto a sua facção. A leitura que fazemos disso é a falta de perspectiva, de que aquela vida é uma ilusão. O Puma cansou e resolveu se entregar e viver na legalidade. Por isso, a gente espera que essa repercussão seja bastante positiva para que outros façam a mesma coisa", afirmou.

Líder do AfroReggae e um dos negociadores no caso, José Júnior também destacou o papel das UPPs na rendição de Puma. "Naturalmente, nos últimos anos, o AfroReggae colaborou bastante em tirar pessoas do crime. Mas isso só foi possível também com esse processo de pacificação. A gente tem que dar crédito a isso", disse ele ao lado de ex-traficantes de todas as facções do Rio e de ex-milicianos.

Sem benefício

Segundo Júnior, a negociação com Puma começou há cerca de nove meses e não incluiu nenhum benefício ao traficante. Há um mês, Puma concordou em se entregar e a ONG marcou um ponto de encontro com a polícia para realizar a rendição.

"A única coisa que ele pediu foi uma semana para se despedir da família. Não houve benefício, Não houve condição alguma. Agora, aos olhos do juiz, um coisa é você ser preso e outra é você se entregar", disse o subsecretário Galvão.