Chefe do tráfico no Rio se entrega porque estava "cansado de se esconder da polícia"
Chefe do tráfico de drogas do morro da Quitanda, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, Cristiano Santos Guedes, 39, o "Puma", se entregou nesta quarta-feira (27) na Secretaria de Estado da Segurança após cinco anos foragido e dizendo estar cansado de se esconder da polícia.
Puma era um dos principais traficantes da ADA (Amigos dos Amigos), uma das facções de narcotráfico do Rio, e tem quatro mandados de prisão em aberto por tráfico de drogas e tentativa de homicídio. Ele foi levado por integrantes da ONG AfroReggae após nove meses de negociação.
Segundo a Subsecretaria de Inteligência do Rio, a rendição de um líder do tráfico em uma área ainda não-pacificada é inédita no Estado. Além de comandar a venda de drogas na região do Complexo da Pedreira (zona norte), Puma tinha influência entre integrantes da mesma facção na favela da Rocinha (zona sul), como o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso em novembro de 2011.
"Desde quando fui solto estou escondido e não é legal ficar escondido. Queria há muito tempo, junto com AfroReggae para me dar essa força e sair da escuridão. Agora o espelho está voltando a brilhar", disse Puma, sem algemas, em coletiva de imprensa na sede da secretaria, no centro do Rio.
Puma contou que já havia abandonado o tráfico de drogas no fim de 2011, mas que não sentia confiança na polícia para se entregar. "Estar lá é a mesma coisa que estar preso. Queria levar minha filha no colégio, ficar com minha mulher, minha mãe e não tinha essa oportunidade", contou o traficante, que tem sete filhos.
O disque-denúncia oferecia R$ 2.000 pela captura de Puma. Ele já havia sido preso em 2005 e em 2007, por envolvimento no tráfico de entorpecentes no morro da Quitanda, um dos principais pontos de venda de drogas da zona norte. Deixou a cadeia pouco tempo depois graças a um habeas corpus e nunca mais voltou.
"Era pra mim (sic) estar triste, mas não estou triste. Com certeza as pessoas estão acreditando em mim e eu não vou decpecionar também. Vou sair daqui direto para o presídio e esperar julgamento para ver o que vai acontecer na minha vida. Aquilo lá não é vida pra ninguém", disse Puma, que foi levado para o presídio de Bangu (zona oeste).
Efeito UPP
O subsecretário de Inteligência do Rio, Fábio Galvão, disse que a entrega de Puma só foi possível graças ao programa de instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que começou em 2008 e hoje conta com 25 unidades, e espera que a repercussão do fato motive outros traficantes a seguirem o mesmo caminho.
José Júnior (esq.), do AfroReggae, e o traficante Puma (camiseta branca) durante coletiva de imprensa na sede da Secretaria de Estado da Segurança, no centro do Rio
"Essa entrega do Puma é bastante marcante porque é pioneira. Não se trata de qualquer foragido. Ele tinha representatividade junto a sua facção. A leitura que fazemos disso é a falta de perspectiva, de que aquela vida é uma ilusão. O Puma cansou e resolveu se entregar e viver na legalidade. Por isso, a gente espera que essa repercussão seja bastante positiva para que outros façam a mesma coisa", afirmou.
Líder do AfroReggae e um dos negociadores no caso, José Júnior também destacou o papel das UPPs na rendição de Puma. "Naturalmente, nos últimos anos, o AfroReggae colaborou bastante em tirar pessoas do crime. Mas isso só foi possível também com esse processo de pacificação. A gente tem que dar crédito a isso", disse ele ao lado de ex-traficantes de todas as facções do Rio e de ex-milicianos.
Sem benefício
Segundo Júnior, a negociação com Puma começou há cerca de nove meses e não incluiu nenhum benefício ao traficante. Há um mês, Puma concordou em se entregar e a ONG marcou um ponto de encontro com a polícia para realizar a rendição.
"A única coisa que ele pediu foi uma semana para se despedir da família. Não houve benefício, Não houve condição alguma. Agora, aos olhos do juiz, um coisa é você ser preso e outra é você se entregar", disse o subsecretário Galvão.
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