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Polícia conclui ocupação de Manguinhos com hasteamento da bandeira e sem confrontos

Fernando Souza/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Imagem: Fernando Souza/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

14/10/2012 10h33

O governo do Rio de Janeiro considera ocupadas as favelas do Complexo de Manguinhos, na zona norte da capital, após a operação que começou na madrugada deste domingo (14). Por volta das 10h30 policiais hastearam a bandeira do Brasil e do Estado do Rio, o que marcou o fim da operação.

A solenidade foi realizada em uma praça na comunidade e assistida por dezenas de moradores. Estiveram presentes ainda policiais civis, militares, rodoviários federais (PRF) e fuzileiros navais, além de representantes da Defensoria Pública do Estado, que participaram ativamente no processo de ocupação, que abre caminho para instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas favelas do Manguinhos, Mandela e Varginha.

O comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais), tenente-coronel René Alonso, considerou tranquila a ocupação do território. “A incursão ocorreu de forma tranquila, com o apoio da Marinha, da forma que se esperava, sem vítimas. O território está retomado, agora vamos trabalhar. O desafio é vasculhar a região e, para isso, contamos com o apoio da população, por meio de informações”, disse René.

O Bope utilizou 150 homens na operação e permanecerá por cerca de quatro meses em Manguinhos, com cerca de 50 policiais por turno, até ser instalada a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), prevista para janeiro de 2013. Segundo o oficial, serão necessárias pelo menos quatro bases para atender à região.

A praça onde foi instalado o mastro das bandeiras foi construída pelo comerciante Marcelo de Carvalho, que tem uma padaria em frente. “Isso tudo era um lixão, cheio de ratos. Nós fizemos a praça nesse espaço degradado, aproveitando as sobras das obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]”, contou Marcelo, que estuda ciências sociais na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

O defensor público Felipe Almeida explicou que a presença da instituição visa garantir o respeito aos direitos humanos e que deverá ser instalado um núcleo da defensoria em breve. “Nós viemos para ver se tudo ocorreu dentro do respeito às leis, se houve algum relato de maus-tratos praticados pela polícia, mas os moradores receberam as forças policiais na maior tranquilidade”, disse o defensor.

"Hoje celebramos mais um passo na direção da paz plena", disse Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, que associou à ocupação das favelas à redução de homicídios, de roubos e de violência na região. "Os processos de instalação das UPPs encurralam as opções dos marginais", completou. 

Segundo o coronel Federico Caldas, relações públicas da PM do Rio, ninguém foi detido na operação. "A situação é de absoluta tranquilidade, não há incidentes. Mas estamos preparados para qualquer cenário", afirmou ele. "Agora segue um processo meticuloso de busca de drogas, de armas e a prisão de criminosos", completou.

Ocupação

Dez minutos após o início da operação realizada no fim da madrugada deste domingo, as forças de segurança já haviam ocupado completamente as cinco favelas do complexo de Manguinhos.

Os veículos blindados da Marinha abriram caminho, derrubando barreiras de concreto colocadas por traficantes nas principais vias de acesso à região. Em seguida, os policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) invadiram as comunidades.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, 165 agentes das tropas da Polícia Civil participaram de uma operação paralela na favela do Jacarezinho, comunidade vizinha. Dois helicópteros auxiliaram os policiais.

O esquema montado para a ocupação das favelas -- redutos da facção criminosa Comando Vermelho-- contou com o apoio de cerca de 900 policiais da Polícia Militar, incluindo os Batalhões de Operações Policiais Especiais (Bope), de Choque (BPChq), de Ação com Cães (BAC) e o Grupamento Aéreo-Marítimo (GAM), com apoio de efetivos e blindados dos Fuzileiros Navais. No total, 177 fuzileiros navais e cerca de 100 agentes e um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal completaram o efetivo.

Ainda de acordo com a PM, mais 400 policiais militares operaram simultaneamente na Baixada Fluminense e nas zonas norte e oeste, no cerco e na busca de armas, drogas e criminosos em ruas e comunidades.

Nos dias que antecederam a ocupação do Complexo de Manguinhos, as Polícias Militar e Civil realizaram várias operações de cerco e de busca e apreensão em diferentes comunidades – como Juramento, Chapadão e Antares – para inviabilizar possíveis rotas e locais de fuga dos traficantes.

Já a Secretaria Municipal de Assistência Social realizou uma ação para recolher moradores de rua em torno da Cracolândia de Manguinhos.

Resgate

O processo de pacificação dos complexos de Manguinhos e do Jacarezinho foi acelerado depois que criminosos fortemente armados invadiram, no dia 3 de julho, o distrito policial do Engenho Novo (25ª DP) e resgataram o acusado de tráfico de drogas Diego de Souza Feitosa, o DG, apontado como um dos líderes do crime organizado na região.

O suspeito havia sido preso horas antes, após sofrer um acidente de moto em um dos acessos à favela de Manguinhos. Ele tentou furar uma blitz policial em alta velocidade, na contramão, e acabou batendo contra um automóvel.

Ao ser socorrido por policiais do Bope e do Batalhão de Choque, o acusado de tráfico de drogas foi reconhecido, preso e posteriormente encaminhado para a delegacia do Engenho Novo.

Em nota, a Polícia Civil esclareceu que DG foi resgatado quando ocupava uma cela da 25ª DP, justamente no momento em que homens da Coinpol (Corregedoria Interna da Polícia Civil) realizavam uma diligência no distrito. DG é considerado homem de confiança do traficante Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, acusado de gerenciar as bocas de fumo em todo o Complexo de Manguinhos.

Marcelo Piloto

Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, vulgo “Marcelo Piloto" ou "Celo", é um dos criminosos que integram a cúpula da facção criminosa CV e atualmente é o responsável por comandar o tráfico de drogas nas comunidades Mandela 1, 2 e 3, no Complexo de Manguinhos.

Sempre armado com pistolas e fuzis, e cercado de seguranças, o traficante costuma promover bailes funk nas comunidades, impulsionados pela venda de drogas, e circular com veículos roubados, de acordo com informações do Disque-Denúncia. Ele também é considerado foragido do Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói.

Piloto possui antecedentes criminais por tráfico de drogas e roubo, e seus processos tramitam na 21ª e 30ª Varas Criminais da Capital. Além da acusação por tráfico de drogas, Veiga é suspeito de envolvimento em um esquema de venda de casas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de ser um grande comprador de armas e munições.

Após a prisão do presidente da Associação de Moradores da Favela do Mandela, a Polícia Civil descobriu que o esquema de venda de casas do PAC seria comandado pelo traficante, e que 12 residências foram entregues aos familiares de Marcelo Piloto.

Em junho de 2010, o acusado de chefiar o narcotráfico em Manguinhos foi flagrado em uma escuta telefônica feita pela polícia enquanto comprava munição para fuzil. De acordo com a polícia, exatamente um ano depois, Piloto participou e liderou os arrastões ocorridos na avenida Pastor Martin Luther King Jr., e nas saídas cinco e oito da Linha Amarela, por volta das 7h20. Em relatos na 21ª DP e na 44ª DP, vítimas o identificaram e contaram que os assaltos foram rápidos, não passando de dois minutos cada. (Com Agência Brasil)