Pode-se caminhar pela rua com tranquilidade, diz moradora da Rocinha sobre ocupação policial

No Rio de Janeiro

  • Antonio Scorza/AFP

    Atirador de elite toma posição em cima de prédio de escola, em frente à favela da Rocinha, no Rio

    Atirador de elite toma posição em cima de prédio de escola, em frente à favela da Rocinha, no Rio

Quase um ano depois da ocupação militar e policial que acabou com o controle os traficantes de drogas na favela da Rocinha, as autoridades inauguraram nesta quinta-feira (20), em clima de festa, a primeira UPP (Unidade da Polícia Pacificadora) da comunidade.

A Rocinha, com cerca de 70.000 habitantes e onde a polícia não podia colocar os pés durante mais de três décadas, conta desde esta quinta-feira com sua primeira UPP, que terá agentes treinados especialmente para fazer frente aos problemas da comunidade.

Desde a ocupação, há dez meses, "a situação melhorou muito, pode-se caminhar pela rua com tranquilidade, algo que antes não era possível, mas ainda há um longo caminho a percorrer", disse à "AFP", Edwirges Mattoso Kneip, uma aposentada de 63 anos nascida na Rocinha.

"Agora há bandidos roubando as casas, e não posso deixar minha casa sozinha. Antes a lei do tráfico dizia que, dentro da favela, não se podia roubar, e os ladrões eram castigados", acrescentou esta ex-funcionária de uma padaria, vestida com uma camiseta com a bandeira olímpica e o logo Rio 2016, presente do governo do Estado.

Reconquistar este território íngreme e cheio de vielas, abandonado pelo Estado nas mãos do narcotráfico, é um enorme desafio e os frutos serão vistos dentro de alguns anos, alertam as autoridades.

"A polícia está aqui e vai permanecer aqui para sempre", prometeu o governador do Rio, Sérgio Cabral, em cerimônia realizada sob uma persistente garoa na entrada da Rocinha, ao pés de um enorme arco projetado por Oscar Niemeyer.

A favela registrou 12 mortes este ano, a última de um policial de 25 anos que patrulhava a comunidade a pé na semana passada.

Em apenas 20% desta enorme comunidade é possível se locomover de carro e a favela deve ser patrulhada de moto e principalmente a pé, com apoio por rádio, explicou aos jornalistas o capitão Edson Santos, novo comandante da UPP da Rocinha, acrescentando que serão instaladas 100 câmeras para vigiar a comunidade.

A UPP da Rocinha será a 28ª instalada em uma favela do Rio desde 2008, quando a estratégia de ocupação destas comunidades começou para melhorar a segurança antes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

Há 10 meses, quando a favela foi ocupada, muitos moradores declaravam ter mais medo da polícia que dos traficantes. Hoje, as autoridades afirmam que ganharam a confiança da população e que os policiais corruptos são minoria.

"A comunidade da Rocinha nos aceitou. Há algumas críticas contra as UPPs. Sabemos que as mudanças não acontecem de imediato; serão percebidas quando as crianças de hoje tiverem 15, 16, 20 anos", disse o comandante-geral da polícia militar, Erir Ribeiro Costa Filho.

"A segurança está melhorando. As crianças podem ficar mais nas ruas", concorda Tayane, de 22 anos, que trabalha em uma loja de bijuteria local e não quis falar seu sobrenome. Tayane recebeu como presente um quebra-cabeça da UPP, com a imagem de uma polícia tocando pandeiro em frente a várias crianças, para sua filha de quatro anos.

"Tenho um filho adolescente que chega de noite e não consigo dormir até ele entrar em casa. A gente está sempre pensando no pior", contou Elsa Evangelista, uma empregada doméstica de 37 anos, que ainda lembra de uma manhã de 2007, quando saiu de sua casa e viu o cadáver de um jovem traficante na rua.

Cerca de 6.770 policiais estão mobilizados nas 28 UPP instaladas no Rio desde 2008. O governo espera chegar a 40 UPPs até 2014.

Durante a cerimônia, um policial capelão abençoou os agentes e a comunidade.

"Bem-aventurados os pacificados porque serão chamados filhos de Deus". Centenas de moradores responderam rezando um Pai Nosso em coro.

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