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"Agi em legítima defesa", diz atirador que baleou três pessoas em São Paulo

 Fernando Gouveia, 32, se rende após de atirar em três pessoas e ficar mais de 8 horas cercado pela polícia - Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Fernando Gouveia, 32, se rende após de atirar em três pessoas e ficar mais de 8 horas cercado pela polícia Imagem: Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Matheus Monteiro

Do UOL, em São Paulo

19/10/2012 07h40Atualizada em 19/10/2012 08h16

O delegado da Polícia Civil de São Paulo José Gonzaga Marques, que investiga o caso do atirador com transtornos mentais que baleou três pessoas nesta quinta-feira (18) no centro de São Paulo, disse que quem reagiu primeiro à presença da equipe que iria internar o homem foi a namorada dele, uma psicóloga de 45 anos, umas das vítimas. De acordo com Marques, a psicóloga não queria que ele fosse internado, então uma confusão aconteceu e Fernando Gouveia, 32, atirou.

No entanto, em um depoimento desconexo dado à imprensa na noite desta quinta-feira (18), Gouveia disse que só reagiu porque o oficial de Justiça, os três enfermeiros e o advogado da família Gouveia, que foram até a casa onde ele se encontrava para cumprir uma ordem de internação, não se identificaram em um primeiro momento.

“Agi em legítima defesa. Eles só se identificaram quando já estavam dentro da casa. Pensei que fossem pedreiros”, afirmou, confuso. No depoimento à polícia, Fernando disse ainda que não é esquizofrênico. Também nesta quinta-feira, a polícia colheu os depoimentos do pai, da mãe e de uma irmã de Gouveia. A família sustenta que ele sofre de esquizofrenia.

Segundo o advogado do atirador, Ricardo Martins de São José Júnior, Gouveia realmente "achou que era um assalto e agiu em legítima defesa".

Após prestar depoimento, o atirador foi levado para o IML (Instituto Médico Legal), onde será submetido a exames de corpo de delito. 

De acordo com o delegado, nesta sexta-feira (19), a Justiça deve decidir se ele vai aguardar o julgamento em algum Departamento Policial ou se será enviado a um manicômio judiciário. "É inconveniente mantê-lo na cadeia comum. É arriscado pra eles e pros outros presos" afirmou.

Segundo o delegado, ele foi encaminhado para o 31º Departamento Policial por ter diploma superior como administrador de empresas. "Lá não é tão violento e lotado como outras prisões".

Marques afirmou ainda que Fernando tem um registro de ocorrência de violência doméstica em seu nome, mas que ele diz não reconhecer.

Na casa de Gouveia foram encontradas algumas armas --com registro--, facões e espadas. O delegado afirmou que também vai investigar se os registros das armas foram conseguidos de maneira lícita, mas, segundo ele, Fernando teria comprado as armas antes das últimas alterações legais mais rigorosas.

Segundo vizinhos da casa onde ocorreu o incidente, Gouveia e a psicóloga estão juntos há cerca de três anos, e moram juntos na casa da rua Castro Alves há cerca de dois meses.

Rendição

O rapaz que baleou três pessoas se entregou após mais de oito horas de negociação com a polícia e membros do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais). O incidente aconteceu na rua Castro Alves, no bairro da Liberdade, zona central de São Paulo, próximo ao parque da Aclimação.

O homem, que sofre de transtornos mentais, se fechou em uma casa localizada na mesma rua após realizar os disparos, por volta das 8h30 da manhã, e se recusava a sair do local. A rendição ocorreu por volta das 17h. 

Segundo a polícia, Gouveia foi algemado e conduzido ao Hospital do Servidor Público Municipal para ser medicado. Ele tinha ferimentos na cabeça e na perna. Após passar pelo atendimento médico, ele seria encaminhado para a delegacia do 6º Departamento Policial. 

O atirador foi preso em flagrante por tentativa de homicídio tripla (contra as três pessoas que baleou pela manhã) e tentativa de homicídio, por ter atirado contra policiais. 

Por ser portador de transtornos mentais, Fernando Gouveia pode ser considerado inimputável pela justiça. Dessa forma, ele não sofreria pena de privação de liberdade, ficando sujeito a medidas de segurança, informou o tenente-coronel.

Ordem de internação

Tudo começou quando uma equipe composta por um oficial de Justiça, três enfermeiros e o advogado da família de Gouveia foi até a casa onde ele se encontrava para cumprir uma ordem de internação.

Ele teria se revoltado e efetuou os disparos com uma pistola 9 mm, segundo informações da polícia. Os tiros atingiram o oficial de Justiça, um enfermeiro e uma psicóloga, que seria noiva de Gouveia.

Após os disparos, policiais do 11º Batalhão da Polícia Militar foram acionados e dirigiram-se até o local. O suspeito atirou também contra os policiais, que não foram atingidos.

As vítimas foram socorridas pela polícia e levadas ao pronto-socorro do Hospital do Servidor Público Municipal. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o estado de saúde do oficial de Justiça, de 49 anos, do enfermeiro, de 37, e da psicóloga, de 45, é estável e eles não correm risco de morte. Os três já foram transferidos a hospitais particulares.

Início da negociação 

Após o atirador se fechar na casa, policiais do Gate assumiram as negociações de rendição. Segundo a polícia, nenhum parente de Fernando Gouveia participou. 

A polícia diz que o homem manteve contato com um policial negociador por telefone. Gouveia afirmava que possuía outras armas e estava ferido na cabeça e no braço. Os ferimentos teriam sido causados em uma luta corporal com um dos enfermeiros que integravam a equipe que queria internar o rapaz.

Atirador se entrega em São Paulo após horas de negociação

Durante as negociações, a rua Castro Alves foi interditada na altura do número 1.000 para permitir que os policiais conduzissem as conversas com o suspeito. Moradores e comerciantes do local foram orientados a não sair na rua. 

Cerca de 20 soldados da polícia estavam no local junto com a equipe do Gate.

Negociação termina 

No momento em que se rendeu, Fernando Gouveia foi algemado pelos policiais pela parte de fora de uma porta que ele não conseguia abrir. A porta estava com o vidro quebrado por conta dos disparos efetuados por Gouveia durante a manhã.

"Quando tivemos a total segurança do Fernando [de que ele não estava armado], ele pôs as mãos para fora, e nós o algemamos", disse o comandante da operação.

"Ele mostrou que não estava armado e disse que deixou uma arma na cozinha e a outra no quarto", afirmou. "Ainda estava perturbado [no momento da prisão], percebemos isso pelo movimento de olhos."

Segundo o policial, toda a negociação foi conduzida para garantir a segurança de Gouveia e para que ele se rendesse. O tenente-coronel disse que serão apuradas as causas dos disparos efetuados por Gouveia. 

Interdição judicial

Segundo o delegado José Marques, a mãe de Fernando Gouveia entrou com um pedido de interdição judicial após o filho, que sofre de esquizofrenia, sair de casa há cerca de dois meses.

O advogado contratado pela família de Gouveia, José Conciolito, disse que a mãe localizou o filho após algum tempo desaparecido, morando na casa de uma psicóloga. Ela teria pedido a interdição por ele não ter voltado para casa.

Ainda segundo Marques, após ser interditado, Fernando passaria por uma avaliação e poderia ser internado em uma clínica particular em Itapira (a 164 km de São Paulo).