Morador há um mês no aeroporto no Rio, idoso acha família no Brasil, mas quer voltar aos EUA
Quem vê Adauto Luis de Souza, 80, com sua pasta preta, vivendo com ajuda para comer e se vestir, na maioria de funcionários e passageiros no aeroporto internacional Antonio Carlos Jobim (Galeão), há cerca de um mês, não imagina que ele morou por quase toda sua vida nos Estados Unidos, no Alaska, em Fairbanks, trabalhando com o tratamento de água. Depois de uma busca frustada por sua mãe, que descobriu estar morta, Souza não tem dinheiro para voltar aos Estados Unidos, país que tem como pátria.
Nascido em Surubim (124 km do Recife), Souza encontrou outro país quando retornou ao Brasil. “Aqui não encontrei nenhum parente. Meu desejo é voltar para o Alaska”, disse o aposentado. Ele diz, sem muita convicção, que morou nos últimos 50 anos nos EUA.
Agentes da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) localizaram Roberto Luis de Souza, 53, que diz ser sobrinho do idoso, reconhecido inclusive por outros familiares de Pernambuco. A empresa afirmou ter tomado conhecimento de que havia alguém dormindo no aeroporto apenas na terça-feira (28).
“O senhor sabe quem sou eu?”, perguntou Roberto ao idoso, recebendo uma negativa com a cabeça como resposta. Adauto, no entanto, se interessou pela conversa, chegando a perguntar se na casa de Roberto havia pé de jaca.
O sobrinho contou que Adauto e um irmão foram tentar a vida nos Estados Unidos e nunca mais deram notícias. “Eu não conhecia esses tios que tinham ido tentar a vida fora do país. Minha avó que tinha uma foto com os dois. Ele merece uma cama boa, tomar um banho e ser cuidado. Mas é ele que vai decidir se quer ir comigo”, afirmou.
Na delegacia de polícia do Galeão, o idoso decidiu não ir para a casa do sobrinho e disse que continuará no aeroporto.
Não sabe como chegou ao Rio
Com um olhar vago, “seu Adauto”, como é chamado por aqueles que já se acostumaram com ele por ali, tenta buscar na memória como foi parar no aeroporto do Galeão. Não tem obtido sucesso. Ele não dispensa uma conversa e pede constantemente para ficar na parte de fora do terminal, para poder fumar.
“Eu fumo quase dois maços por dia. Meu médico falou que era bom tomar uma taça de vinho, mas eu prefiro o cigarro (risos). Meu Green Card [visto permanente de imigração] foi roubado, mas eu tenho o número dele”, disse Souza.
"Quero ajuda com a passagem para poder voltar para casa. Eu gosto da vida e lá, é muito frio, mas você se acostuma. Não tive filhos, fui sempre sozinho. Saí de lá para ver se eu tinha parentes, fui ao Recife para ver se minha mãe estava viva. Nada deu certo. Eu voltei para cá, dormi na calçada, mas me autorizaram a dormir onde os passageiros dormem. Eu sou aposentado lá [nos EUA].”
Atendimento
A Prefeitura do Rio mantém um posto no terminal, com a Guarda Municipal e agentes da Secretaria de Ordem Pública. Deportados recém-chegados e não admitidos no país recebem atendimento no local. Mesmo Souza não se enquadrando nesses dois casos, o idoso recebeu atendimento e optou pelo não auxílio do órgão.
Ele foi encaminhado para o abrigo municipal Stela Maris, na Ilha do Governador, por duas vezes, mas optou por não permanecer lá. Por causa da proximidade com o terminal, o trajeto de volta ao aeroporto pôde ser feito a pé. “Lá não é lugar para mim”, disse o aposentado.
O abrigo oferecia alimentação, pouso e local apropriado para higiene pessoal. “Na cabeça dele, facilitaria voltar para casa mais facilmente se permanecesse no aeroporto”, contou um agente municipal, que não se identificou.
Com a ajuda de funcionários do aeroporto, o idoso recebeu algumas roupas, comida e documentos, como carteira de trabalho e CPF. Ele ainda aguarda o trâmite legal para que o passaporte seja expedido pela PF (Polícia Federal).
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