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Nove são presos no Rio em operação contra policiais civis que cobravam propina para liberar cargas

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/12/2012 10h55Atualizada em 18/12/2012 15h06

Nove pessoas foram presas na manhã desta terça-feira (18) na Operação Carga Pesada, realizada pela CGU (Corregedoria Geral Unificada) da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, cujo objetivo era desarticular uma quadrilha formada por policiais civis lotados na DRFC (Delegacia de Roubos e Furtos), que teriam como cúmplices um policial militar e um bombeiro.

De acordo com o superintendente operacional da CGU, Marcelo Fernandes, informantes que faziam parte do esquema interceptavam cargas roubadas ou passavam informações aos policiais envolvidos sobre caminhões com cargas irregulares. Os policiais usavam o pátio da DRFC para guardar o material, usando um caminhão, que segundo as investigações, já estava na delegacia há pelo menos quatro anos. Uma das cargas encontradas no caminhão foi avaliada em R$ 140 mil, segundo a CGU.

“Esses policiais, ao invés de agir dentro do que era esperado, apresentando o material irregular, agiam sempre buscando o acerto para liberar a carga”, disse Fernandes.

Dos presos, quatro policiais eram da DRFC, um era PM do 15º Batalhão (Duque de Caxias); um era bombeiro, um era policial civil aposentado e um era ex-policial militar. Além deles, um homem que atuaria nas operações como informante e como falso policial foi detido.

Há mais dois indiciados no inquérito, que não são policiais e contra os quais não há mandado de prisão expedido. Segundo a Secretaria de Segurança, depoimentos de vítimas e escutas telefônicas apontam que os policiais envolvidos se dedicavam quase que exclusivamente à obtenção de vantagens indevidas.

O esquema começou a ser desvendado pela CGU no ano passado quando comerciantes dos bairros Jardim Primavera e Campos Elíseos, em Duque de Caxias, foram à Corregedoria denunciar que eram obrigados a pagar desde 2008 uma taxa de segurança ao policial militar Alex Sander dos Santos. 

O PM tirava proveito da falta de alvará dos estabelecimentos para exigir o pagamento, que variava entre R$ 50 e R$ 100 mensais. Cabia ao policial civil Roberto Carlos Gomes Cavalcanti arrecadar o dinheiro. Os dois foram presos na manhã desta terça-feira.

Ao ser transferido da DRFC, de acordo com a denúncia do Ministério Público, Cavalcanti trouxe mais dois agentes para dentro do esquema. Os policiais civis Alessandro Alves Trindade e Wellington de Oliveira, também presos pela manhã, foram os primeiros a se associar ao esquema, formando a equipe operacional “Antares 06.

Comerciante teve a casa invadida por policiais

Um comerciante especializado na venda de jogos eletrônicos sem comprovação de origem, que se recusou a pagar a propina teve, em junho deste ano, a casa invadida pelos policiais participantes do esquema em uma ação ilegal, já que não havia nenhuma ordem judicial de apreensão na casa.

O homem, morador do Maracanã, tem uma barraca no comércio popular da rua Uruguaiana, no centro da cidade. Segundo a denúncia do MP, os policiais civis Roberto Carlos, Alessandro e um dos informantes do grupo, Sandro Gomes de Oliveira, o “Chupeta”, também preso hoje na operação, revistaram a casa e apreenderam videogames e caixas de jogos supostamente de origem ilegal.

O comerciante afirmou que os denunciados exigiram R$ 10 mil para liberar uma carga sem nota fiscal. Como se recusou a pagar, ele teria sido encaminhado à DRFC, na Pavuna, onde o valor da propina teria sido reduzido para R$ 5 mil. A vítima optou por não pagar e ligou para a Corregedoria Interna da Polícia Civil.

“Quando esses policiais e o informante envolvidos no esquema chegaram à casa do comerciante encontraram ele, a mulher e as duas filhas do casal. Ainda assim ameaçaram prender todo mundo caso o pagamento não fosse feito. Como o comerciante não aceitou pagar a propina, fizeram a apresentação do material na DRFC”, disse o promotor de justiça do Gaeco, Jorge Magno.

Outros dois informantes presos são o sargento do Corpo de Bombeiros, Gilmar Antônio Rodrigues de Oliveira e o ex-soldado da PM Maurício Xaday do Nascimento Costa.

Chefe de cartório regularizava apreensões ilegais

Segundo o promotor, cabia ao chefe de cartório da DRFC, Paulo João Reche Monteiro de Barros, regularizar a apreensão ilegal para que o material fosse apresentado na delegacia. “Ele fazia o RO (Registro da Ocorrência) para que o material fruto de busca ilegal fosse apresentado”, disse Magno.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, o chefe de cartório agia sempre que o material apreendido pelos policiais participantes do esquema não resultava em pagamento da propina exigida. “Caso não resultasse no esperado, e sempre que fosse necessário, ele procurava a quadrilha, fazendo uso da máquina administrativa cartorária, dando um verniz de legalidade às suas atividades (...) lavrando apreensões”, diz a denúncia do MP.

Ainda de acordo com a Secretaria de Segurança, os agentes da DRFC exigiam R$ 400 mensais de comerciantes na região de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para que os mesmos não fossem importunados pelos policiais da delegacia. O policial militar lotado no 15º BPM auxiliava nessa operação. Fazia ainda parte do esquema o policial Sérgio Machado, que, mesmo aposentado, continuava a atuar na delegacia.

Além dos nove presos, outras duas pessoas, Marino Costa e Greiciane Silva, foram denunciadas pelo Ministério Público, segundo a denúncia, por serem responsáveis por intermediar com terceiros a venda de cargas mantidas clandestinamente no caminhão-baú situado no pátio da DRFC.

Apoiaram a operação da Secretaria de Segurança Pública o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público Estadual,  a Coinpol  (Corregedoria Interna da  Polícia Civil), a Corregedoria da Polícia Militar,  a Draco-IE (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais) e a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.