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Secretaria de Saúde sabe da falta de médicos e errou na escala dos plantões, diz Cremerj

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

26/12/2012 11h40Atualizada em 27/12/2012 09h33

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) vai abrir nesta quarta-feira (26) uma sindicância para apurar o que fez o médico Adão Orlando Crespo Gonçalves faltar na noite do Natal (24) ao plantão para o qual estava escalado e registrado no Diário Oficial do Município, no Hospital Municipal Salgado Filho, zona norte do Rio. 

A ausência do neurocirurgião fez a menina A.S.V., 10, esperar durante oito horas para ser operada, depois de ter sido atingida por uma bala perdida na cabeça, quando estava na porta de casa, em Piedade, zona norte do Rio. A menina estava indo em direção à mãe, para mostrar a boneca que havia ganhado de presente, quando foi atingida e caiu desacordada.

Segundo Luís Fernando Moraes, ex-presidente e atual conselheiro do Cremerj, a falta crônica de médicos na rede municipal de hospitais existe há anos, e, além de neurocirurgiões, há poucos anestesistas e ortopedistas. O médico apontou ainda um erro na escala dos plantões.

“Havia um neurocirurgião de plantão, quando a resolução do Cremerj obriga os hospitais a terem dois. Nós estamos muito preocupados com essa situação. Estamos às vésperas do Réveillon e isso pode acontecer outra vez”, alerta. “É espantoso ver a Secretaria de Saúde dizer que não sabe da necessidade de mais médicos nos hospitais. Todas as unidades municipais precisam de mais profissionais. Aonde deveriam ter quatro médicos, existem dois”, afirma, ressaltando que o conselho já notificou o Ministério Público sobre essa questão.

Moraes explicou que os hospitais da cidade trabalham com médicos concursados e terceirizados. Pelo convênio com a Prefeitura, a Fiotec (fundação ligada à Fiocruz) é a responsável por contratar profissionais para os órgãos de saúde do município.

“A Secretaria optou por um sistema que claramente não está funcionando. Eles abrem concurso para os hospitais públicos com salários de R$ 1.200, R$ 1.500 e sabem que ninguém vai fazer. Os médicos podem ganhar sete vezes mais em outros lugares, e os que são terceirizados pela Fiotec também recebem mais do que eles. Trabalha o terceirizado ao lado do concursado. Como você faz a mesma coisa que seu colega e ganha muito menos? Isso não tem como dar certo”, critica. “Trabalhar por esse salário é desumano.”

A Secretaria Municipal de Saúde divulgou nota no fim da noite desta quarta-feira (26), e explicou que não errou na escala do plantão do Hospital Salgado Filho.

"Para lotação de especialistas, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC) segue as diretrizes da Política Nacional de Atenção a Urgências - Portaria 2.048 de 2002 do Ministério da Saúde, que não obriga a permanência de dois neurocirurgiões por plantão", diz a nota. "O quantitativo nas emergências é definido conforme estudo de demanda da SMSDC, e de acordo com o perfil e serviços oferecidos em cada unidade, buscando otimizar o uso da rede, uma vez que as unidades municipais trabalham de forma integrada", diz o comunicado.