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Polícia do Rio abre inquérito por racismo de funcionário de farmácia contra menino

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

06/02/2013 08h48

A aposentada Carmem Maria dos Santos, que ontem havia acusado um funcionário de uma farmácia da rede Pacheco, no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio, de ter cometido um ato racista contra seu neto de 11 anos, prestou queixa no fim da tarde desta terça-feira (5) na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). Foi, por isso, aberto um inquérito por injúria qualificada pela prática de racismo.

Os funcionários da farmácia foram chamados para prestar depoimento, mas o suspeito ainda não foi identificado. A polícia já solicitou as imagens das câmeras de segurança do local.

Em entrevista à "CBN", que foi ao ar na segunda-feira (4), a aposentada contou que, enquanto pagava as compras, o funcionário colocou as mãos sobre os ombros de seu neto de criação e perguntou à operadora de caixa, por duas vezes, se o garoto estava incomodando os clientes, sem saber que ele estava acompanhando a avó. Segundo ela, a criança ficou abalada e chorou muito.

"Ele (o funcionário) colocou a mão no ombro dele (criança) e perguntou se ele estava incomodando. Eu falei: ‘não acredito que você está falando isso com ele. Se fosse branco de olho azul, você não estaria falando isso. Agora, porque ele é negro você está falando isso?’", contou Carmem. "Meu neto virou para mim disse:’ vovó, fica quieta (sic), deixa para lá, é por isso que eu não gosto de ser preto’."

De acordo com a delegada Adriana Belém, a pena para esse tipo de crime, que é inafiançável, varia de um a três anos de reclusão.

Em nota enviada ao UOL ontem (5), a assessoria da farmácia explicou que a empresa estava apurando a denúncia com o funcionário e não soube dizer quais serão as medidas adotadas, caso fique comprovada a atitude preconceituosa.

"Com relação ao suposto caso de racismo ocorrido em uma de suas unidades, a empresa esclarece que já está em processo de apuração do fato e tomará as medidas necessárias. A companhia reforça que tem como um de seus valores a ética em seus relacionamentos, com responsabilidade comercial e de gestão", diz o texto. "O compromisso em atender bem aos seus clientes é validado com o treinamento e monitoramento constantemente de todas as equipes de atendimento na rede para a prestação do melhor serviço."

A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio divulgou nota na tarde desta terça-feira (5) na qual repudiou o suposto ato racista. 

Segundo caso este ano

Este é o segundo caso que vem à tona em menos de um mês. No dia 12 de janeiro, um funcionário da Autokraft, revendedora autorizada da BMW, foi acusado de ter cometido atitude racista contra um menino de sete anos em uma loja na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Na versão dos pais adotivos do menor, Ronald Munk e Priscilla Celeste, a vítima teria sido confundida com uma criança de rua ao se aproximar do casal. Na condição de clientes, ambos conversavam com o acusado a respeito do interesse na compra de um automóvel.

"Eu e meu marido somos brancos e nosso filho é um menino negro de sete anos. (...) Enquanto olhávamos os automóveis aguardando atendimento, nosso filho assistia TV sentado no sofá. O gerente de vendas da concessionária veio nos atender. Estávamos conversando com ele, quando nosso filho se aproximou de nós. O gerente voltou-se imediatamente para ele e, sem pestanejar, mandou que ele se retirasse da loja, dizendo que ali não era lugar para ele", afirmou Celeste.

Em face do espanto do menor, que, de acordo com o relato do casal, permaneceu em silêncio, o funcionário teria insistido em expulsá-lo da loja. Questionado por Munk a respeito da suposta atitude racista, ele teria respondido: "(...) Porque eles pedem dinheiro, incomodam os clientes. Tem que tirar esses meninos da loja". Ao ser informado de que o menor era, na verdade, filho dos clientes que estavam à sua frente, o gerente teria ficado "completamente sem ação", segundo Celeste.

Em nota divulgada à época, a BMW Group afirmou ter tomado conhecimento dos fatos, mas argumentou que "nenhum funcionário seu esteve presente na data do acontecimento, não podendo dessa forma atestar a veracidade dos fatos relatados por parte dos clientes, tão pouco da concessionária", uma vez que o acusado é vinculado à autorizada.

A empresa confirmou ainda que, "apesar de não ter conhecimento dos fatos, em respeito aos seus clientes, enviou mensagem aos mesmos, desculpando-se pelo ocorrido e explicando a sua relação jurídica e comercial com a concessionária".