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"Menores não nos mataram porque não quiseram", diz professora feita refém em rebelião na Fundação Casa

 Funcionário mantido refém por internos da Fundação Casa deixa local após ser liberado com fim da rebelião - Thiago Varella/UOL
Funcionário mantido refém por internos da Fundação Casa deixa local após ser liberado com fim da rebelião Imagem: Thiago Varella/UOL

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 16h38

Os sessenta menores que se rebelaram na manhã desta quinta-feira (21) na unidade Vila Conceição da Fundação Casa, na zona leste de São Paulo, estavam armados com facas, enxadas, pés-de-cabra e até querosene, segundo os reféns.

"Eles não mataram todo mundo porque não quiseram. A unidade ficou totalmente incendiada", disse a professora Patricia Andrade, feita refém ao lado de outras 17pessoas, incluindo o diretor da unidade.

Patrícia contou que apesar de ter sido pega de surpresa pela atitude dos adolescentes, uma rebelião como a desta quinta já era esperada. A professora denunciou as péssimas condições de trabalho na unidade.

"Os funcionários estão com medo de falar. Eles trabalham muito além do horário", disse. "Geralmente ficam dois ou três agentes cuidando de todos os 60 internos. Por isso, a maioria dos menores fica confinada nos módulos, que é onde eles dormem e comem."

A professora disse que, por causa do número reduzido de funcionários, os internos saem dos módulos em pequenos grupos e ficam a amior parte do tempo praticamente presa.

"Por isso eles estão tão revoltados. Eu mal consigo dar aula", disse Patrícia que leciona há cinco anos na unidade.

Um agente de segurança que foi feito refém, mas não quis se identificar, contou que a rebelião começou quando um grupo estava sendo transferido de um módulo que passaria por uma reforma.

"A unidade tem quatro módulos com 15 internos em cada um. Só que a lotação ideal é de dez adolescentes por módulo. Com a reforma, a unidade ficaria superlotada", disse.

O funcionário contou que esta foi a pior rebelião que ele viu nos últimos 13 anos na unidade. Os internos deixaram os reféns no pátio e escolheram alguns para torturar e agredir. "Isso é uma tragédia anunciada. Eles nos ameaçam. Dizem que vão matar os funcionários", contou.

A corregedoria-geral da Fundação Casa afirmou que irá investigar as causas da rebelião. O motim começou às 9h30 e, após negociação feita pela Superintendência de Segurança da Fundação Casa, terminou por volta das 13h30. A Polícia Militar não chegou a entrar na unidade.