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Acusado de mandar matar extrativistas diz que ficou "sentido" com crime

Carlos Madeiro

Do UOL, em Marabá (PA)

03/04/2013 20h35Atualizada em 03/04/2013 21h50

Acusado de mandar matar o casal extrativista Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, assassinados em 2011, em Nova Ipixuna (582 km de Belém), o pecuarista José Rodrigues Moreira negou o crime e afirmou que não teve nenhum desentendimento com as vítimas.

O réu foi o primeiro interrogado na noite desta quarta-feira (3), primeiro dia de júri popular dos acusados no processo –além de Rodrigues, também são apontados como autores Lindonjonson Silva Rocha (irmão de Rodrigues) e Alberto Lopes do Nascimento.

Antes dos interrogatórios, nove testemunhas prestaram depoimentos, na primeira fase do júri, que começou nesta manhã e deve ser encerrado na noite desta quinta-feira (4).

Casal de extrativistas é assassinado; relembre o caso

  • O crime, ocorrido em 2011, ressalta a violência contra militantes de defesa da natureza na região Norte, que já viu o seringueiro e sindicalista Chico Mendes e a missionária americana Dorothy Stang serem mortos por questões agrárias. O casal recebeu ameaças antes de morrer (vídeo acima)

“Nunca tive conflito com ninguém. Eu não discuto com ninguém, nem guardo mágoa. Eu não tinha nenhum conhecimento das duas vítimas, muito menos qualquer desentendimento. Para dizer que nunca tive contato, passei de moto uma vez por eles. Mas falar com eles, nunca”, disse, afirmando que “seria incapaz de matar alguém.” “Quando soube [da morte], fiquei muito sentido, pois eram seres humanos.”

Terras legais

Rodrigues negou que existisse um conflito de terras, mas confirmou que havia três agricultores vivendo nos dois lotes de terra que ele pagou R$ 100 mil para adquirir.

“Mas nunca tive conflito com quem morava lá. Na verdade, eu não paguei pelas terras, mas pelas benfeitorias. O dinheiro foi dado a duas pessoas que moram em Itupiranga”, disse, sem saber indicar onde vivem, hoje, as pessoas que receberam o valor.

O acusado negou que a terra foi comprada a uma cartorária de Marabá e defendeu a legalidade dos lotes.

"A terra foi adquirida com autorização do Incra, ela não era ilegal. Fui procurar os agricultores, mostrei os documentos, mas, mesmo assim, eles permaneceram lá. A polícia chegou a ir lá, não só por esse fato, mas não tiraram não. Conversei numa boa, que não sou de confusão, e ele disse que queria receber R$ 3.000 para sair. Ele recebeu, mas depois voltou”, disse.

Segundo o Ministério Público Estadual do Pará, o documento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) não existe e não consta no processo.

DNA e choro

Questionado sobre o exame de DNA feito em dois fios de cabelo achado no capuz de mergulho encontrado próximo ao local do assassinato, que apontou para compatibilidade com o DNA dele e do irmão Lindonjonson, o acusado negou qualquer uso de objeto do tipo.

“Nunca vesti nenhuma vez um capuz de mergulho. Se algum documento diz isso, é uma inverdade”, disse.

Ao fim das perguntas do juiz, Rodrigues chorou ao dizer que tem um filho recém-nascido. “Não tem ninguém da minha família violento, não é justo o que estou passando. Quero que Deus me devolva a meus filhos, à minha família. Não mereço não estar preso”, disse, de joelhos, na frente dos jurados.

Outros interrogatórios

Na mesma linha do irmão, Lindonjonson –que é acusado de executar a tiros os extrativistas-- chorou durante boa parte do interrogatório e alegou inocência. “Tem ninguém assassino na minha família, não! É uma injustiça o que o Ministério Público está dizendo”, disse.

Segundo ele --que teria sido visto por um agricultor passando de moto, no dia do crime, nas proximidades do local do assassinato--, havia duas semanas que ele não ia a Nova Ipixuna. “Estive lá 15 dias antes [da morte do casal]. No dia do assassinato eu estava em Nova Descoberta. Dizer que me viu lá é mentira das grandes”, afirmou.

Assim como o Rodrigues, Lindonjonson negou qualquer desentendimento entre ele e o casal assassinado. “Nós somos bodes expiatórios. Eu estava em casa, na roça do meu pai. Sai para ir na roça de manhãzinha, sai também também para comprar remédio para meu irmão”, afirmou.

Sobre as armas apreendidas, Lindonjonson afirmou que os dois revólveres e uma espingarda apreendidos pela operação policial que culminou em sua prisão, não eram de sua família.

“Tudo indica que eram de dois policiais que chegaram lá à paisana, que colocaram no sábado [um dia antes da prisão]. Eles dormiram lá e, no outro dia, os policiais cercaram a casa e pegaram as armas”, disse, admitindo apenas que a espingarda era de propriedade da família.

O outro acusado –de ter sido contratado para participar do crime--, Alberto Lopes do Nascimento, também negou o crime e disse que estava trabalhando em Cametá (que fica a 399 km de Nova Ipixuna) havia dois meses antes da morte.

Nascimento também afirmou que não conhecia dos irmãos acusados e que –segundo o MP-- teria o contratado para executar o casal. “Vim ver ele pela primeira vez na prisão. Conversei com eles a primeira vez na prisão”, disse.