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Um ano após morte de extrativistas no Pará, parente ameaçada permanece sem proteção

O casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos em Nova Ipixuna (PA) no dia 24 de maio de 2011 - Conselho Nacional das Populações Extrativistas/AFP
O casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos em Nova Ipixuna (PA) no dia 24 de maio de 2011 Imagem: Conselho Nacional das Populações Extrativistas/AFP

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

24/05/2012 06h00

A morte do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados por pistoleiros em Nova Ipixuna (PA), completa um ano nesta quinta-feira (24). Até hoje, Laísa Santos Sampaio, irmã de Maria, permanece sem proteção policial, apesar de ter recebido várias ameaças neste período.

Segundo Laísa (veja a entrevista no vídeo abaixo), em setembro do ano passado a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República chegou a oferecer dois programas para protegê-la --o de proteção a defensores de direitos humanos e o de testemunhas-- mas até agora ela não recebeu qualquer tipo de escolta ou segurança.

"Passamos a ser alvo por lutarmos por Justiça pelo assassinato e por nossos direitos. Eles acham que nós devemos nos calar.", disse. "A luta não é só do José Cláudio e da Maria. Estou viva. Eu posso falar."

 

Pouco antes do assassinato, José Cláudio afirmou em público, durante um evento sobre a Amazônia, que poderia ser morto a qualquer momento. Por conta do ativismo em torno da questão ambiental e agrária, o casal vinha recebendo ameaças desde 2002, mas mesmo assim não receberam qualquer proteção policial.

O temor de Laísa é que a história de sua irmã e de seu cunhado se repita com ela. "Hoje me vejo na situação deles. No último encontro com os dois, vi que estavam muito assustados. Hoje eu estou dessa forma", afirmou.

O crime

Além de denunciar a ação ilegal de madeireiros e carvoeiros, José Cláudio e Maria enfrentavam fazendeiros que compravam ou tomavam terras dentro do assentamento, o que é proibido. A causa da morte foi um conflito com um fazendeiro vizinho que tentou adquirir um lote no assentamento, mas a negociação foi impedida pelos extrativistas.

Os dois foram mortos a tiros em uma tocaia, quando iam de moto do assentamento para a zona urbana de Nova Ipixuna. Foram presos pelo crime Lindonjonson Silva e Alberto Lopes, apontado como os autores, e José Rodrigues Moreira, acusado de ser o mandante. Os três foram pronunciados e devem ir a júri popular, ainda sem data marcada.

A família das vítimas diz que outras pessoas participaram do crime. A afirmação tem como base escutas feitas pela Polícia Federal e anexadas ao inquérito que mostram diálogos entre José Rodrigues e seu irmão, apelidado de Dedé, no qual ambos citam a participação de terceiros nas mortes.

Projetos interrompidos

Após o crime, 22 familiares e amigos do casal tiveram de deixar o assentamento Praialta-Piranheira, onde os ambientalistas viviam e coordenavam projetos de extrativismo. Alguns já retornaram, mas outros, com medo de voltar, continuam vivendo em Marabá. Laísa, professora da rede pública, não leciona desde então. Os projetos extrativistas também foram interrompidos.

Segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a falta de fiscalização e regularização fundiária dos órgãos governamentais está permitindo que madeireiros e carvoeiros comecem a retomar suas atividades ilegais no assentamento.