Em 3 anos, número de furtos a turistas em janeiro aumenta 66% no Rio
Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) divulgados a pedido do UOL mostram que os furtos a turistas brasileiros e estrangeiros aumentaram 66,5% no Estado do Rio de Janeiro se comparados os meses de janeiro, período de alta temporada, dos últimos três anos. No primeiro mês deste ano, houve um total de 313 casos, contra 276 em janeiro de 2012 e 188 em janeiro de 2011.
As estatísticas mostram, no entanto, uma diminuição de 16,7% no número de roubos entre 2012 e 2013, na mesma época do ano. Em 2011, foram registrados 63 casos de roubos contra turistas, contra 84 em 2012 e 70 em 2013.
Em menos de uma semana, 11 turistas estrangeiros que estavam no Rio de Janeiro foram vítimas de violência na cidade que vai receber grandes eventos, como a Jornada Mundial da Juventude, em julho deste ano, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. No dia 30 de março, um casal que ia de Copacabana, zona sul da capital fluminense, para a Lapa, região boêmia no centro, foi sequestrado em uma van, onde permaneceu por mais de seis horas, reféns de três bandidos. Os dois foram roubados e a mulher, estuprada.
De acordo com o ISP, órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública do Rio, os levantamentos da Polícia Civil em relação a turistas são específicos apenas a roubos e furtos. "Os outros delitos cometidos contra turistas não são especificados separadamente, por isso não é possível fazer um levantamento muito acurado. Até porque nem todos os delegados, na hora de preencherem o registro de ocorrência, especificam na dinâmica dos fatos se a vítima era ou não turista", informou em nota o instituto.
Segundo o ISP, os estupros aumentaram em cerca de 31% em três anos. No Estado, em 2012, houve 6.029 casos, contra 4.871 de 2011 e 4.589 de 2010. No ano passado, foram registrados, em média, 16,5 estupros por dia.
Na manhã da última quinta-feira (4), nove turistas alemães foram assaltados por um grupo de homens armados na Estrada das Paineiras, próxima ao Cristo Redentor. Dois carros com homens armados interceptaram a van que fazia turismo com os estrangeiros –de quem foram roubados documentos, máquinas fotográficas e telefones celulares.
Em balanço referente a 2011 --a Secretaria Municipal de Turismo não tem informações sobre 2012--, o registro é que 6,8 milhões de turistas brasileiros e cerca de 1,7 milhão de estrangeiros passaram pela cidade do Rio. Nessa época, o número de furtos registrados durante o ano foi de 1.614 em todo o Estado, e o de roubos, 613.
Como identificar vans irregulares
Carros em condições precárias, como pneus carecas, peças remendadas, podem significar que esse veículo não foi vistoriado. Vans com portas abertas, excesso de passageiro, também significam irregularidades. É fundamental também que o usuário perceba ou exija que o motorista ou seu auxiliar apresente seu cartão de identificação.
Segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública, o número de roubos a turistas diminuiu porque o patrulhamento em áreas turísticas aumentou no Rio. Já a notificação do número de furtos aumentou devido ao incentivo que a polícia deu para que as pessoas registrassem os casos, assim como nas ocorrências de estupro.
Para o antropólogo e especialista em segurança pública Lenin Pires, da UFF (Universidade Federal Fluminense), no entanto, o aumento dos furtos está ligado a uma mudança nos padrões de crime contra turistas.
"Assim como a secretaria acompanha a ação dos bandidos, eles acompanham o aumento do número de turistas na cidade e as oportunidades potenciais de crimes que aparecem. Há um crescimento do turismo e, assim, do furto", explica o antropólogo.
"O aumento dos furtos e a diminuição dos roubos mostram uma mudança no padrão de violência. O furto coloca em prática um nível de violência mais reduzido do que o roubo e, como se trata de um público que não conhece a cidade, a ação pode se dar nesse nível de menor potencial ofensivo."
Veja o trajeto feito pela van no dia em que a turista foi estuprada
Em 2012, foram registrados no Estado 1.811 furtos a turistas, sendo 1.652 deles na capital fluminense. A zona sul, com 1.130 ocorrências, e o centro da cidade, com 389, são os locais onde há o maior número de casos. A zona norte teve 96 furtos; a oeste, 37; a Baixada Fluminense, cinco; Niterói e São Gonçalo, dez; e as demais cidades do interior, 144 furtos.
"Na capital está muito nítido o aumento dos casos. Eles são maiores na zona sul e no centro, pois são locais onde há grande concentração de turistas e de pontos turísticos", explica a coordenadora da ONG Rio Como Vamos, Thereza Lobo.
Os roubos seguem a mesma linha dos furtos. Em 2012, foi registrada na capital a maior parte dos casos: 691, de um total de 749 em todo o Estado. A zona sul concentrou 408 casos, o centro, 236, a zona norte, 28, e a zona oeste, 19. A Baixada Fluminense teve 11 registros, Niterói e São Gonçalo, dez.
"Nas décadas de 30 e 40, o furto era uma verdadeira arte, mas desde então nós temos visto uma redução do número desse tipo de crime contra 'nativos'. Agora há um retorno dessa prática em razão da desatenção dos turistas”, explicou o antropólogo da UFF. “O cara comete um furto, e não o roubo, no qual o risco de se expor e de ser reconhecido é maior. O delinquente faz um cálculo: 'Eu vou correr menos risco do que tentando um roubo e tende a ser proveitoso, porque eu posso conseguir dólar, máquinas fotográficas de última geração, celulares e muitos reais. E posso fazer várias vezes em dia'.”
Policiamento
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, além das campanhas e ações para incentivar o registro de furtos por parte dos turistas, feita pelo Estado, policiais foram colocados nos pontos turísticos, orientando a importância de registrar esse tipo de crime, mesmo quando o furto representava pequenos valores materiais.
A Polícia Militar trabalha neste setor com um Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas, o BPTur, uma unidade operacional especial da PM exclusivamente para o policiamento ostensivo em áreas de grande fluxo turístico na capital fluminense.
"É importante ressaltar a Polícia Militar, que tem como atribuição o policiamento ostensivo, nem sempre consegue combater alguns crimes que apresentaram aumento, como é o caso de furtos, que também demandam maior atenção das pessoas", informou a corporação em nota.
Para o presidente da ABIH (Associação Brasileira de Indústrias e Hotéis), Alfredo Lopes, furtos e roubos são problemas que devem ser controlados, mas são episódios como o dos turistas estrangeiros sequestrados em um van em Copacabana, zona sul da capital, que mancham a imagem da cidade.
“Apesar de pontual, um episódio como este representa um sinal amarelo, uma ameaça de retrocesso a um trabalho de reposicionamento arduamente desenvolvido nos últimos anos. O fato de ser em Copacabana, bairro mais famoso do Rio, aumenta ainda mais a repercussão negativa”, afirma ele.
O ISP não tem registros de estupros contra turistas, mas possui os números de casos totais em todo o Estado. Em 2012, dos 6.029 mulheres foram vítimas deste tipo de crime: 2.005 na capital, 1.746 na Baixada, 580 na região da Grande Niterói e 1.698 no interior do Estado.
Segundo o pesquisador Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a maior parte dos casos acontece entre a vítimas e pessoas próximas dela. "Muita gente acreditava que o estupro era violência doméstica, um problema particular e não público e, por isso, não denunciava. Acredito que as pessoas estejam com menos vergonha de fazer os registros e, por conta disso, o número esteja aumentando", avalia.
"Casos como o da turista na van são uma minoria, mas mesmo assim geram uma insegurança na população. Especificamente nesse episódio, eles não conheciam a cidade, eram alvos fáceis. Os criminosos tinham a ilusão de que não seriam pegos", explica.
Três dos cinco acusados de atacarem os estrangeiros foram identificados e presos logo após o crime: Jonathan Foudakis de Souza, 20, Wallace Aparecido Souza Silva, 22, e Carlos Armando Costa dos Santos, 21. A turista estrangeira foi violentada e agredida por um dos homens que a atacou dentro da van. Segundo a polícia, ela sofreu duas fraturas no nariz. O namorado da vítima, também estrangeiro, sofreu agressões no rosto e, apesar de ter ficado com a face totalmente machucada, não teve nenhuma fratura.
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