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Feministas "mudam" nomes de ruas e praças em Belo Horizonte

Placa com homenagem feita pelo movimento feminista em em Belo Horizonte  - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Placa com homenagem feita pelo movimento feminista em em Belo Horizonte Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

15/05/2013 19h00

A Marcha Mundial das Mulheres "mudou" os nomes dos principais logradouros públicos, no hipercentro de Belo Horizonte, para homenagear as mulheres. Militantes mineiras da organização fixam adesivos com novos nomes sobre as placas com os nomes originais, que reproduzem com qualidade o padrão azul das placas de nomes de logradouros públicos, utilizado na maioria das cidades brasileiras.

A entidade, com sede nacional em São Paulo, tem cerca de 1.500 militantes espalhadas por 19 Estados brasileiros. Aproximadamente 200 delas em Minas Gerais e, 30 militantes, em Belo Horizonte.

A principal praça da capital mineira, a Sete de Setembro, conhecida pela população como “praça Sete” e por onde circulam pelo um milhão de pessoas por dia, foi rebatizada. Agora, o logradouro tem o nome de praça 8 de Março, em homenagem ao Dia das Mulheres, comemorado nessa data.

A praça Rio Branco, em frente à rodoviária da capital mineira, por sua vez, foi rebatizada para Patrícia Galvão, a Pagu, modernista e defensora de um papel ativo da mulher na sociedade brasileira.

As primeiras homenagens começaram em 8 de março do ano passado e, desde então, os adesivos permanecem nesses locais.

“Ninguém tira os adesivos das placas com os novos nomes. Neste ano, também em 8 de março, resolvemos ampliar as homenagens a mulheres que lutaram de algum modo pelos nossos direitos. Isso tem dado visibilidade às lutas históricas que elas enfrentaram, principalmente contra a violência, o racismo e o preconceito”, diz a enfermeira Bernadete Esperança Monteiro, 36, da coordenação nacional da Marcha Mundial da Mulheres e militante do movimento em Belo Horizonte. 

Brenda Lee

A primeira homenageada, após a principal praça da capital mineira ter homenageado o Dia das Mulheres, explica a militante, foi Brenda Lee. A homenageada, travesti paulista, fundou uma das primeiras casas no país para receber aidéticos, em 1984.

Assassinada em 1996 e conhecida como “anjo da guarda dos travestis”, Brenda Lee foi homenageada na praça Raul Soares, local frequentado pelo público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

Do mesmo modo, a escrava Luísa Mahin, que se destacou no movimento brasileiro pela abolição da escravidão, é homenageada na esquina da rua da Bahia com viaduto de Santa Tereza. No local, diversas entidades do movimento feminista de Minas Gerais, a exemplo da Marcha Mundial das Mulheres, discutiram o racismo e o preconceito racial no último 8 de março.

“Achei inteligente. Elas demonstraram criatividade. E essa mudança não atrapalha em nada”, diz Isnaldo Brito, 48, proprietário de uma banca de jornais e revistas no local, há 25 anos. 

A vendedora autônoma Camila Stefani, 22, gostou da mudança de nome. “É lógico que é para homenagear as mulheres.  Achei bacana”, afirma. Camila trabalha cerca de dez horas por dia na praça.

A promotora de vendas de um estúdio de fotografia Mel de Oliveira, 29, porém, não gostou da mudança. “O povo fica o dia inteiro perguntando onde é a rua Rio de Janeiro, onde é a rua tal. Se a gente não fala, é sem educação”, afirma.

Multa de R$ 4.769,82

Procurada pela reportagem do UOL, a Secretaria de Serviços Urbanos de Belo Horizonte informou que os adesivos fixados nas placas de identificação desses logradouros serão imediatamente retirados. A retirada seria feita ainda na noite desta quarta-feira (15).

Em nota, informou que o “ato, independentemente de seu objetivo, acaba por prejudicar o cidadão que transita pela via e utiliza a placa como referência de localização. Além disso, pode causar dano ao mobiliário que traz uma mensagem de serviço à população e tem um investimento do poder público”.

A Secretaria ainda informou que o infrator está sujeito a multa de R$ 4.769,82. A infração está prevista no Código de Posturas do Município (Lei. 8.616/2003, artigo 187).