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Empresário que atropelou e matou em Ribeirão (SP) não será punido, diz uma das atropeladas

A estudante Nicole Rogéria Moreira Fróes da Silva, 19, se recupera de ferimentos provocados por veículo dirigido por empresário em Ribeirão Preto (SP) - José Bonato/UOL
A estudante Nicole Rogéria Moreira Fróes da Silva, 19, se recupera de ferimentos provocados por veículo dirigido por empresário em Ribeirão Preto (SP) Imagem: José Bonato/UOL

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

23/06/2013 18h08Atualizada em 23/06/2013 19h21

O empresário que atropelou e matou um jovem na última quinta-feira (20) durante protesto em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) vai se livrar da prisão porque o Brasil é o país da impunidade.

A afirmação é da estudante de enfermagem Nicole Rogéria Fróes da Silva, 19, que sofreu fraturas numa perna e na bacia ao ser atingida pelo SUV Land Rover de Alexsandro Ishisato de Azevedo, 37, que está foragido e teve a prisão decretada pela Justiça na sexta-feira (21). Além dela, pelo menos outras dez pessoas ficaram feridas, mas com menor gravidade.

Ela afirma que o empresário saiu de um supermercado nas imediações e tentou furar o bloqueio dos manifestantes, que estavam na avenida Fiúsa, na região nobre da cidade.

“Algumas pessoas pediram com educação para ele desistir. Ele tinha toda a passagem atrás dele livre, mas quis passar ali de qualquer jeito. Alguém então deu um soco no capô do carro. Aí gritamos ‘sem violência, sem vandalismo’. O carro se afastou, mas depois veio com tudo”, disse Nicole.

A estudante afirma que estava próxima ao canteiro central da avenida quanto foi atingida. “O carro passou sobre as minhas pernas. Nunca pensei que fosse sentir uma dor tão grande.”

O jovem que morreu, Marcos Delefrate, 18, estava atrás da estudante e foi atingido depois dela. Nicole não o conhecia e soube da morte quando estava sendo atendida por estudantes de medicina presentes na passeata. “As pessoas gritavam e choravam. Foi tudo muito rápido e apavorante”.

"Bandidos"

Em sua primeira manifestação após o incidente, no sábado (22), o empresário afirmou estar arrependido e chamou os manifestantes de “bandidos” porque o teriam ofendido e agredido na cabeça. Ele estuda o melhor momento para se apresentar. Azevedo diz que não prestou socorro aos feridos por medo de ser linchado.

“O bandido é ele, que tem várias passagens pela polícia. Como ele pode dizer isso? Ele estava num carro blindado e, do lado de fora, estavam pessoas que lutavam por um país melhor. Ele sabia que machucaria muita gente se insistisse em passar”, declara Nicole.

A estudante, que cursa o segundo ano de enfermagem na USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto, vai ficar 45 dias sem poder se locomover. Ela diz que a experiência a ensinou a dar valor às pequenas coisas da vida como “andar, ir ao banheiro e pegar um copo de água”, atividades para as quais agora precisa de ajuda.

Atropelamento em Ribeirão

  • Reprodução/Facebook

    O empresário Alexsandro Ishisato Azevedo momentos antes de atropelar jovens que protestavam em avenida de Ribeirão Preto (SP)

Nicole vive com a mãe, 11 cachorros e um porquinho-da-índia numa casa em Pontal (351 km de São Paulo) e todos os dias toma ônibus para ir a Ribeirão Preto. “A qualidade do transporte é terrível, assim como da educação e da saúde”, diz.

Foi para protestar contra a precariedade desses serviços públicos que ela e amigos foram à passeata na quinta-feira. “Foi uma manifestação linda, pacífica, sem vandalismo, mas que acabou em tragédia”, afirma.

Impossibilitada de se locomover, Nicole passa o tempo conversando com os amigos pela internet. Ela está lendo o livro “Quando Nietzsche Chorou”, de Irvin D. Yalom, para passar o tempo, e lamenta ter de perder o show da banda de heavy metal Avantasia, em São Paulo.

Para ela, as manifestações têm sido uma das melhores coisas pelas quais o Brasil vem passando. “Eu espero que elas continuem porque existe muita corrupção por aqui.”