Entre SP e Rio, papa pede "com jeitinho" que fiéis rezem por ele e diz que iria a Aparecida "até de ônibus"

O terceiro dia do papa Francisco no Brasil foi o mais atribulado desde sua chegada ao país na segunda-feira (22). A viagem a Aparecida para celebrar a missa na basílica da cidade rendeu encontro com milhares de peregrinos, almoço com direito a filé mignon e muitas sobremesas e um pedido que novamente surpreendeu a todos pelo uso de mais uma expressão tipicamente brasileira: “o jeitinho” brasileiro. Porém, no momento de discursar, foi duro e criticou a discussão da liberação das drogas.

Após o término da celebração da missa no Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, no início da tarde desta quarta-feira (24), o papa Francisco saiu à tribuna do templo, abençoou os fiéis que se encontravam no local e pediu que rezassem por ele. "Quero pedir um favor, com jeitinho: rezem por mim", afirmou Francisco, acrescentando que deve voltar ao Brasil em 2017.

A volta do papa ao Brasil daqui a quatro anos coincidiria com a comemoração dos 300 anos desde que a estátua de Nossa Senhora apareceu na rede de pescadores no rio Paraíba, em 1717, e passou a ser venerada como Nossa Senhora Aparecida.   

Francisco proferiu a benção em espanhol, e avisou ao público: "Eu não falo brasileiro. Muito obrigado, de coração, de todo meu coração. Que a Nossa Senhora Aparecida os abençoe, que abençoe sua família, que abençoe seus filhos, que abençoe seus pais e que abençoe a pátria", disse o pontífice.

Na missa celebrada hoje, a primeira aberta ao público celebrada pelo papa no Brasil, Francisco disse que o dinheiro, o poder, o sucesso e o prazer são "ídolos passageiros".

"É verdade que hoje mais ou menos todas as pessoas e também os nossos jovens experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de deus e parecem dar esperança: dinheiro, poder, sucesso e prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros", afirmou o pontífice.

O papa Francisco chegou por volta das 10h35 ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

No ambiente conhecido como Capela dos 12 Apóstolos, onde venerou a imagem de Nossa Senhora. Essa é a primeira vez que um papa entra na sala e faz esta oração. A imagem encontrada por pescadores no rio Paraíba em 1717, fica exposta em uma caixa de vidro blindado dentro da basílica.

Na oração, o papa pediu pelos jovens e pela Jornada Mundial da Juventude. Ele também pediu que Nossa Senhora acompanhasse seus devotos, principalmente nos momentos mais difíceis. Ao final, depositou flores junto à imagem.

Ontem, o papa rezou uma missa privada para cardeais e freiras na residência Assunção, no Rio, onde está hospedado. Ele chegou ao Rio de Janeiro na última segunda-feira (22) e deve retornar ao Vaticano no próximo domingo (28).

PM quebra protocolo ao cumprimentar papa

O trajeto do papa Francisco da Basílica para o Seminário Bom Jesus foi tranquilo. O público ficou próximo ao papamóvel, mas o veículo não precisou parar. O pontífice chegou ao seminário, onde deve abençoar uma imagem de Frei Galvão, almoçar com sua comitiva e outros religiosos e, depois, descansar até a viagem de volta ao Rio, que está prevista para as 16h10.

Um sargento que fazia a segurança na entrada do seminário quebrou o protocolo ao cumprimentar o pontífice.  Odair Moura, de 38 anos, Integrante da Escola Superior de Sargentos da capital, se considera um privilegiado. "Dei a mão para o representante de Deus na Terra", comemorou.

No Seminário Bom Jesus, o papa abençoou uma imagem de Frei Galvão. No mesmo local, por vota de 13h30, Francisco almoçou com membros da sua comitiva, o cardeal arcebispo de Aparecida, o bispo auxiliar de Aparecida, os seminaristas que residem no local, os padres formadores e outros bispos. O papa saboreou um filé mignon ao molho de pinhão e compotas de frutas, doce de leite e dois tipos de bem-casado de sobremesas. Ao fim do almoço, o papa Francisco chamou todas as pessoas que trabalharam na cozinha. Agradeceu e tirou fotos com todos.

Pouco antes das 16h, o papa saiu da cidade de Aparecida em um helicóptero da FAB rumo à cidade de São José dos Campos, também no interior paulista. De lá, foi para o Aeroporto de São José dos Campos (SP), onde pegou, por volta das 16h50, um avião que pousará no Aeroporto Santos Dumont, na capital fluminense.

O papa visitou o Hospital São Francisco de Assis, na Tijuca, zona norte do Rio, onde inaugurou uma ala de tratamento de dependentes de drogas. Ao chegar, por volta das 18h20, o pontífice dispensou o guarda-chuva ao cumprimentar médicos, pacientes, religiosos e o público em geral, que cercava o pátio do hospital, mesmo andando sob chuva intensa. Logo que chegou, ele foi à capela de São Francisco de Assis, dentro do complexo hospitalar.

A ala voltada ao tratamento de dependentes do hospital deveria ter sido inaugurado na visita do pontífice, mas a obra, que é considerada o principal legado da Jornada Mundial da Juventude não ficou pronta a tempo do início do evento.

Durante a visita, o papa recebeu uma imagem de São Francisco de Assis de 60 centímetros feita pelo artista plástico Milton Pestillo, 57, um ex-dependente químico e ouviu discursos de outros ex-dependentes que também deram presentes ao papa.

Francisco retornou por volta das 20h18 à Residência Assunção, no Alto da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro, onde está hospedado na sua visita ao Brasil.

"Iria a Aparecida até de ônibus"

O arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno, afirmou nesta quarta-feira (24) que o papa Francisco se disse impressionado com a multidão que o acolheu na Basílica de Nossa Senhora Aparecida e enalteceu a vontade demonstrada pelo chefe da Igreja Católica em visitar Aparecida. "Se eu não for de avião, irei até de ônibus", disse Damasceno, reproduzindo o diálogo que teve com o papa antes da celebração da missa no Santuário Nacional de Aparecida.