UOL na JMJ: Papa deu a Varginha a visibilidade que ela nunca teve
A visita do papa a uma favela carioca era a atividade que mais me interessava na agenda do pontífice desde que a possibilidade começou a ser ventilada.
Inicialmente, em contato com padres e organizadores da Jornada Mundial da Juventude, recebi uma informação de que a comunidade do Vidigal, na zona sul, era a que mais agradava à Arquidiocese do Rio de Janeiro.
No entanto, Francisco fez um apelo pessoal: não queria uma favela com exposição midiática, e sim uma comunidade que não "estivesse no mapa". Nesse sentido, justifica-se a escolha por Varginha. Antes da visita do papa, eram poucos os cariocas e fluminenses que a conheciam. Poucos mesmo.
No início da cobertura da Jornada, antes da chegada de Francisco ao Brasil, encontrei Armando Almeida de Lima, o homem que foi presenteado por João Paulo 2º, filho de dona Elvira, a moradora que recebeu, conversou e foi abençoada pelo então chefe da Igreja Católica em sua visita ao Vidigal, em julho de 1980.
Ele me contou detalhes da cobertura jornalística na época, em especial as dificuldades que os profissionais tinham em função da postura pouco simpática do regime militar. O esquema de segurança era excludente. A ordem era: moradores não podem sair de casa.
Mas os moradores do Vidigal bateram o pé e disseram: "Os favelados também têm direito de ver o papa" --na época, o termo "favelado" não era utilizado de forma pejorativa. O resultado? O contato com o povo foi muito maior do que as autoridades gostariam que fosse.
Questionava-me se, 33 anos depois, o mesmo aconteceria em Varginha. Até que ponto o papa iria efetivamente visitar Varginha, conhecer a realidade das pessoas que lá vivem, ver de perto o sofrimento da vida cotidiana de uma família carioca pobre, enfim, o que haveria de "real" na passagem de Francisco por uma comunidade pequena, pouco conhecida na cidade?
Pela primeira vez na Jornada, consegui me posicionar bem perto de Jorge Mario Bergoglio. Ao meu lado estavam não só jornalistas, mas moradores. Religiosos ou simplesmente curiosos. Na minha opinião, a visita a Varginha foi provavelmente o acontecimento mais democrático na agenda do chefe de Estado do Vaticano.
O contato com o santo padre não chegou a ser físico, a exceção de Maria Lúcia Santos Penha, a dona da casa que recebeu a visita do pontífice. Mas havia um sentimento comum: o papa estava ali abraçando a comunidade. Resgatando a fé de católicos e não católicos.
Nunca tive religião alguma. Sou crítico em relação a muitos pontos defendidos pela Igreja Católica. Mas nada disso esteve em jogo durante o curto período em que Francisco circulou pelas ruas, becos e vielas de Varginha.
Seria sinal claro de desrespeito ignorar o sorriso no rosto e a emoção dos moradores. Todos ali demonstravam isso, mesmo os evangélicos, que são maioria nas favelas do Rio, os espíritas, enfim, de todos os credos. As diferenças religiosas foram superadas em prol de um momento único na história de uma comunidade esquecida por todos. Mas lembrada pelo papa.
SAIBA COMO FOI A VISITA DO PAPA AO BRASIL
Homem faz "banheiros do papa" em Guaratiba e perde R$ 10 mil sem Francisco
Casal fica noivo em acampamento na praia de Copacabana
Papa diz que já está com saudade do Brasil em último discurso no Rio
Papa propõe diálogo como solução para "protesto violento" e "indiferença egoísta"
"Ele é o cara", diz espírita ao se referir ao papa Francisco
Em discurso bilíngue, papa faz metáforas com futebol: 'Jesus nos oferece algo maior do que a Copa'
Manifestantes protestam em meio a peregrinos em Copacabana
Via Sacra alerta para "confusão entre o real e o virtual" e sugere "evangelizar" redes sociais
Em favela, papa pede mundo mais justo e solidário: 'sempre se pode colocar mais água no feijão'
Chuva e frio fazem organização da JMJ transferir eventos de Guaratiba para Copacabana
Público faz peregrinação para pegar ônibus e metrô após missa com o papa
Com "jeitinho", papa pede que fiéis rezem por ele e diz que volta a Aparecida em 2017
Em discurso, Francisco diz que tráfico de drogas "semeia a morte" e critica discussão sobre liberação
Confronto entre PM e manifestantes após agenda do papa deixa feridos
Papa circula pelo Rio em carro barato e sem cinto de segurança
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.