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UOL na JMJ: Papa deu a Varginha a visibilidade que ela nunca teve

Hanrrikson de Andrade

Repórter

30/07/2013 06h00

A visita do papa a uma favela carioca era a atividade que mais me interessava na agenda do pontífice desde que a possibilidade começou a ser ventilada.

Inicialmente, em contato com padres e organizadores da Jornada Mundial da Juventude, recebi uma informação de que a comunidade do Vidigal, na zona sul, era a que mais agradava à Arquidiocese do Rio de Janeiro.

No entanto, Francisco fez um apelo pessoal: não queria uma favela com exposição midiática, e sim uma comunidade que não "estivesse no mapa". Nesse sentido, justifica-se a escolha por Varginha. Antes da visita do papa, eram poucos os cariocas e fluminenses que a conheciam. Poucos mesmo.

No início da cobertura da Jornada, antes da chegada de Francisco ao Brasil, encontrei Armando Almeida de Lima, o homem que foi presenteado por João Paulo 2º, filho de dona Elvira, a moradora que recebeu, conversou e foi abençoada pelo então chefe da Igreja Católica em sua visita ao Vidigal, em julho de 1980.

Ele me contou detalhes da cobertura jornalística na época, em especial as dificuldades que os profissionais tinham em função da postura pouco simpática do regime militar. O esquema de segurança era excludente. A ordem era: moradores não podem sair de casa.

Mas os moradores do Vidigal bateram o pé e disseram: "Os favelados também têm direito de ver o papa" --na época, o termo "favelado" não era utilizado de forma pejorativa. O resultado? O contato com o povo foi muito maior do que as autoridades gostariam que fosse.

Questionava-me se, 33 anos depois, o mesmo aconteceria em Varginha. Até que ponto o papa iria efetivamente visitar Varginha, conhecer a realidade das pessoas que lá vivem, ver de perto o sofrimento da vida cotidiana de uma família carioca pobre, enfim, o que haveria de "real" na passagem de Francisco por uma comunidade pequena, pouco conhecida na cidade?

Pela primeira vez na Jornada, consegui me posicionar bem perto de Jorge Mario Bergoglio. Ao meu lado estavam não só jornalistas, mas moradores. Religiosos ou simplesmente curiosos. Na minha opinião, a visita a Varginha foi provavelmente o acontecimento mais democrático na agenda do chefe de Estado do Vaticano.

O contato com o santo padre não chegou a ser físico, a exceção de Maria Lúcia Santos Penha, a dona da casa que recebeu a visita do pontífice. Mas havia um sentimento comum: o papa estava ali abraçando a comunidade. Resgatando a fé de católicos e não católicos.

Nunca tive religião alguma. Sou crítico em relação a muitos pontos defendidos pela Igreja Católica. Mas nada disso esteve em jogo durante o curto período em que Francisco circulou pelas ruas, becos e vielas de Varginha.

Seria sinal claro de desrespeito ignorar o sorriso no rosto e a emoção dos moradores. Todos ali demonstravam isso, mesmo os evangélicos, que são maioria nas favelas do Rio, os espíritas, enfim, de todos os credos. As diferenças religiosas foram superadas em prol de um momento único na história de uma comunidade esquecida por todos. Mas lembrada pelo papa.

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