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Moradores de favela que papa vai visitar no Rio esperam melhorias

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

08/05/2013 06h00

Localizada em uma região do Rio do Janeiro conhecida até pouco tempo atrás como faixa de Gaza por causa da violência, a pequena favela de Varginha, na zona norte da capital fluminense, ganhou repercussão mundial nesta terça-feira (7) ao ser confirmada como parte do roteiro da visita do papa Francisco à cidade durante a Jornada Mundial da Juventude.

Ao contrário do Vidigal, favela vizinha ao Leblon, na zona sul, visitada pelo papa João Paulo 2º em 1980, Varginha não tem vista para o mar nem moradores famosos. Uma das dez comunidades que compõem o Complexo de Manguinhos, área com cerca de 33 mil pessoas, segundo o IBGE, pacificada em janeiro, a favela é composta por três ruas principais, vários becos e um campo de futebol, e é separada da comunidade de Mandela por um rio, que serve também como depósito de lixo e esgoto.

O papa deve visitar a Capela de São Jerônimo, na entrada da favela, conhecer a casa de uma família e rezar uma missa no campinho de futebol, de onde é possível ver a estátua do Cristo ao longe. Entre os moradores, o clima é de expectativa, tanto pela visita quanto pelas possíveis melhorias que a comunidade pode receber.

“Receber o papa é uma benção, mas espero que a comunidade melhore. Essa rua recebeu uma capinha de asfalto em 1982, depois nunca mais”, diz o carpinteiro José da Costa, 67, referindo-se a principal rua da comunidade, repleta de buracos. Ele e a esposa Maria de Souza, 63, esperam ao menos cinco parentes em casa para a jornada, número que pode aumentar com a confirmação da presença do pontífice em Varginha. “Sempre que o papa veio, fomos atrás. Agora ele vem até nós. Por enquanto vamos receber cinco primos, quem sabe mais. É uma alegria muito grande”, diz Maria.

Apesar da chegada da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no começo do ano, a região ainda guarda resquícios dos tempos de violência, como quebra-molas construídos pelo tráfico, e boa parte dos moradores prefere não comentar a nova situação “Vendo minhas frutas, procuro não incomodar ninguém e ninguém me incomoda, mas a gente sabe que o tráfico não vai acabar em nenhuma comunidade”, afirma o aposentado Pedro Batista de Souza, 62, dono de um carrinho de verduras.

Ele diz que se o papa realmente vier, vai procurar vê-lo, e faz coro a Costa. “A gente precisa de muita coisa: esgoto, asfalto, meio-fio, mais força na água, que vem muito fraca. Uma pracinha para as crianças brincarem. Espero que mude alguma coisa.”

Segundo a prefeitura da zona norte, está sendo realizada uma força-tarefa entre a Comlurb, a Secretaria de Conservação e a Rioluz para realizar melhorias na região, entre elas a poda de árvores, limpeza de ruas e recapeamento do asfalto.

Moradora da comunidade há 60 anos, a mineira Ana Alves de Souza é uma das mais ansiosas com a visita. Ela espera que a passagem do pontífice inclua também a igrejinha em homenagem a São Sebastião que ela e outros vizinhos construíram. “Tudo que a gente faz é com doações e chega uma hora que não tem dinheiro para nada”, conta.

A capela, ainda inacabada, foi erguida com doações e fundos arrecadados com o aluguel de uma sala anexa usada como garagem, e sofre com o abandono. O teto está todo mofado, ameaçando cair em algumas partes, as janelas quebradas e tem missas apenas uma vez por ano. “Quem sabe com a visita do papa a gente consiga abrir de vez a igreja”, diz, ao lembrar que por enquanto só é possível rezar uma missa por ano, no dia do padroeiro São Sebastião. “É um lugar tão escondidinho, nunca imaginei que ele viria até aqui”, diz.