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Imagem de câmera da Rocinha contesta versão policial sobre sumiço de Amarildo, diz advogado

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

07/08/2013 17h41

O advogado João Tancredo, que representa a família do pedreiro Amarildo de Souza, 42, afirmou nesta quarta-feira (7) que uma câmera instalada próxima à UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) não registrou imagens do pedreiro quando ele supostamente deixava a sede da unidade, no dia 14 de julho, segundo versão apresentada pelos PMs que o abordaram antes de ele desaparecer.

De acordo com os policiais, que prestaram depoimento quando o caso ainda estava na 15ª DP (Gávea) --posteriormente, o inquérito foi transferido para a Divisão de Homicídios--, Amarildo teria passado por uma escadaria em direção a uma localidade conhecida como Dioneia após deixar a sede da UPP.

Pouco antes, ele havia sido levado à base da Unidade de Polícia Pacificadora pelos próprios policiais, que confundiram o morador com um traficante da região.

Porém, na mesma escadaria, há uma câmera de segurança que não teria, na versão do advogado, registrado imagens da movimentação do pedreiro na noite do dia 14 de julho. O material foi anexado ao inquérito, na versão do defensor da família.

A reportagem do UOL tentou entrar em contato com o delegado responsável pelo caso, Rivaldo Barbosa, porém ele estava cumprindo uma diligência na Rocinha. A Polícia Civil diz que o sigilo é fundamental para a investigação.

Polícia Civil busca pistas

"Tem uma terceira câmera que ficava mais embaixo e estava funcionando que mostra parte do caminho que eles [policiais da UPP] disseram que Amarildo teria feito, e ele não aparece”, afirmou Tancredo, referindo-se às duas únicas câmeras --ambas situadas na frente da sede UPP-- que não estavam funcionando nesse dia.

Nesta quarta-feira (7), agentes da Divisão de Homicídios realizaram buscas na Rocinha a fim de checar uma denúncia de que haveria um corpo enterrado na localidade da Dioneia, na parte alta da favela, nas imediações da UPP.

No entanto, a diligência foi encerrada sem resultados. "Cavamos buracos de dois ou três metros, mas não encontramos nada", afirmou Barbosa.

Embora não haja confirmação sobre a morte de Amarildo, os investigadores trabalham com a hipótese de homicídio.

Para a família, que não tem mais expectativa de encontrar Amarildo vivo, a sede da UPP Rocinha seria o último local pelo qual o pedreiro teria passado antes de desaparecer.

Na terça-feira (6), a Polícia Civil deu início aos preparativos para simular os últimos passos de Amarildo.

O titular da DH, Rivaldo Barbosa, esteve na comunidade durante todo o dia a fim a fim de realizar uma prévia da reconstituição, por meio do qual buscou confrontar informações relatadas pelos 14 policiais militares que prestaram depoimento no dia anterior. No total, a polícia já ouviu 22 testemunhas.

"Estamos iniciando um trabalho de verificação e fazendo perícias para ajudar no dia da reconstituição. Vamos tentar estabelecer a rotina e quais foram os últimos passos de Amarildo", afirmou Barbosa. "È uma investigação muito complexa, não descarto nenhuma hipótese", completou.

O delegado informou ainda que a fase final da reconstituição, isto é, a simulação dos eventos e circunstâncias relacionadas ao sumiço do morador da Rocinha, deve ocorrer até o fim desta semana.

O desaparecimento de Amarildo ganhou destaque na mídia depois de sucessivos protestos cujo slogan, "Cadê o Amarildo?", tornou-se bandeira de movimentos sociais e políticos --principalmente em atos contra o governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB).

* Com informações da Folha de S. Paulo