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Governo do Rio diz que pagará pensão à família de Amarildo

Entre filhos, sobrinhos, netos e agregados, numa escala de idade que vai dos seis aos 60, 17 familiares de Amarildo vivem na mesma casa - Marco Antonio Teixeira/UOL
Entre filhos, sobrinhos, netos e agregados, numa escala de idade que vai dos seis aos 60, 17 familiares de Amarildo vivem na mesma casa Imagem: Marco Antonio Teixeira/UOL

Felipe Martins

Do UOL, no Rio

13/09/2013 14h12

O Governo do Rio de Janeiro, por meio da PGE (Procuradoria Geral do Estado), informou nesta sexta-feira (13) que vai acatar a decisão da Justiça que obriga o pagamento de pensão no valor de um salário mínimo e de tratamento psicológico à família do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, desaparecido após ser abordado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, favela na zona sul da capital fluminense, onde morava com a mulher e seis filhos.

O Estado obedece ao determinado pelo desembargador Lindolpho Morais Marinho, da 16ª Câmara Cível. Além do salário mínimo a ser compartilhado pela mulher e os seis filhos, o magistrado condenou ainda o Estado ao pagamento de R$ 300 por consulta psicológica a Elisabete, a cada um dos seis filhos e ainda uma sobrinha e uma irmã do ajudante de pedreiro.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

“Não é difícil imaginar uma família humilde, pobre, tendo como moradia apenas um cômodo, de futuro incerto e sem esperança de dias melhores, que repentinamente se confronta com angustiante e desesperador acontecimento: o seu chefe é levado pela autoridade policial, que lhe deve custodiar e simplesmente desaparece. [...] O Estado do Rio de Janeiro, por ato de sua Polícia Militar, é que aparece como parte desse infausto acontecimento”, diz o desembargador no texto da decisão.

O governo informou ainda que vai depositar o primeiro pagamento “nos próximos dias”, após cumprimento de trâmites burocráticos.

Procurada por esta reportagem, a mulher do ajudante de pedreiro, Elisabeth Gomes da Silva, afirmou que vai lutar também para que o Estado reconheça a responsabilidade pela morte de Amarildo e pague uma indenização.

“Nada disso vai trazer de volta a vida do meu marido, mas eu quero ter o direito de reconstruir a minha vida e dos meus filhos. Eu não tenho como sair para trabalhar e deixar as crianças sozinhas em casa. Minha vida está destrambelhada”, disse.

Ela conta que vive agora na casa de uma cunhada, com mais 16 pessoas. “Não tenho como voltar para minha casa. Meu marido estava fazendo uma obra que acabou ficando pela metade com o desaparecimento dele. Minha filha de três anos chora pedindo pelo pai”, afirmou Elizabeth. “A [filha] de 13 anos não come direito. O Estado precisa entender que meu marido me deixou seis filhos, e não seis animais, para cuidar.” 

"PIOR DIA DA VIDA"

Segundo a sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda, a família teve o "pior dia da vida" na noite desta terça-feira (30), com a notícia de que o corpo encontrado por policiais militares em um valão na comunidade não era de Amarildo, mas, sim, de uma mulher

Desaparecido há dois meses

O ajudante de pedreiro Amarildo de Souza desapareceu no dia 14 de julho, após ser abordado na porta de casa por policiais da UPP da Rocinha. Ele foi levado à sede da UPP na comunidade para averiguações e, na versão da polícia, liberado em seguida. No entanto, nenhuma câmera registrou a saída de Amarildo. A PM informou que o aparelho de vigilância instalado na sede da UPP estava quebrado.

O GPS do carro dos policiais que conduziram o ajudante de pedreiro à unidade estava desligado. Um segundo GPS, o do rádio do carro, apontou que o veículo rodou por 24 horas em diferentes pontos da cidade: dentre estes o Batalhão de Choque, o Hospital Central da PM, e a sede do 23º BPM (Leblon) passando pela zona portuária e Lagoa, na zona sul.

O desaparecimento do ajudante de pedreiro ganhou repercussão internacional e foi tema de manifestações populares em todo o país. O caso permanece ainda sem solução. Duas reconstituições comandadas pela DH (Divisão de Homicídios) foram feitas nas últimas semanas na favela para ajudar na elucidação do caso.