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Contra preconceito, jovem de 18 anos é eleita Miss Prostituta 2013 em BH

Marcelina Gomes Teixeira, 18, de Entre Rios de Minas - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Marcelina Gomes Teixeira, 18, de Entre Rios de Minas Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

29/09/2013 01h20

A um quilômetro do Minascentro, em Belo Horizonte (MG), onde acontecia o Miss Brasil 2013, cerca de 300 pessoas aplaudiam, celebravam, gritavam, assoviavam e até vaiavam, na noite deste sábado (28), outra rainha da beleza: a Miss Prostituta 2013, Marcelina Gomes Teixeira -- 18 anos de idade e seis meses de profissão.

Sob a batuta de Elke Maravilha, a “Rainha das Prostitutas”, “Camila” --como é mais conhecida a nova miss-- deixou outras nove candidatas para trás e ganhou o prêmio de R$ 1.200 em dinheiro, além de R$ 350 em vale-compras, e presentes de lojas do Uai Shopping Centro, no hipercentro da cidade, onde foi celebrada a cerimônia de coroação.

Nascida em Entre Rios de Minas (MG), Marcelina tem ensino médio completo e mudou-se para a capital mineira há seis meses, quando também se iniciou na profissão. Não tem namorado. E pretende cursar enfermagem.

“Não anuncio em jornal. Tenho os meus contatos”, diz a miss, e revela um pouco mais sobre si mesma: mora com a avó, não gosta de música, não vê cinema, nem costuma navegar na internet --“Não ligo muito para essas coisas, não”.

Lei Maria da Penha não protege prostitutas

A responsável pelo Miss Prostituta 2013 é a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais Maria Aparecida Vieira, a Cida, 46. Ela explica que o concurso, que está em sua segunda edição, tem um caráter político, “para chamar a atenção para a regulamentação da profissão”.

Segundo Cida, as mulheres brasileiras são protegidas pela legislação. Mas isso não existe para as prostitutas.

“O Miss Prostituta é para denunciar a violência. Na hora de trabalhar, a prostituta não é mulher. A lei Maria da Penha não protege a prostituta na hora do trabalho. Isso não existe. A lei só existe quando somos mulheres”, afirma.

“Com a regulamentação, além da proteção que podemos ter, vai diminuir o preconceito cultural”, diz a presidente da associação.

Perfil de miss

“O quê?! Ela disse isso? Não sei. Eu estou disputando por beleza mesmo”, diz uma das candidatas, que preferiu não se identificar. “Quero ganhar”, afirmou a mulher pouco antes desfilar na passarela do Uai Shopping Centro. 

As dez candidatas do Miss Prostituta 2013 têm em comum a profissão. Suas histórias e condições de vida bastante diversas.

A paulistana Mary Gonçalves Santos, 29, é separada e mudou-se para Belo Horizonte há três meses. Há nove anos, ela é profissional do sexo e trabalha nos hotéis da região central de Belo Horizonte.

Mãe de Peterson, 3, Otávio, 11, e Gabriel, 14, Mary Santos deixou os dois filhos maiores aos cuidados da avó em São Paulo. Todos os dias, Mary Santos assiste em DVD o filme “Titanic”. “O navio vai até parar de afundar de tanto que eu assisto a esse filme”, brinca.   

Cintia Gizelle da Silva Rosa, 25, concluiu o ensino fundamental e não pretende estudar mais. Não tem “paciência para ficar parada”. Ela tem uma filha, Maia, de 1 ano e quatro meses, e trabalha também nos hotéis da rua Guaicurus. Seu prato predileto é lasanha. O filme que lhe marcou a vida foi “Crepúsculo”.

Kris Danielle Santos Rodrigues, 27, nasceu em Itamaraju (BA). Foi criada em Januária (MG) e mora há oito anos na capital mineira, desde que começou a profissão. Ela trabalha nos hotéis da região e estudou até o ensino médio.

Kris Rodrigues pretende fazer faculdade de designer de moda. Ela explica que, além de costurar, desenha os modelos dos vestidos que usa. O filme que mais a emocionou foi “Marley e eu”. “Chorava quando via o cãozinho”, diz ela. Em música, a predileção é pela dupla sertaneja Jorge e Mateus. Seu sonho é conhecer Gramado (RS).

Dia Nacional Sem Preconceito

O Miss Prostituta 2013 encerrou hoje as atividades, em Belo Horizonte, do Dia Nacional sem Preconceito, com uma programação que incluiu desfile de modelos da Daspu, palestras de advogados, apresentações de grupos musicais, cultos religiosos, performances de artistas e exposições de artesanato e artes plásticas.

O evento foi realizado no entorno da rua dos Guaicurus (a mais tradicional zona de prostituição da capital mineira). São 23 hotéis, bares, cabines de filmes eróticos, cinemas, inferninhos, saunas e cantinas frequentados por cerca de 4.000 profissionais do sexo. 

Maior concentração de pessoas na cidade, com cerca de 260 mil habitantes e circulação diária de aproximadamente 2 milhões de pessoas por dia, o entorno da rodoviária abriga também os maiores e mais movimentados shoppings populares de Belo Horizonte. 

O número de travestis, por sua vez, que também fazem programa na região central da capital mineira, é estimado em 1.000 pessoas.

Miss Pantera Transex

Na sexta-feira (27), também no  Uai Shopping Centro, aconteceu o Miss Pantera Transex. Nove candidatas disputaram o prêmio também de R$ 1.200 e R$ 350 em compras nas lojas do shopping. 

A vencedora foi Ashesley Kate, 24, solteira. Seu maior hobby é ficar com os amigos, com muita balada e curtição. Dizendo-se “muito ambiciosa”, Ashesley Kate sonha ser uma grande proprietária de imóveis.

Segundo a responsável pelo evento Luiza Pfeiffer, 45, presidente da Associação dos Travestis e Transexuais de Minas Gerais, o Miss Pantera Transex reforça a questão da inclusão de travestis e transexuais na sociedade.

“Não há mais essa diferença entre travesti e transexual (pessoas que fizeram operação para mudança de sexo). Isso era antigamente. Hoje é tudo a mesma coisa. O importante é a imagem do travesti. É estar na mídia”, diz Luiza Pfeiffer.