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Moradores do Complexo do Lins temem policiais e repetição de casos de UPPs já instaladas do Rio

Giuliander Carpes

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/10/2013 11h55

O Complexo de favelas do Lins fica a 22 km da Rocinha. Mas os problemas da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade da zona sul ecoaram pela favela do subúrbio carioca, ocupada neste domingo (6) pelas forças policiais. Os moradores temem que casos como o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza e o estupro e morte da menina Rebeca Miranda de Carvalho se repitam no Lins.

"A gente tem medo que aconteça o que aconteceu nas outras comunidades. A gente devia confiar neles (na polícia), mas não confia", afirma uma técnica de enfermagem  (sua identidade é mantida em segredo para preservá-la), 57 anos, nascida e criada na comunidade de Cachoeirinha, uma das 13 atendidas pelas duas UPPs que ainda vão ser instaladas no Lins.

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Na última terça-feira (2), duas pessoas morreram nas favelas do Lins em confrontos com a polícia, que preparava o terreno para a ocupação tranquila deste domingo. A técnica de enfermagem nem dormiu em casa neste dia com medo do que poderia ocorrer com ela e os dois filhos.

"Um helicóptero veio aqui há mais ou menos um ano e meteu bala em tudo. Não sou magrinha assim. Estava cuidando da roseira, fiquei gritando no pátio. Meus filhos acharam que tinham me matado. Nunca mais me recuperei. Sou diabética, no lado direito da minha cabeça não nasce mais cabelo de tanto que fiquei nervosa", diz.

"Não estou dizendo que o outro lado (o tráfico) é bom. Mas quando a polícia chega tudo piora. Acho que menos de 10% da favela é de bandidos. Eles deviam ter mais cuidado para entrar. Só hoje que eles foram educados", diz.

Quando agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) entraram no complexo pela favela da Cachoeira Grande, por volta das 6 horas da manhã deste domingo, poucos moradores se aventuraram a olhar pela janela. Conforme o tempo passava - e nenhum barulho de tiroteio era ouvido -, começaram a sair para as ruelas.

"A gente tem medo. Como eles fizeram com o Amarildo podem fazer com qualquer pessoa. Tenho uma filha adolescente, de 16 anos, que estuda à noite. Espero que estupro e essas coisas nunca aconteçam aqui. A gente não tem nada a ver, o que a gente faz?", questiona uma diarista de 37 anos, todos vividos nas favelas do Lins.

O fim do "gatonet"

A polícia nem havia ocupado oficialmente o complexo e já havia no local uma equipe de vendedores de televisão por assinatura. No sábado, os oito funcionários da empresa venderam 27 pacotes. No domingo, a expectativa era se sair um pouco melhor.

Uma pensionista  de 47 anos foi uma das que comprou o serviço. "Pagava R$ 35 no 'gatonet', agora os pacotes estão por R$ 49 ou R$ 75. Não temos o que fazer. Vai ficar mais apertado para pagar, mas não temos como ficar sem TV."

Um senhor de 67 anos limpava a ruela em frente à sua casa despreocupadamente durante a ocupação do Complexo do Lins. "Eu sou trabalhador, então para mim está tudo bem. Não tenho medo. Só estou bolado que roubaram meus documentos e preciso fazer outros", diz.

Segundo a polícia militar, não há receio de que os casos de violência dos últimos meses ocorridos na Rocinha abalem a credibilidade das UPPs. "O secretário José Mariano Beltrame afirmou no início desta semana que as unidades de polícia pacificadora não estão em cheque. Qualquer excesso cometido por policiais, vai ser punido. A população pode ficar tranquila. Aos poucos uma melhor relação com as pessoas vai sendo construída", diz o relações públicas da corporação, tenente-coronel Cláudio Costa.