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Mãe e filhas estão entre os 5 feridos nos ataques a ônibus em São Luís

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

05/01/2014 04h30

Uma bebê de 1 ano e cinco meses, a irmã dela de seis anos e a mãe, de 22 anos, estão entre as cinco vítimas dos ataques aos quatro ônibus em São Luís, ocorridos na noite dessa sexta-feira (3).
 
Segundo as primeiras informações do Hospital Municipal Clementino Moura, em São Luís, eram apenas quatro pessoas internadas vítimas dos incêndios, mas na noite deste sábado (4), o secretário estadual da Saúde, Ricardo Murad, confirmou que cinco pessoas estão internadas recebendo cuidados médicos.
 
O comando dos ataques partiu de prisioneiros do Complexo de Pedrinhas, segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública). O local registrou 60 mortes em 2013 e relatórios do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) apontaram a ocorrência de estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou líderes. Por determinação do governo do Estado, a PM assumiu o complexo em 27 de dezembro. Apesar da ação, ele já registrou duas mortes em menos de 24 horas neste ano.

Vítimas são transferidas

Todas as vítimas estavam internadas no Hospital Municipal Clementino Moura, em São Luís, desde a noite dessa sexta-feira, mas na noite deste sábado foram transferidas para o Hospital Juvêncio Mattos e para o Hospital Geral do Estado, localizados na capital maranhense.

A menina de seis anos está em estado gravíssimo, com 95% do corpo queimado e respira com ajuda de aparelhos. Ela está internada na UTI pediátrica do Hospital Juvêncio Mattos.

Já a irmã dela, a bebê de um ano e cinco meses, teve 20% do corpo queimado, quando teve as pernas e o braço esquerdo atingidos pelo fogo. A menina está internada no isolamento da enfermaria pediátrica e seu quadro de saúde é estável.

A mãe das duas meninas, Juliane Carvalho Santos, 22, está na unidade semi intensiva do Hospital Geral do Estado e deve passar por procedimentos cirúrgicos.

As outras duas vítimas foram identificadas como Marcio Ronny da Cruz Nunes, 37, e Abianci Silva dos Santos, 35.

Nunes sofreu queimadura em 40% da área do corpo -- face, tórax e braços -- e está internado na unidade semi-intensiva do Hospital Geral do Estado.

Santos teve queimadura de segundo grau no braço direito e está internada em um leito da clínica cirúrgica do Hospital Geral do Estado.

Prisões

Na noite deste sábado, o suspeito de coordenar os ataques aos ônibus foi preso pela polícia no bairro Monte Castelo. Até agora, já são oito pessoas detidas acusadas de participação nos ataques aos quatro coletivos. Os acusados vão ser apresentados neste domingo pela polícia.

Segundo a polícia, Hilton John Alves Araújo, 27, vulgo "Praguinha", recebeu as ordens de Jorge Henrique Amorim Martins, 21, o "Dragão", que lidera uma das facções que agem no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, para incendiar ônibus na capital maranhense.

Locais de ataques a ônibus e a delegacia em São Luís (MA) em 3.jan.2014

  • Arte/UOL

Os ataques

Quatro ônibus e uma delegacia foram atacados na noite dessa sexta-feira em retaliação a operação “Pedrinhas em Paz”, dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, realizada pela Tropa de Choque da PM (Polícia Militar). Três dos quatro coletivos foram incendiados.

Devido à insegurança causada pelos ataques, os ônibus deixaram de circular em São Luís na noite desse sábado (4) e só retornam às 5h deste domingo. A paralisação do serviço de transporte coletivo, das 18h às 5h, continua neste domingo e na próxima segunda-feira (6).

Durante a ação da polícia nos presídios, o prédio do 9º DP (Distrito Policial), localizado no bairro São Francisco, também foi alvo dos criminosos e teve as paredes atingidas por balas. A SSP confirmou que as ordens dos ataques aos coletivos vieram de dentro dos presídios maranhenses em reação às ações.

Ainda na noite de sexta-feira, um policial reformado foi assassinado a tiros enquanto conversava com a namorada no bairro Maracanã. A polícia não confirmou se a morte do PM teve relação com as ordens dos presos de Pedrinhas, mas investiga o caso.

Os ataques a ônibus coletivos em São Luís e região metropolitana vêm se tornando constantes. No dia 9 de novembro, dois ônibus foram incendiados, mas antes os passageiros foram roubados pelos criminosos. Os coletivos faziam a linha Bequimão e Alto da Esperança/Tamancão. Na mesma noite, homens armados mataram um PM e feriram dois durante ataques a trailers da polícia.

Dois dias depois, a onda de ataques criminosos em São Luís continuou Homens armados assaltaram um ônibus na Lagoa da Jansen e tentaram atear fogo no veículo na noite do dia 11 de novembro. Ao mesmo tempo, um outro grupo tentou invadir e colocou fogo no trailer da PM (Polícia Militar) do bairro Vila Nova, o mesmo que foi atacado no dia 9, e um policial que estava no posto foi assassinado a tiros.

Os ataques ocorreram na mesma noite o governo do Estado anunciava novos nomes para o comando da PM, o subcomando da corporação e o comando do Policiamento Metropolitano.

Policiamento é reforçado no Maranhão após onda de ataques

Violência em Pedrinhas

O relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), divulgado no último dia 27 de dezembro, apontou que o domínio de facções criminosas que agem dentro dos presídios maranhenses deixam as unidades prisionais "extremamente violentas".

A maior parte das mortes tem relação com brigas entre as facções criminosas Bonde dos 40 --nome em alusão à pistola ponto 40-- e PCM (Primeiro Comando do Maranhão), facção ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Em um período de apenas 17 dias, dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas ocorreram três rebeliões e 18 presos foram mortos nesses motins.

O domínio desses grupos criminosos dentro dos presídios do Maranhão impediram que fossem concluídas as inspeções do CNJ, realizadas em dezembro para traçar a verdadeira situação do Complexo de Pedrinhas.

Ainda segundo o CNJ, a disputa dos grupos pelo domínio dos presídios de Pedrinhas já causou diversos assassinatos e estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou líderes, e acaba comprometendo a segurança do local.

"Em dias de visita íntima no Presídio São Luís I e II e no CDP, as mulheres dos presos são postas todas de uma vez nos pavilhões e as celas são abertas. Os encontros íntimos ocorrem em ambiente coletivo. Com isso, os presos e suas companheiras podem circular livremente em todas as celas do pavilhão, e essa circunstância facilita o abuso sexual praticado contra companheiras dos presos", informou o juiz Douglas de Melo Martins.

Estupros

As ações de violência ordenadas no Complexo de Pedrinhas foram relatadas pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que mostrou que mulheres e irmãs de presos que não são líderes de facções ou comandam pavilhões nos presídios são estupradas dentro das celas em dias de visita. Há relatos também de estupros fora dos presídios, também ordenados por integrantes dessas facções.

Ainda segundo o CNJ, a disputa dos grupos pelo domínio dos presídios de Pedrinhas já causou diversos assassinatos e estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou líderes, e acaba comprometendo a segurança do local.

"Em dias de visita íntima no Presídio São Luís I e II e no CDP, as mulheres dos presos são postas todas de uma vez nos pavilhões e as celas são abertas. Os encontros íntimos ocorrem em ambiente coletivo. Com isso, os presos e suas companheiras podem circular livremente em todas as celas do pavilhão, e essa circunstância facilita o abuso sexual praticado contra companheiras dos presos", informou o juiz Douglas de Melo Martins.

18.out.2013 - Em julho deste ano, fotos publicadas nas redes sociais mostravam detentos de um presídio de Santarém, no Pará, fazendo um churrasco dentro da unidade prisional. Nelas, eles exibiam comida e dinheiro Reprodução

Somente em 2014, dois assassinatos ocorreram dentro do Complexo de Pedrinhas. Na tarde desta quinta-feira (2), o preso Sildener Pinheiro Martins, 19, foi assassinado a golpes de ferros no CDP (Centro de Detenção Provisória). Na madrugada do mesmo dia, o detento Josivaldo Pinheiro Lindoso, 35, foi encontrado morto, com sinais de estrangulamento, no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

O senador José Sarney (PMDB-AP), maranhense de nascimento e uma das figura políticas mais importantes do Maranhão, que é governado pela filha dele, Roseana Sarney (PMDB-MA), chegou a comemorar, durante entrevista concedida a uma rádio de sua propriedade, o fato da violência, no Maranhão, "estar nos presídios e não na rua".

Governo decretou situação de emergência

O governo do Maranhão decretou situação de emergência devido ao descontrole e ao sucateamento dentro dos presídios maranhenses. Conforme informou o jornalista Josias de Souza em seu blog, a intenção da governadora Roseana Sarney é construir ao menos 11 dessas unidades prisionais em regime de urgência, com dinheiro do BNDES e sem fazer licitações.

O governo do Maranhão informou que tem com recursos no valor de R$ 131 milhões para construção e reaparelhamento nas 32 unidades prisionais do Estado. Com esse valor, as unidades receberão armamentos, portais detectores de metal,  esteiras de Raio-X, estações de rádio, coletes, algemas e veículos.

O dinheiro é proveniente do Programa Viva Maranhão e serão construídos sete novos presídios sem licitação devido ao decreto de emergência de 180 dias para reestruturar as unidades penais.

No dia 19 de dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ofício a Roseana Sarney pedindo informações atualizadas sobre a situação do sistema carcerário do Estado após uma série de cinco mortes ocorridas em Pedrinhas. O prazo para que Roseana preste as informações encerra-se nesta segunda-feira (6).

A governadora do Maranhão deverá apresentar que providências foram tomadas contra a onda de mortes no Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

Segundo o CNJ, o procurador-geral espera as respostas do Estado para decidir sobre possível pedido de intervenção federal no sistema carcerário maranhense. Janot também deve analisar a situação de Pedrinhas com o relatório entregue no dia 27 pelo juiz Douglas de Melo Martins, coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas.