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Análise de fragmentos deve indicar origem de bomba que feriu câmera da Band

Do UOL, no Rio

07/02/2014 11h40

A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar a origem do artefato explosivo que feriu o cinegrafista da "Band" Santiago Ilídio Andrade durante uma manifestação contra o aumento da passagem de ônibus no Rio de Janeiro, na quinta-feira (6), no centro da capital fluminense.

Segundo informações da delegacia de São Cristóvão (17ª DP), responsável pela apuração, a análise de fragmentos deve indicar de onde partiu a bomba, isto é, se ela foi lançada ou por policiais militares ou por manifestantes. O primeiro passo é identificar o tipo de material por meio da perícia de vestígios que possam ser encontrados nas roupas que o cinegrafista vestia no momento do fato.

Peritos do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) também foram ao local da explosão com o objetivo de coletar fragmentos. O trabalho é auxiliado por especialistas do Esquadrão Antibombas.

Ainda de acordo com a 17ª DP, as imagens que mostram o momento em que Andrade foi atingido serão analisadas quadro a quadro, o que deve estabelecer, na versão da Polícia Civil, "a linha de deslocamento" do artefato.

28 detidos e 6 feridos

A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que 28 pessoas foram detidas durante o protesto contra o aumento das passagens, realizada na estação do Central do Brasil e seus arredores. Os manifestantes que receberam voz de prisão foram levados para as delegacias da Lapa (5ª DP), da Cidade Nova (6ª DP), de São Cristóvão (17ª DP) e da Tijuca (19ª DP).

A assessoria da PM informou ainda que dois policiais militares que atuavam no protesto foram feridos a pedradas, porém sem gravidade. Já quatro civis receberam atendimento no hospital municipal Souza Aguiar, no centro, entre os quais o cinegrafista da "Band".

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Santiago Ilídio Andrade está em coma e o estado de saúde é considerado grave. Ainda na noite de quinta-feira, a vítima foi submetida a cirurgia. O cinegrafista perdeu parte da orelha e teve um afundamento de crânio.

A emissora comunicou que espera no hospital, junto à família, os resultados da cirurgia. Não se sabe quem lançou o artefato que atingiu o profissional. A Polícia Civil informou ter aberto um inquérito na 17ª DP para investigar a origem do explosivo.

Confusão

A confusão teve início quando alguns policiais tentaram retirar os manifestantes que pulavam as catracas do local com golpes de cassetetes. Eles revidaram jogando pedras, e começou o confronto. Um repórter do UOL foi agredido enquanto estava parado no local. Quando os PMs se aproximaram, ele levantou as mãos e se identificou como jornalista, mas mesmo assim foi atingido com dois golpes nas pernas. Um repórter da "GloboNews" e fotógrafos de agências de notícias também relataram agressões policiais.

ENTENDA O BLACK BLOC

O "black bloc" ("bloco negro") não é um grupo específico de manifestantes, mas sim uma forma violenta de agir adotada por manifestantes que se dizem anarquistas.

A tática "black bloc" consiste em "causar danos materiais às instituições opressivas". Na prática: depredar estabelecimentos privados --agências bancárias entre eles-- e pichar paredes.

Procurada, a Polícia Militar não se posicionou sobre os fatos referentes ao protesto. Os policiais destacados para o protesto atuaram sem identificação. A corporação também não explicou se houve uma orientação específica a esse respeito.

O confronto assustou os comerciantes locais, que fecharam as portas. A Polícia Militar usou bombas de efeito moral dentro da estação na tentativa de reprimir o protesto. Com a confusão, muitas pessoas passaram mal e desmaiaram no local.

Abraji repudia agressão

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou nota de repúdio à violência contra o cinegrafista. “Se faz necessária uma apuração célere do ocorrido para que procedimentos sejam revistos e para que o Estado proteja a liberdade de expressão, a liberdade de informação e o jornalista”, diz o texto.

A associação registrou que é o terceiro caso de agressão a jornalistas em 2014. Em 2013, 114 profissionais da área foram feridos em todo o país enquanto cobriam protestos, diz a Abraji.

Aumento das tarifas motivam protestos

O valor da passagem vai subir de R$ 2,75 para R$ 3 a partir de sábado (8). O aumento das tarifas foi o mote dos protestos de junho do ano passado, que contagiaram o país com esta e outras demandas. Naquele momento, Rio e São Paulo voltaram atrás e reduziram os valores das passagens.