Tem que correr atrás dos seus objetivos, diz gari que dança na Sapucaí
Internacionalmente famoso pelo samba no pé e sorriso largo enquanto limpa a Marquês de Sapucaí todos os anos durante o Carnaval, o gari Renato Sorriso não aderiu à greve da categoria, iniciada no último sábado (1). Mesmo assim, o passista disse em entrevista ao UOL que defende o direito dos amigos à paralisação por melhores salários e condições de trabalho. Sorriso trabalha há 18 anos na Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) e compareceu na manhã desta quinta-feira (6) à assembleia da categoria para decidir os rumos da greve.
Pessoas registram acúmulo de lixo
Cariocas reclamam de descaso
“Eu sou totalmente a favor de cada um correr atrás dos seus objetivos. Mas eu estou batendo o meu ponto certinho. Trabalhei no Carnaval durante os desfiles na Sapucaí e também varri algumas ruas na Tijuca, como de costume”, conta o ex-catador de latinhas que, depois da fama, já conheceu seis países e foi um dos destaques da comitiva brasileira no encerramento das Olimpíadas de Londres, em agosto passado, ao lado de Pelé. “Preferi não fazer greve.”
O que Sorriso condena no movimento iniciado no sábado de Carnaval são as brigas e até agressão física entre grevistas e não grevistas. “O que eu não gosto de ver é a violência entre colegas, e isso está acontecendo. Eu vi amigos meus na delegacia. Por isso, nesta quinta, quando eu for trabalhar, vou conversar com o maior número possível de garis que eu conseguir”, afirmou. “Violência, não. Somos todos chefes de família. Não tem essa de ficar brigando, se batendo por aí.”
Na quarta (5), quatro garis que aderiram à greve da categoria foram presos acusados de ameaçar colegas que estavam trabalhando. Eles foram autuados por atentado contra a liberdade do trabalho, crime previsto pelo artigo 197 do Código Penal.
As três primeiras prisões foram feitas em Ipanema (zona sul), quando garis foram impedidos de limpar a orla. O quarto caso aconteceu em Campo Grande (zona oeste da capital fluminense). Lá, o gerente da Comlurb identificado como Everaldo dos Santos Vargas contou ter sido agredido com um soco no rosto quando saía para trabalhar com sua equipe.
Questionado se concordava com as reivindicações dos colegas --piso salarial de R$ 1.200, pagamento de 100% de horas extras aos domingos e feriados, além de plano odontológico e aumento do vale-alimentação de R$ 12 para R$ 20--, Sorriso desconversou e disse que recorre a eventos para complementar sua renda.
“Não quero falar nem criar polêmica sobre salário. Eu faço eventos no intervalo em que não estou na Comlurb. Geralmente trabalho das 6h às 14h varrendo ruas, depois disso o meu tempo é livre”, conta ele, que mora em um imóvel alugado em Tomás Coelho (zona norte da capital fluminense) com a mulher e três filhos. “Faço vários biscates, estou montando uma equipe de som para festas e também trabalho nos eventos que sou convidado. A gente se vira como pode, tem que correr por fora.”
O gari mais famoso do país também participa de campanhas da própria Comlurb sobre conscientização dos moradores de comunidades para não descartar lixo em áreas irregulares. “A companhia me apoia em todos os eventos que eu faço, não pretendo deixar a Comlurb nunca. Vou ser gari para sempre.”
Os garis exigem aumento salarial, pagamento de horas extras e reajuste do auxílio refeição, entre outras reivindicações. Pelo acordo coletivo anunciado na segunda-feira, os garis terão 9% de aumento salarial (o piso passará para R$ 874,79), mais 40% de adicional de insalubridade. Segundo a Comlurb, com isso, o vencimento inicial passará a ser de R$ 1.224,70. Além do aumento salarial, o acordo garantiu mais 1,68% dentro do Plano de Cargos, Carreiras e Salários, com progressão horizontal. Os garis, no entanto, consideram a proposta insatisfatória.
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