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Praça é encoberta por montanha de lixo em comunidade da zona oeste do Rio

Maria Luisa de Melo

Do UOL, no Rio

08/03/2014 09h36

O trabalho constante de um grupo de pelo menos seis garis que não aderiu à greve, aliados a quatro caminhões de lixo e uma retroescavadeira tem sido insuficientes para devolver a verdadeira identidade da praça Professor Darcy Ribeiro, na favela do Rio das Pedras, em Jacarepaguá (zona oeste da capital fluminense). Uma montanha de lixo que se acumulou com a greve dos garis na última semana causa transtornos a comerciantes e moradores da região, que veem ratos e baratas da “praça do lixo” como as principais ameaças do dia a dia.

Há pouco mais de uma semana, antes da greve dos garis começar, moradores contam que no centro da praça funcionava um brechó, dentro de um pequeno trailer. Apesar de o equipamento ainda estar ali, o proprietário não teve como se aproximar. Um raio de cerca de quatro metros de lixo se formou em volta do trailer, impedindo qualquer um de chegar mais perto.

No entorno, comerciantes reclamam de prejuízos. A funcionária de uma peixaria que fica em frente à praça conta que moscas e ratos estão afastando a clientela. Mais adiante, funcionárias de um hortifruti usam a gola do uniforme para tampar o nariz do mau cheiro intermitente.

“Essa praça já era conhecida como praça do lixo antes da greve dos garis, porque tem várias caçambas para os moradores jogarem o lixo doméstico. Mas com a diminuição da coleta, o lixo foi só acumulando. Nunca vi uma montanha de lixo tão grande capaz de fechar duas ruas”, conta Rosana Lopes, vendedora de uma peixaria da região há cinco anos. “Nossas vendas caíram bastante. Mas o que me amedronta mais até agora é o risco de contrair doenças. Os ratos e as baratas chegam a subir nas paredes”.

Operadora de caixa de um hortifruti vizinho à praça do lixo, Claudia Maria diz que está torcendo para que a greve dos garis tenha fim. “No final de um dia de trabalho, eu sinto nojo de mim”, conta a funcionária. “Fico pensando na quantidade de bactérias que eu levo para dentro da minha casa. Mas, infelizmente, não tem jeito. Eu tenho que trabalhar e o meu emprego fica em frente a um verdadeiro lixão. Não vejo a hora de o prefeito dar o aumento salarial que os garis pedem e eles voltarem ao trabalho logo. Por enquanto, só uma parte está trabalhando e isso faz com que o lixo não pare de acumular”.

Pessoas registram acúmulo de lixo em meio a greve de garis no Rio

Também vizinha da praça do lixo, a cozinheira Irene de Almeida, 45, diz que está mantendo as janelas de casa fechadas desde o último domingo (2). “Essa praça sempre recebeu lixo, tinha caçambas para isso. Mas com menos garis nas ruas, a coisa chegou num ponto que não tem como piorar. A praça virou um lixão. E nós, moradores, viramos refém de bichos, doença e mau cheiro”, reclama.

Em greve desde o último sábado (1°), os garis da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) participaram de nova manifestação nesta sexta-feira (7).  Uma audiência de conciliação entre a companhia, sindicato e funcionários foi marcada para a próxima terça-feira (11), às 15h, no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Os garis exigem aumento salarial, pagamento de horas extras e reajuste do auxílio refeição, entre outras reivindicações. Pelo acordo coletivo anunciado na segunda-feira (3), os garis terão 9% de aumento salarial (o piso passará de R$ 802 para R$ 874), mais 40% de adicional de insalubridade.

Segundo a Comlurb, com isso, o vencimento inicial passará a ser de R$ 1.224,70. Além do aumento salarial, o acordo garantiu mais 1,68% dentro do Plano de Cargos, Carreiras e Salários, com progressão horizontal. Os garis, no entanto, consideram a proposta insatisfatória, já que pedem um piso salarial de R$ 1.200.