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Ratos viraram animais de estimação, diz moradora de comunidade no Rio

Maria Luisa de Melo

Do UOL, no Rio

08/03/2014 09h37

No oitavo dia de greve dos garis da cidade do Rio de Janeiro, a comunidade de Rio das Pedras, em Jacarepaguá (zona oeste da capital fluminense), vive um de seus piores momentos, segundo moradores da região. Com a coleta de lixo prejudicada, as sacolas com restos de comida, papéis e embalagens tomaram conta das ruas da favela. Há dificuldade para transitar nas vias principais, que estão totalmente tomadas por sujeira.

Moradora da comunidade há 15 anos, Meiri Cunha, 44, proibiu os três netos de consumirem qualquer alimento comprado nas redondezas. "Não se compra mais carne, pão nem legumes aqui no Rio das Pedras. Meus netos não comem nada comprado nem preparado aqui. Neste final de semana, estou levando todos para outro lugar, porque até o ar daqui está podre. Já vi vermes, ratos e baratas no chão. Nojento demais. Não dá para continuar por aqui até que esse lixo seja todo recolhido", diz.

Mãe de um bebê de três meses, a dona de casa Jessica Sales, 22, reclama da quantidade de moscas e teme a proliferação de doenças. "Isto aqui virou um caso de calamidade pública. É um total abandono. Se para mim é ruim, imagine para o meu bebê. Mesmo com todo o cuidado que tenho, ele pode adquirir micoses e até doenças respiratórias", alerta a mãe do pequeno José Miguel.

Os problemas de saúde temidos por Jessica já estão sendo sentidos pela filha de Marcela de Souza. Moradora da comunidade desde que nasceu, Marcela, 28, conta que a filha tem feito nebulização constantemente para aliviar crises alérgicas.

"Ratos e baratas já viraram animais de estimação diante de tanta imundície. Os ratos não se assustam mais comigo, nem eu com eles. Infelizmente, já estamos íntimos. As caçambas da Comlurb não dão mais vazão para a quantidade de lixo descartado durante esta greve. Vai demorar muito para essa situação melhorar", reclama, apontando para uma montanha de lixo formada na rua onde mora. "Minha filha vive à base de nebulização, porque tem crises alérgicas graves. A situação está ainda pior com esse lixo acumulado. Tenho a impressão de que o ar fica contaminado e isso me assusta muito, porque não há nada que eu possa fazer".

Com greve de garis, cariocas veem descaso do poder público

Motorista da região há 14 anos, Arilson Martins, 44, conta que nunca tinha visto uma situação tão degradante. "Ratos e baratas passaram a fazer parte da minha rotina nesta semana. Já dirigi ônibus em vários bairros das zonas oeste, sul e norte. Nunca tinha visto tanta sujeira. Algo tem que ser feito o mais depressa possível. Os garis até passaram por aqui hoje, mas eles não estão dando conta. Talvez porque estejam em pequeno número", atenta.

Nas principais vias da região, como rua Nova, avenida Engenheiro Souza Filho e Estrada de Jacarepaguá, os pedestres tentam desviar das montanhas de lixo formadas nas esquinas. Alguns se aventuram na beira da estrada.
A reportagem do UOL esteve na comunidade nesta sexta-feira (7) e viu uma equipe com quatro caminhões e uma retroescavadeira que fazia o recolhimento de lixo na favela.

Em greve desde o último sábado (1°), os garis da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) participaram de nova manifestação ontem. Uma audiência de conciliação entre a companhia, sindicato e funcionários foi marcada para a próxima terça-feira (11), às 15h, no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Os garis exigem aumento salarial, pagamento de horas extras e reajuste do auxílio refeição, entre outras reivindicações. Pelo acordo coletivo anunciado na segunda-feira (3), os garis terão 9% de aumento salarial (o piso passará de R$ 802 para R$ 874), mais 40% de adicional de insalubridade. Segundo a Comlurb, com isso, o vencimento inicial passará a ser de R$ 1.224,70. Além do aumento salarial, o acordo garantiu mais 1,68% dentro do Plano de Cargos, Carreiras e Salários, com progressão horizontal. Os garis, no entanto, consideram a proposta insatisfatória, já que pedem um piso salarial de R$ 1.200.