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Caso Bernardo: brigas judiciais e disputa por herança alimentam suspeitas

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

16/04/2014 13h30Atualizada em 17/04/2014 01h07

As investigações sobre a morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, avançam ao passo que a história ganha ainda mais elementos bárbaros. Herança e brigas judiciais vêm à tona.

Há quatro anos, a mãe de Bernardo, Odilaine Uglione Boldrini, morreu. As investigações apontaram para suicídio. Depois do ocorrido, uma briga na Justiça foi instaurada entre a avó materna do menino, Jussara Uglione, 73, e o pai, o cirurgião Leandro Boldrini.

A idosa pedia de volta uma série de itens domésticos que teriam sido dados ao casal por ela. Um deles, um relógio de ouro, ainda seria motivo de discussão. Existe também em juízo a disputa por um imóvel que está à venda. Detalhes, porém, não foram revelados pelos policiais.

A polícia acredita que a madrasta, a enfermeira Graciele Ugolini, assassinou o garoto com uma dose letal de analgésico e se livrou do corpo enterrando-o às margens de um rio em Frederico Westphalen, cidade gaúcha vizinha a Três Passos, onde a família morava. A cova tinha formato circular e vertical. A criança foi encontrada de cócoras.

Ela teria sido ajudada pela amiga e assistente social Edelvânia Wirganovicz.

A polícia investiga como as duas mulheres fizeram o buraco, em um terreno difícil, repleto de raízes. Há a possibilidade de que uma máquina tenha sido usada, assim como o auxílio de uma terceira pessoa. Até o momento, o pai do menino é suspeito de atrapalhar as investigações. Seu papel no assassinato e na ocultação do cadáver ainda não está claro para a polícia.

Há uma semana, o pai de Bernardo procurou uma rádio para fazer um pedido de ajuda para encontrar o filho. Chama a atenção, entretanto, que em nenhum momento o pai se dirige à criança como "meu filho". Bernardo é sempre tratado como "o menino" e "que morava com a nossa família". 

Dias antes, em 4 de abril, Graciele foi flagrada dirigindo em alta velocidade na estrada que liga Três Passos a Frederico Westphalen. Ela foi parada por um patrulheiro, que a multou. O soldado da Brigada Militar diz que lembra ter visto Bernardo acordado, no banco de trás.

Horas depois, em posto de gasolina próximo à casa de Edelvânia, as mulheres pediram ajuda para lavar o carro sujo de terra. Bernardo não foi visto junto a elas.

O menino Bernardo foi sepultado na manhã desta quarta-feira no cemitério de Santa Maria, região central do Estado. O enterro foi acompanhado por seus familiares do lado materno.

A avó do garoto, Jussara, não acompanhou à cerimônia. Em estado de choque, ela foi hospitalizada e permanece em observação.

Outro lado

Nesta quarta-feira (16), o pai do garoto se disse inocente e que estaria disposto a lutar para provar que não teve participação no crime, segundo um advogado que assumiu provisoriamente o caso.

O advogado Andrigo Rebelato, 36, é primo de Leandro Boldrini. Os dois se reuniram na prisão para discutir detalhes da defesa. Até a manhã de hoje, Graciele ainda não havia constituído advogado.

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